Agência France-Presse
postado em 30/10/2009 15:50
O Papa Bento XVI se encontrará com o chefe da Igreja Anglicana, o arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, no Vaticano, no dia 21 de novembro, pela primeira vez, desde a abertura da Igreja Católica aos tradicionalistas anglicanos, anunciou nesta sexta-feira a Santa Sé.
[SAIBAMAIS]O encontro será o primeiro entre os dois líderes religiosos desde o anúncio pela Igreja Católica, no dia 20 de outubro, de sua abertura aos anglicanos decepcionados com a própria igreja.
O arcebispo Rowan Williams participará, também, de celebrações organizadas pela Universidade Gregoriana para o 100º aniversário do nascimento do cardeal Johannes Willebrands, pioneiro do ecumenismo católico, morto em 2006.
Em meados de outubro, o Papa Bento XVI havia anunciado uma nova estrutura que torna mais fácil para os anglicanos, inclusive para os sacerdotes casados, voltar para o seio da Igreja Católica, respeitando certas tradições.
O novo decreto papal, anunciado pelo cardeal americano William Joseph Levada, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, permitirá a ordenação de sacerdotes católicos entre os antigos membros do clero anglicano, inclusive os casados, mas a ordenação de bispos anglicanos casados será vetada.
O clero surgido do decreto terá uma liturgia especial.
O cisma anglicano ocorreu em 1534, quando a Igreja da Inglaterra se desligou da Igreja Católica Romana por decisão de Henrique VIII, após a rejeição do Papa Clemente VII a um pedido de anulação do casamento do rei inglês com Catarina de Aragão.
Em 2003, a Igreja Episcopal - nome da Igreja Anglicana nos Estados Unidos - ordenou bispo um homossexual, iniciando a divisão de uma comunidade religiosa que reúne 77 milhões de fieis em todo o mundo.
A divisão se ampliou com a benção do casamento homossexual e com a ordenação de mulheres ao episcopado.
A nova medida, que unifica parte dos movimentos ultraconservadores, foi classificada pelos vaticanistas como uma das "mais ousadas" já tomadas pelo papa alemão, conhecido por suas posições conservadoras.
O arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, o líder espiritual anglicano, comentou que a decisão vaticana não implica "um ato de proselitismo ou agressão", e admitiu que soube do iminente decreto apostólico há algumas semanas.
Williams enfatizou, além disso, que é um sério erro achar que os recentes acontecimentos seriam uma resposta aos problemas internos da comunidade anglicana.
Outros discordam. O vaticanista Vittorio Messori afirma que a Igreja anglicana "foi incapaz de resistir à ideologia hegemônica de correção política, que vai contra a Bíblia", como afirmou ao jornal italiano Il Sole 24 Ore.
"A Igreja anglicana está se fragmentando, mas mesmo que meio milhão de pessoas a abandonem, isso não vai afetar a tendência, que é irreversível", ressaltou.
No entanto, o anúncio papal foi descrito como "um desenvolvimento potencialmente explosivo nas relações anglicana-católicas desde a Reforma", chegou a afirmar o jornal The Times na época.
"Bispos desesperados convidaram Roma a estacionar seu tanques no gramado do Arcebispado", afirma a matéria.
A decisão de Bento XVI foi anunciada, além disso, poucos dias antes de uma reunião crucial com dirigentes do movimento ultraconservador católico lefebvrista, com os quais o Papa tenta há anos a reconciliação depois do cisma de 1988, apesar de alguns de seus líderes questionarem o Holocausto nazista.
"Com esta estrutura jurídica se abre o caminho para a integração de outros grupos, como os lefebvristas e vários movimentos protestantes e ortodoxos", explicou o vaticanista do jornal La Repubblica, Marco Politi.
"Todos os passos que o Vaticano está tomando estão dirigidos para a tradição", enfatizou, por sua parte, Sandro Magister, vaticanista da revista L'Espresso.