Agência France-Presse
postado em 03/11/2009 10:15
CABUL - O presidente Hamid Karzai prometeu nesta terça-feira (3/11) que seu futuro governo se esforçará para erradicar a corrupção e estendeu a mão aos talibãs, no primeiro discurso após o anúncio de sua reeleição como chefe de Estado do Afeganistão.
Karzai, que enfrenta uma crise de legitimidade depois de eleições calamitosas - o primeiro turno foi marcado por fraudes em massa a seu favor e forte abstenção, enquanto o segundo turno foi anulado após a desistência de seu adversário, Abdullah Abdullah -, apresentou as grandes metas de seu programa de governo.
"Vamos tentar levar a paz a todo o país o mais rápido possível. Instamos nossos irmãos talibãs a retornar ao Afeganistão e para isto pedimos a ajuda e a cooperação da comunidade internacional", declarou Karzai em uma entrevista coletiva.
Mas os talibãs rejeitaram imediatamente a proposta de Karzai, que foi chamado de "marionete" do Ocidente. "A anulação do segundo turno da eleição demonstrou que as decisões a respeito do Afeganistão são elaboradas em Washington e Londres antes de ser anunciadas em Cabul", afirma um comunicado dos talibãs divulgados na internet em nome do "Emirado Islâmico no Afeganistão".
"É surpreendente que aqueles que há duas semanas afirmavam que a marionete Hamid Karzai estava envolvido em fraudes em massa e inaceitáveis, agora o elegeram presidente com base nos mesmos votos fraudulentos e que tenham chegado de imediato mensagens de Washington e Londres com felicitações", completa a nota dos talibãs.
Hamid Karzai voltou a destacar a ideia de um governo de união nacional. "A paz será possível quando todos os afegãos estiverem reunidos e falarem com apenas uma voz, trabalhando para reconstruir juntos um governo de união que represente todos os afegão", discursou Karzai, que falou ao lado de seus dois vice-presidentes, o polêmico marechal Mohamad Qasim Fahim e Karim Jalili. A incógnita agora é a reação de Abdullah, que conquistou durante a campanha a posição de principal opositor e pode desempenhar agora um papel político importante.
Sob forte pressão da comunidade internacional, o presidente prometeu lutar contra a corrupção, endêmica no país até as principais esferas do governo. "O Afeganistão tem sido manchado pela corrupção. O governo tem sido manchado pela corrupção. Empregaremos todos os meios necessários para erradicar esta mancha", disse.
O governo afegão é regularmente criticado pela corrupção que o afeta. O presidente americano Barack Obama pediu a Karzai mais esforços na luta contra este mal.
Karzai também comentou as condições de sua reeleição, anunciada na segunda-feira pela comissão eleitoral, após a desistência de Abdullah. "Esperávamos, e teria sido melhor para nosso país, que o doutor Abdullah participasse no segundo turno e que este tivesse acontecido", declarou.
Abdullah, ex-ministro das Relações Exteriores, anunciou no domingo sua desistência, ao explicar que não obteve garantias para que o segundo turno não registrasse fraudes como o primeiro, que teve 25% dos votos anulados.
Apesar das condições pouco legítimas como foi reeleito, o presidente, que assumiu o poder há oito anos com o apoio da comunidade internacional e das tropas estrangeiras que expulsaram os talibãs do poder, recebeu felicitações dos países ocidentais, para os quais continua sendo um interlocutor indispensável, o "dirigente legítimo do país", segundo a Casa Branca.