Mundo

Após 20 anos da queda do Muro de Berlim, antigos países socialistas ainda se adaptam ao capitalismo

postado em 07/11/2009 16:02
Quando o Muro de Berlim caiu em 9 de novembro de 1989, o socialismo já não tinha qualquer apelo entre os jovens dos países do Leste Europeu. O desenvolvimento tecnológico e o estilo de vida de consumo do Ocidente exerciam forte influência sobre os %u201Cfilhos do Muro%u201D %u2013 uma geração de jovens nascidos depois de 1961. %u201CO poder do consumo é muito forte. Não adianta tentar sensibilizar o jovem dizendo que a pobreza havia sido erradicada, todos seriam alfabetizados, não havia mendicância e idosos abandonados. Esse discurso não sensibiliza quem já nasce com isso%u201D, diz Virgílio Arraes, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB). A partir da queda do muro, cada uma das economias planejadas do bloco socialista abraçou o modelo capitalista sob forma de democracias neoliberais. Este fenômeno se espalhou pelo Leste Europeu a partir de 1989 resultando na completa desintegração da União Soviética dois anos depois. Foi o caminho contrário da China, que manteve o regime político fechado e adotou uma política econômica agressiva no plano internacional. O Leste Europeu foi uma das regiões que mais sofreu os impactos da crise internacional de 2008. Nessa semana, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou que a economia russa deve ter uma queda de 7,5% neste ano, um número bem pior que a média mundial (-1,1%), Estados Unidos (-2,7%) e Brasil (-0,7%). O que mais afeta a região é a dependência de dinheiro no mercado internacional. Arraes nota que os ex-socialistas acreditaram no canto da sereia do mercado: %u201CO Ocidente apresentou uma proposta miraculosa. Se houvesse adesão irrestrita às normas do mercado, com privatizações e redução do papel do Estado, as economias voltariam a crescer rapidamente%u201D. No entanto, concluída a conversão à economia de mercado, cidadãos dos antigos países socialistas passaram a conviver com facetas do novo sistema que desconheciam. Aparaceram mendicância, abandono de crianças e idosos, prostituição maciça, contrabando, tráfico e corrupção em larga escala. %u201CO que se viu foram pequenos segmentos sendo extremamente beneficiados e a maior parte da população estagnada ou até regredindo do ponto de vista social%u201D, assinala Arraes. %u201CFormou-se uma elite europeizada, uma classe média alta com acesso a tecnologia. Mas uma parte da população migrou para outros países para escapar da miséria.%u201D Uma das questões mais complicadas tem sido incorporar a população e os países do Leste Europeu ao restante do continente. A antiga República Democrática Alemã (RDA) ainda pesa no bolso dos contribuintes alemães. %u201CA reunificação das Alemanhas foi muito festejada. Mas a maioria da população não percebeu o tamanho do desafio econômico%u201D, diz o diplomata Holger Klitzing, que trabalha na Embaixada da Alemão em Brasília. Arraes, da UnB, avalia que a União Européia não terá condições de ajudar os países do Leste, como fez com Espanha, Portugal e Grécia. Para ele, o nível de vida na Polônia, na antiga Checoslováquia (hoje dividida em dois países) e na Hungria é melhor, uma vez que possuíam setores industriais mais avançados do que a ex-União Soviética. %u201CA competição ideológica possibilitou a consolidação de um sistema social muito forte na Europa. Com a queda do Muro, isso desaparece%u201D, afirma Arraes. %u201CDireitos sociais passaram a ser vistos como privilégios. A ausência de opções políticas e econômicas viáveis faz com que não haja uma tentativa de se amenizar os efeitos mais deletérios do neoliberalismo."

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação