Agência France-Presse
postado em 13/11/2009 12:11
Mais de 60 chefes de Estado e de Governo discutirão a partir da próxima segunda até quarta-feira sobre a imensa tragédia de um bilhão de seres humanos que passam fome, na cúpula organizada pela FAO em Roma, que, no entanto, não contará com a presença de grandes dirigentes do G8.
"O combate à fome pode ser vencido", declarou o diretor da FAO (Organização para a Agricultura e a Alimentação), Jacques Diouf, pedindo ao planeta que aumente a produção agrícola em 70% para poder alimentar os mais de 9 bilhões de habitantes até 2050.
Com o rompimento da barreira do bilhão de famintos este ano, Diouf pediu aos Estados que se comprometam concretamente, em Roma, estabelecendo em 44 bilhões de dólares por ano os investimentos necessários em agricultura, contra os 8 bilhões atuais.
Para mostrar que acabar com a fome não é utopia, a FAO sugere seguir as receitas dos países que conseguiram reduzir o número de pessoas desnutridas desde os anos 90.
Em relatório chamado "Países que vão contra a corrente", ela citou em particular 16 países, entre os quais Brasil, Armênia, Nigéria, Vietnã, Argélia, Malauí e a Turquia que conseguiram ou estão no bom caminho para reduzir à metade os casos de fome até 2015.
No centro deste sucesso, a FAO citou um ambiente favorável ao crescimento, dos investimentos centrados nas populações rurais desfavorecidas e um planejamento a longo prazo.
Para sensibilizar as opiniões públicas, a FAO lançou um apelo on-line (www.1billionhungry.org) e pediu ao planeta que faça um jejum sábado e domingo em solidariedade com as pessoas que passam fome.
Sessenta chefes de Estado e de Governo são esperados para a Cúpula da Segurança alimentar. O secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, e o Papa Bento XVI responderam presente, assim como o presidente brasileiro, Luiz INácio Lula da Silva, uma delegação rica em dirigentes sul-americanos e africanos, assim como personalidades contestadas como o presidente zimbabuense Robert Mugabe.
Mas as ONGs reunidas para um fórum da sociedade civil paralelamente à Cúpula se mostraram céticos sobre o alcance do evento. A Médicos Sem Fronteiras lamentou a ausência dos dirigentes do G8, exceto o chefe do governo italiano Silvio Berlusconi.
"É uma tragédia que os chefes de Estado (do G8) não tenham intenção de participar desta Cúpula", lamentou Daniel Berman da MSF, lembrando que os oito grandes países industrializados se comprometeram em julho a dedicar 20 bilhões de dólares em três anos para a agricultura.
As organizações de ajuda ao desenvolvimento ActionAid e Oxfam denunciaram antecipadamente uma cúpula que risca de ser um desperdício de tempo e de dinheiro".
A declaração que será assinada em Roma "só vai repetir as velhas metas. A fome deve ser dividida por dois daqui a 2015, mas o documento não prevê nenhum recurso para atingir esta meta. Os pobres não podem alimentar promessas", criticou Francisco Sarmento, da ActionAid.
A Oxfam denunciou também a tendência de inúmeros países ricos a favorecer o uso de fertilizantes químicos e de novas tecnologias, principalmente na África, em vez de encorajar o desenvolvimento sustentável e a agroecologia.