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Chirac lança memórias em meio a problemas com a justiça

Agência France-Presse
postado em 03/11/2009 11:26
PARIS - Jacques Chirac terá uma semana agitada: na quinta-feira será lançado seu livro de memórias, no qual ajusta contas com seus adversários de direita, dias depois de se tornar o primeiro ex-presidente da França a ter de prestar contas ante a justiça. "Chaque pas doit être un but" (Cada passo deve ser um objetivo, em tradução livre) é o primeiro volume das memórias de Chirac, de 76 anos, nas quais percorre recordações desde sua infância, em Correze, até sua chegada em 1995 ao Palácio do Eliseu, sede da presidência francesa, onde viria a permanecer até 2007. O atual presidente francês, Nicolas Sarkozy - a quem ajudou a dar os primeiros passos na política -, ele classifica de "nervoso, apurado e ávido para agir", segundo trechos publicados pelo jornal Le Parisien. Diz ainda que o ex-presidente Valery Giscard d'Estaing, que em 1981 o culpou por sua derrota para o socialista François Mitterrand, sempre teve por ele um "rancor tenaz e inesgotável". Ele também não poupa o ex-premier Edouard Balladur, seu adversário pela candidatura de direita em 1995, e o chama de "calculista frio". Em compensação, homenageia Georges Pompidou, seu padrinho político, e Mitterrand, seu adversário pela presidência em 1988 e predecessor no cargo, a quem descreve como um "homem de fino julgamento e inteligência tática que poucas vezes encontrou no mundo da política". Em "Chaque pas doit être un but", Chirac não menciona os casos judiciais que salpicaram seus 18 anos à frente da prefeitura de Paris (1977-95). Chirac terá que comparecer ante o Tribunal Correcional de Paris para responder por um caso de empregos fictícios no município de Paris quando era prefeito, um fato inédito para um ex-chefe de Estado na França e um novo escândalo dentro da direita do país. O ex-presidente (1995-2007), que no mesmo caso foi liberado da acusação de falsificação de documento público, segundo assessores, está "sereno e decidido a provar que não houve empregos fictícios", informou a equipe de Chirac. Jacques Chirac, 76 anos, que gozou de 12 anos de imunidade presidencial, protegido portanto de ações judiciais, passou a ser um cidadão comum quando encerrou o mandato em meados de 2007 e o governo passou a seu sucessor, Nicolas Sarkozy. Em 21 de novembro daquele ano foi indiciado por "desvio de fundos públicos" e "abuso de confiança" no caso de "empregos de favor" com salários supostamente pagos indevidamente pelo gabinete do prefeito de Paris, cargo ocupado por Chirac de 1977 a 1995. Chirac apareceu em vários casos judiciais, mas o dos "empregos de favor", ou "encarregados de missão", é o primeiro pelo qual foi indiciado. Ele pode ser condenado a 10 anos de prisão e a pagar multa de 150.000 euros (220.000 dólares). Outra investigação sobre "empregos de favor" para pessoas ligadas ao partido do ex-presidente, Reagrupamento para a República (RPR), que também ameaça Chirac, que neste caso se beneficiou da condição de testemunha assistida, segue curso no tribunal de Nanterre.

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