há exatamente um ano, Barack Obama sentiu na pele a pressão de ser avaliado nas urnas por mais de 130 milhões de eleitores. A vitória em 4 de novembro de 2008, que o levou à Casa Branca, deu início a uma série de ;testes; periódicos de sua eficiência como presidente. O mais importante ocorreu ontem, com eleições para governadores, legisladores e prefeitos em várias regiões dos Estados Unidos. Os resultados servirão como termômetro da satisfação dos cidadãos com o governo Obama, cuja aprovação caiu abaixo dos 50% em pesquisas recentes.
[SAIBAMAIS]As disputas que mais atraíram a atenção ; e os esforços ; da Casa Branca foram para os governos de Nova Jersey e da Virgínia. No primeiro estado, a disputa foi acirrada entre o atual titular, o democrata Jon Corzine, e o republicano Christopher Christie. Na Virgínia, com as últimas sondagens apontando o candidato democrata em desvantagem de 10 pontos, o presidente enviou a mais de 300 mil eleitores uma carta pedindo votos para o senador estadual Creigh Deeds.
;Cada uma dessas eleições é um referendo local sobre o governo. E isso se deve em grande parte ao governo, que transformou as disputas em um teste da influência de Obama como presidente;, destaca o cientista político William B. Allen, da Michigan State University. Para Frank Baumgartner, professor da Universidade da Carolina do Norte, é inevitável que eleições locais sejam interpretadas como uma avaliação do governo central, mas é necessário entender as sutilezas dessa ;conexão;. ;É preciso olhar a participação dos eleitores e compará-la ao pleito presidencial de 2008. Muitas pessoas que saíram de casa para votar em Obama não votarão para governador. Então, não é interessante que essas eleições sejam tratadas como um referendo;, pondera Baumgartner.
O professor John Pitney, do Claremont McKenna College, acredita que os resultados não devem ser analisados pela ótica nacional, uma vez que a população votará com base nas questões locais e nos candidatos, ;com Obama representando apenas um pano de fundo;. ;Uma derrota certamente seria um revés para o presidente, pois aumentaria a moral dos republicanos. Mas não haverá nenhuma mudança significativa no cenário nacional;, observa. Allen, por sua vez, prevê que ;a queda de popularidade de Obama receberá uma grande parcela da culpa; por resultados ruins em qualquer um dos pleitos.
O desafio maior, contudo, virá em 2010, quando os norte-americanos voltarão às urnas para trocar um terço do Senado, toda a Câmara de Deputados e mais de dois terços dos governadores. Obama terá aproximadamente um ano para reconquistar o entusiasmo e a confiança da população, a fim de manter a maioria democrata nas duas casas do Congresso.
Difícil mudança
Apesar de Obama ter iniciado o mandato, em janeiro, com ações enérgicas, como a decisão de fechar a prisão para suspeitos de terrorismo em Guantánamo (Cuba), a proibição das torturas e o plano de retirada do Iraque, seu governo se viu freado pela insatisfação popular em questões colocadas como prioritárias pelo presidente, como a reforma do sistema de saúde e o diálogo sobre mudanças climáticas. ;A queda na popularidade de Obama resulta da falta de apoio para muitas das iniciativas políticas. Hoje, 40% da população já se declara conservadora, contra apenas 20% que se diz liberal;, observa Allen.
Para Baumgartner, o presidente precisa agora se debruçar sobre os projetos que têm mais possibilidade de serem concluídos nos quatro anos de mandato. ;Acredito que a aprovação dele vai aumentar quando conseguir passar a reforma da saúde, o que deve ocorrer antes das férias. No entanto, o persistente problema do desemprego e o ritmo lento da recuperação econômica vão continuar atrapalhando seu desempenho nas pesquisas.;
; Time de celebridades
Uma das atrizes mais badaladas da atualidade deverá, em breve, fazer parte do governo de Barack Obama. Sarah Jessica Parker, protagonista da série Sex and the city, integrará o Comitê de Artes e Humanidades, um painel de discussões sobre temas ligados à área da cultura, segundo anunciou o próprio presidente ontem. Junto com Sarah estará o ator Forest Whitaker, que ganhou o Oscar de melhor intérprete pelo filme O último rei da Escócia. Os dois já aceitaram o convite, que também foi feito aos atores Edward Norton ; que produziu um documentário sobre Obama durante a campanha à Casa Branca ; e Alfre Woodard, conhecida por sua atuação na série Desperate housewives. A presidenta honorária do comitê é a primeira-dama, Michelle Obama, que terá como assessores diretos o produtor de cinema George Stevens Jr. e a produtora teatral Margo Lion.
