Agência France-Presse
postado em 07/11/2009 16:47
Margot Honecker, ex-dama de ferro da República Democrática Alemã (RDA) e viúva do ex-líder alemão Erich Honecker, leva uma vida aprazível e discreta no Chile, onde vive há 17 anos, com uma rotina que inclui ir à pé ao supermercado e visitar sua filha.
Rodeada por um pequeno círculo íntimo, integrado por líderes comunistas e ex-refugiados chilenos que foram para a RDA na época do ditador Augusto Pinochet, e com a saúde tratada pelo mesmo médico que atende a presidente Michelle Bachelet, Honecker, de 82 anos, evita as opiniões políticas e os atos públicos.
Na do condomínio La Reina, em um elegante bairro de Santiago cercado de árvores e muros altos, Margot vive com o neto, Roberto. O recepcionista do condomínio tem a orientação de avisá-la caso veja um jornalista rondando o local.
Uma recente reportagem da revista chilena Qué Pasa revelou que a ex-ministra da Educação da RDA lê muito, caminha, acompanha as notícias através da internet e tem uma grande nostalgia do regime comunista - daquele que havia antes da queda do Muro de Berlim, há 20 anos.
Segundo a revista, no dia 7 de outubro Margot participou da celebração, em Santiago, dos 60 anos de criação da RDA, organizada por um grupo de chilenos perseguidos pela ditadura de Pinochet e que se exilaram em Berlim.
Na reunião, ela leu um manifesto reivindicando as boas ações do governo de seu marido.
"Neste momento, existe na Alemanha uma enorme campanha contra a RDA socialista; não existe nenhum programa de televisão, nenhum filme, nenhum noticiário onde não se enlameie com afinco a RDA, mas sem resultado", disse Margot na ocasião.
"Hoje, há muitos jovens que refletem e dizem: devemos construir outra sociedade, como foi naquele tempo", acrescentou.
"Ela vive tranquila e quer continuar vivendo tranquila. Não quer aparecer nos jornais, na imprensa, nada", indicou à AFP Luis Corvalán, ex-secretário-geral do Partido Comunista chileno e grande amigo de Margot.
Tentando romper seu isolamento, jornalistas da rede pública alemã de televisão ARD a esperaram durante dias do lado de fora de sua casa, e conseguiram fazê-la romper o silêncio político habitual ao perguntar à ex-dama de ferro se ela acredita na volta do socialismo. "Sim, voltará, e por quê não na Alemanha?", respondeu.
A RDA foi estabelecida em 1949 no território ocupado pela União Soviética na Alemanha após o fim da Segunda Guerra Mundial. Este mês, comemoram-se os 20 anos da queda do Muro de Berlim, eventou considerado marco simbólico do fim do bloco socialista.
Durante a ditadura de Pinochet, a RDA serviu de exílio para milhares de refugiados chilenos - entre eles a própria Bachelet.
Segundo a imprensa local, Margot viaja todos os anos para Cuba, onde passa um mês fazendo exames médicos em um centro assistencial para estrangeiros financiado pelo regime de Raúl Castro.
Depois da queda do muro e de uma passagem pela Rússia, Margot foi para o Chile em 1992 acompanhada da filha Sonja, que era casada com o chileno Leonardo Yáñez.
Erich Honecker chegou ao país um ano mais tarde, depois de ser liberado do julgamento na Alemanha por motivos de saúde. Faleceu em consequência de um câncer em 29 de maio de 1994 na capital chilena.