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Privilégios para deputados iraquianos provocam indignação na população

Agência France-Presse
postado em 07/11/2009 16:36
Carros blindados, salários altíssimos, passaportes diplomáticos para a família e vantagens imobiliárias: deputados iraquianos de todas as tendências, nacionalidades e religiões, se concederam privilégios secretos que provocaram indignação no país. "Durante um mês e meio, os deputados votaram secretamente um texto que lhes concedem, por dez anos após o fim do seu mandato, remuneração igual a 80% do seu salário como deputado, um passaporte diplomático para si e suas famílias, e um terreno de 600m2 no local de sua escolha", disse à AFP o deputado Ibaha al-Araki, líder da Comissão de Direito. De acordo com este membro do movimento líder radical xiita Moqtada Sadr, os deputados recebem U$ 25.500, entre salário e benefícios para suas despesas administrativas e de segurança. O salário médio iraquiano é de cerca de U$ 500, cerca de 860 reais. Esses políticos também têm direito a 30 seguranças, mas, de acordo com uma fonte do Congresso, normalmente empregam apenas uma parte e mesmo assim membros da própria família, "Eu me oponho a esses privilégios, porque os deputados não precisam de terrenos ou de um passaporte diplomático", disse à AFP Araji, dizendo que votou contra a lei. Os deputados também conseguiram não ter que pagar um empréstimo de 70 milhões de dinares (U$ 60.000) feito em 2006, no auge dos confrontos religiosos, para pagar carros blindados. Estes privilégios foram considerados tão ultrajantes que o Conselho presidencial destacou não ter ratificado essa decisão. Nos termos da Constituição, este órgão composto pelo chefe de Estado e dois vice-presidentes deve aprovar leis criadas pelo Parlamento para que possam permanecer em vigor. No entanto, se os deputados votam em terceira leitura com maioria de três quintos, o que ocorreu no caso, não é necessário o acordo com o Conselho Presidencial. Representantes religiosos do país aproveitaram o sermão de sexta-feira para atacar os políticos. "Nos perguntamos sobre os membros do Parlamento que recebem bons salários e votam por unanimidade leis que servem aos seus interesses pessoais", exclamava um religioso da cidade xiita sagrada de Najaf (centro). "Por que não há unanimidade semelhante para uma lei eleitoral que se arrasta entre o Conselho de Segurança Nacional e o Parlamento?", perguntou. A votação de uma lei necessária para se realizar eleições legislativas em 16 de janeiro de 2010 tem sido reiteradamente rejeitada porque os deputados não chegam a acordo sobre a questão da cidade petrolífera de Kirkuk (norte). O Imã sadrista Souheil al-Iqabi foi ainda mais crítico em seu sermão em Sadr City, um bairro pobre de Bagdá: "O futuro do Iraque está nas mãos de políticos que não fazem nada", disse. A internet se tornou um meio onde manifestantes expressam seu desagrado com a política do país. "Amanhã vão levar as malas para escapar das águas pútridas do Iraque, para ir e desfrutar da riqueza acumulada em detrimento dos iraquianos", observou um comentário on-line. "O país é esse onde todo mundo rouba, do ministro ao religioso, passando pelo chefe tribal, professor, médico? Que país é esse incapaz de produzir pessoas honradas?", se perguntava o mesmo internauta.

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