Agência France-Presse
postado em 10/11/2009 18:03
O direito ao aborto, defendido pelo presidente Barack Obama, recebeu um duro golpe nos Estados Unidos depois da votação na Câmara dos Representantes de uma emenda que restringe o acesso à interrupção da gravidez na rede pública de saúde; associações feministas acusam o governo de traição.
[SAIBAMAIS]Os parlamentares americanos "empurraram as mulheres para debaixo do trem", ao votar a emenda que proíbe o uso do fundo com recursos públicos do seguro-doença - que será criado se a reforma da saúde for aprovada - na realização de abortos, escreveu em seu site a feminista Liza Sabater, ex-professora da Universidade Rutgers.
A reforma do sistema de saúde promovida pelo presidente Obama foi aprovada por 220 votos a 215 na noite de sábado na Câmara dos Representantes, mas o texto ainda precisa passar pelo Senado.
Um representante republicano votou a favor do plano, mas 39 representantes democratas votaram contra.
E, para conseguir a adesão dos democratas que são contra o aborto, o governo precisou adotar uma emenda de último minuto por 240 votos (dos quais 64 democratas) a 194. Ela proíbe ao futuro seguro de saúde americano reembolsar os custos de uma cirurgia de interrupção voluntária de gravidez, salvo em caso de estupro, incesto ou quando a vida da mãe estiver em risco.
A emenda também proíbe o Estado de financiar políticas de planos privados que cubram a realização de abortos.
A votação desta emenda também foi interpretada pelos defensores do direito ao aborto como uma traição de Barack Obama.
"Tínhamos o candidato mais favorável à livre escolha em décadas, mas não temos um presidente a favor da livre escolha", disse Terry O'Neill, presidente da grande associação feminista National Organization of Women (NOW).
Em um país onde os honorários médicos são, de longe, os mais caros do mundo, a emenda "é um gigantesco passo para trás que tornará o aborto totalmente inacessível para todas nós", destacou O'Neill.
"Queremos que o Senado elimine a emenda, e se não o fizer, vamos pressionar o presidente para que não a assine. Eles deveriam estar mais preocupados em aprovar uma lei que dá às mulheres uma cobertura de saúde parcial que, por injuriar a Igreja Católica", contraria o aborto, indicou.
O senador independente Bernie Sanders declarou que "é duro imaginar que com um presidente democrata e um Congresso democrata daremos um grande passo para trás em uma luta iniciada pelas mulheres há décadas".