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Lula e Shimon Peres discutem a paz no Oriente Médio

postado em 12/11/2009 08:00
As diferenças entre os governos brasileiro e israelense em torno do processo de paz no Oriente Médio ; e até em relação ao Irã ; parecem ter sido amenizadas no primeiro encontro bilateral entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Shimon Peres. Na coletiva de imprensa concedida após a reunião, os dois líderes concordaram sobre a importância de retomar as negociações de paz entre israelenses e palestinos e trocaram elogios. Mesmo quando Peres reiterou a posição de seu governo sobre os assentamentos em territórios palestinos, e Lula defendeu o convite feito ao presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, para visitar o Brasil no próximo dia 23, o clima foi bem diferente da tensão que transpareceu durante a visita do chanceler Avigdor Lieberman, um ultraconservador, há menos de quatro meses.

O presidente de Israel reiterou o convite para que o colega brasileiro vá a seu país em 2010, e revelou ter recebido uma resposta positiva sobre a intenção de Lula de programar a visita, que provavelmente se estenderia aos territórios palestinos ; segundo o próprio Peres. ;Temos prazer em receber a contribuição do Brasil para a paz no Oriente Médio;, disse o líder israelense. Citando seu conhecimento sobre o programa Luz para todos (que visa levar energia elétrica para áreas rurais do Brasil), Peres fez a Lula um pedido capaz de inspirar ironias, no dia seguinte ao apagão que deixou 18 estados brasileiros no escuro: ;Senhor presidente, venha e acenda as luzes do Oriente Médio;.

Antes, o presidente brasileiro já havia declarado que tanto palestinos como israelenses ;podem contar com o Brasil para a construção de uma paz cujas repercussões positivas transcenderão as fronteiras do Oriente Médio, espraiando-se para toda a humanidade;. ;A paz no Oriente Médio é esperança de todos. Os interlocutores estão identificados, as dificuldades são conhecidas e as soluções existem. Mas a paz e a reconciliação somente serão alcançadas pelo diálogo e pela negociação;, disse Lula. Ele, no entanto, lembrou ao colega israelense, a quem se referiu como um ;homem de larga experiência política, ganhador do prêmio Nobel da Paz;, que ;não haverá paz sem concessões políticas;.

O governo israelense está pronto até para uma ;paz imperfeita;, respondeu Peres, mas ele deixou claro que as ;concessões dolorosas; às quais se havia referido na véspera não envolvem mudanças na questão dos assentamentos (1). ;Há centenas de milhares de colonos (judeus) que construíram suas casas e não podem simplesmente ser retirados. Muitos dos que removemos ainda não foram reinstalados, e nós pagamos um preço alto por isso;, afirmou. Ele insistiu nos pontos já negociados com o governo norte-americano, como não permitir a criação de novos assentamentos em território palestino nem financiar novas construções, não confiscar terras e desmantelar as colônias irregulares.

Na avaliação do assessor especial de Lula para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, as considerações de Peres sobre os assentamentos não mostram uma ;regressão; à promessa de concessões feita no dia anterior, em discurso no Senado. ;Se um negociador coloca todas as cartas na mesa, não tem negociação;, ponderou, lembrando que Israel é governado por uma coalizão que inclui até ;figuras da direita religiosa;.

Irã
Questionado pela imprensa israelense, Lula defendeu mais uma vez a decisão de receber o presidente iraniano. ;Você não constrói a paz necessária de ser construída no Oriente Médio se não conversar com todas as forças políticas e religiosas, as que querem paz e as que se opõem;, disse Lula. Segundo ele, se as negociações forem feitas apenas entre ;um clube de amigos em que todos concordam;, a paz ;não será possível nunca;. ;Nós não temos veto a conversar com quem quer que seja, desde que daquela conversa você extraia uma palavra ou apenas uma vírgula que possa contribuir para que a gente possa, definitivamente, construir uma paz duradoura;, argumentou. Peres, por sua vez, limitou-se a dizer que fica ;feliz; com a posição do Brasil de ;repudiar todos os atos de terrorismo;.


1- Papo filosófico
O tema dos assentamentos, que é um ponto de discordância entre os governos israelense e brasileiro, foi abordado de maneira mais ;amena; também em um encontro marcado de última hora com o chanceler Celso Amorim, a pedido do próprio Peres. Amorim, contudo, disse que não fez ;interpelações; ao líder israelense. ;Comentamos de uma maneira geral, dentro do contexto global. Ele é presidente da República, eu sou ministro do Exterior. Quando esteve aqui o chanceler Lieberman, eu falei muito explicitamente sobre o que nós achávamos dos assentamentos;, disse o ministro, que classificou sua conversa com Peres como ;mais filosófica;.

Os dois presidentes conversam no Itamaraty: Lula dá sinais de que aceitará o convite de Peres para visitar Israel em 2010Os acordos

Cooperação triangular
Estabelece as bases para que os dois países se associem para iniciativas em um terceiro, a exemplo das parcerias que o Brasil tem com os EUA e a Europa para promover os biocombustíveis na América Latina e na África, continente que pode ser o primeiro favorecido pela nova associação.

Extradição
Regulamenta a cooperação bilateral na área judicial e permite que cada país possa pedir a repatriação de foragidos capturados no outro. É feita exceção para crimes considerados políticos ou militares ; o que torna possíveis futuras diferenças em casos relacionados, por exemplo, a terrorismo.

Produção cinematográfica
Oficializa a produção conjunta de filmes, do financiamento à distribuição, e define os termos para a proteção de direitos autorais e outros. Cobre também obras produzidas para televisão.


; Abbas chega dia 20

A visita do presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas, ao Brasil foi confirmada pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Abbas desembarcará no país no próximo dia 20, apenas 72 horas antes da chegada do presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad. A vinda ao Brasil ocorre em um momento complicado para o presidente da AP ; ele anunciou que não disputará a reeleição em 2010. Ontem, em seu encontro com Amorim, o presidente israelense, Shimon Peres, disse que ;seria importante; para o processo de paz que Abbas ;ficasse;.

;Eu mesmo perguntei a ele sobre as perspectivas em função do anúncio do Mahmud Abbas, e ele repetiu que o acha uma liderança importante, uma liderança moderada;, disse Amorim, após uma reunião no Brasília Alvorada Hotel, antes do encontro de Peres com Lula. O presidente já havia lamentado a saída de Abbas ; o negociador tido como legítimo do lado palestino por Israel ; e chegou a ligar para o líder da AP, na última semana, para pedir que aceite a retomada do diálogo. Se a decisão de Abbas for mantida, a visita ao Brasil será simbólica.

Apesar de sua posição cada vez mais frágil, Abbas voltou a exigir que Israel acabe com os assentamentos na Cisjordânia como condição para retomar o processo de paz. ;A volta das negociações depende da adesão de Israel aos termos de referência da paz, e isto significa o fim de todas as colônias, incluindo o crescimento natural (dos assentamentos) e Jerusalém;, disse o palestino, durante discurso em Ramallah. Segundo ele, esse é um direito dos palestinos, porque as colônias ;são ilegais;.

Abbas aproveitou o aniversário de cinco anos da morte do ex-líder palestino Yasser Arafat para enviar uma mensagem de conciliação ao grupo radical Hamas, que controla a Faixa de Gaza. ;Aqui está minha mão, preparada para a reconciliação. Vamos nos unir para enfrentar a ocupação israelense. Somos muçulmanos como vocês.; Além das menções ao Hamas, Abbas disse que tomará em breve ;outras decisões; vinculadas a seu anúncio de não concorrer às próximas eleições. (IF)

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