; Congresso ouve Merkel
;Nós, alemães, sabemos o quanto devemos a vocês, nossos amigos norte-americanos. E nunca esqueceremos, pessoalmente nunca esquecerei;, afirmou ontem a primeira-ministra alemã, Angela Merkel, em um comovido agradecimento aos Estados Unidos pelo apoio dado à Alemanha dividida durante a Guerra Fria e na revolução pacífica que culminou com a queda do Muro de Berlim, que completa 20 anos no próximo dia 9. Merkel discursou em sessão solene que reuniu ambas as casas do Congresso norte-americano. Ela homenageou as vítimas do nazismo, em especial os judeus vítimas do Holcausto. Antes, a premiê alemã tinha se reunido na Casa Branca com Barack Obama.
O presidente dos EUA recordou que a queda do muro, seguida pela reunificação da Alemanha, representou ;um momento particular para Merkel, que cresceu na Alemanha Oriental e entende o que é a vida sob um regime ditatorial;. Em seu discurso perante o Congresso, a líder alemã lembrou que 9 de novembro é também a data da Noite dos Cristais, em 1938, marco inicial da perseguição sistemática aos judeus sob a ditadura de Adolf Hitler. ;Nessa noite, os nazistas pilharam e destruíram sinagogas, as incendiaram e mataram inúmeras vítimas. Foi o início daquilo que se tornaria o rompimento com a civilização;, lembrou Merkel. ;Não posso estar aqui diante de vocês sem prestar uma homenagem às vítimas desse dia;, constatou a premiê.
Falar diante dos senadores e deputados norte-americanos é uma honra concedida a pouquíssimos dirigentes estrangeiros, mesmo entre os aliados mais firmes. Angela Merkel é a primeira governante alemã a ter essa chance desde 1957, quando o premiê Konrad Adenauer discursou em Washington, mas apenas para o Senado.
Reunião com Obama
A atual chefe de governo está nos EUA desde a noite de segunda-feira e se reuniu com Obama na manhã de ontem. Os dois conversaram principalmente sobre a guerra no Afeganistão, o impasse nuclear com o Irã e as alterações climáticas, tema da conferência internacional que as Nações Unidas promoverão em Copenhague, entre 7 e 18 de dezembro.
Obama elogiou a ;extraordinária liderança; de Merkel na questão ambiental e reafirmou que a Alemanha é um aliado ;forte e extraordinário; de Washington. Quanto aos temas de economia e proliferação de armas nucleares, o presidente garantiu que sempre viu na colega uma dirigente ;reflexiva e enérgica, com uma visão vigorosa sobre a maneira de procedermos no futuro;.
; Leia mais: as eleições de ontem nos EUA
As disputas de ontem
Confira as principais votações ocorridas em estados norte-americanos. Os resultados das três primeiras são os que mais podem pesar para Obama.
Virgínia
Governador
Às vésperas do pleito, o republicano Robert McDonnell estava com 55% das intenções de voto, contra 44% do democrata Creigh Deeds.
Nova Jersey
Governador
Aqui a disputa se encontrava mais acirrada, com um empate técnico entre o governador democrata Jon Corzine e Christopher Christie, do Partido Republicano.
Nova York
Prefeito de Nova York
O republicano Michael Bloomberg, que disputa o terceiro mandato, liderava, na véspera, com 12 pontos de vantagem em relação ao democrata William Thompson.
Câmara dos Deputados (pelo 23; distrito, no norte do estado)
O ultraconservador Douglas Hoffman concorreu com o democrata Bill Owens.
Georgia
Prefeito de Atlanta
Em Atlanta, a disputa não era partidária, mas estava fortemente influenciada por tensões raciais, uma vez que Mary Norwood, que liderava a disputa, é branca, e os outros dois candidatos, Kasim Reed e Lisa Borders, negros
Massachusetts
Prefeito de Boston
A expectativa era de que o prefeito Thomas Menino, que disputava um quinto mandato com Michael Ftlaherty, em uma eleição não-partidária, vencesse.
Washington
Prefeito de Seattle
O candidato mais conservador Joe Mallahan liderava as pesquisas contra Michael McGinn.
Maine
Referendo para saber se a população aceita ou não o casamento homossexual.