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Entrevista - Bishara Bahbah: "O povo palestino não está feliz com o racha"

postado em 13/11/2009 08:01
Bishara Bahbah, autor de Israel e América Latina: a conexão militar, ex-diretor do Instituto do Oriente Médio da Universidade de Harvard e ex-membro da delegação palestina dos diálogos de paz, fala ao Correio sobre o adiamento das eleições nos territórios palestinos.

Como o senhor vê o adiamento das eleições palestinos, depois que Hamas as proibiu em Gaza?

De um ponto de vista prático, não há modo de garantir que as eleições sejam realizadas em Gaza sem a bênção e a permissão do Hamas. Creio que a recusa do Hamas era uma desculpa para evitar um processo eleitoral deficiente, já que 1 milhão de palestinos em Gaza estariam impedidos de votar. A inexistência de eleições e a ameaça de Abbas não disputar o pleito não vão impedir os Estados Unidos e os israelenses de se mancomunarem contra ele, especialmente em relação ao assunto assentamento. Se Abbas não disputar, então alguém como Marwan Barghuti poderia facilmente vencer as eleições presidenciais, mesmo na prisão israelense. Isso colocaria pressão em Israel pela libertação, criaria um fosso entre Israel e os EUA e forneceria um líder bem menos acomodado do que Abbas. Uma situação de derrota para Israel e EUA.
[SAIBAMAIS]
A Autoridade Palestina está enfrentando a pior crise dos últimos anos?

Sim, a Autoridade Palestina, sob o comando de Mahmud Abbas, emergiu como uma liderança fraca, graças à recusa de Israel em fazer qualquer concessão significativa aos palestinos para reiniciar o processo de paz. O desejo de Abbas de negociar com os israelenses, apesar da continuação da construção dos assentamentos, o cerco a Gaza, a rejeição em mencionar o Relatório Goldstone antes de a Comissão dos Direitos Humanos da ONU fazer sua avaliação o fizeram parecer fraco aos olhos da população e contribuíram com a perda de sua legitimidade.

Existe um risco real de racha permanente entre o Fatah e o Hamas?

Eventualmente, o Hamas e o Fatah têm de reconciliar-se, queiram ou não. O Fatah não pode ter legitimidade nacional sem acesso à Gaza, e o Hamas não pode sobreviver por muito tempo completamente isolado, enquanto o povo em Gaza está faminto e aprisionado. Uma potência estrangeira, com influência o bastante, levaria ambos a um acordo para ao menos manterem as eleições, permitirem a reunificação das forças de segurança e estabelecerem um governo de unidade nacional nos territórios palestinos. O povo palestino não está feliz com o racha, mas eleições e diplomacia, e não armas, é que resolverão a questão. Quanto tempo vai durar? Ninguém sabe.

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