postado em 15/11/2009 08:37
Os antigos romanos defendiam a ideia de que, para garantir a paz, deveriam estar preparados para a guerra (si vis pacem, para bellum). Os governos latino-americanos estão cumprindo a frase à risca, sobretudo o presidente venezuelano, Hugo Chávez, que esta semana provocou um embate de palavras, com direito a reclamações da Colômbia perante a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização dos Estados Americanos (OEA). Depois de convidar o povo às armas, Chávez emendou o discurso. ;Nós, militares venezuelanos, somos pacifistas e nos preparamos para a guerra para assegurar a paz;, afirmou. As declarações foram recebidas pelo presidente colombiano, Álvaro Uribe, como uma mensagem de ;tranquilidade;.No entanto, desde que os colombianos anunciaram em julho o acordo de receber tropas norte-americanas em sete bases militares de seu território, a tensão na fronteira entre Venezuela e Colômbia só tem aumentado. Chávez declarou publicamente que ;os Estados Unidos anexaram a Colômbia com o tratado;. ;Os EUA atuarão, a partir do acordo militar que assinaram com a Colômbia, como o personagem de ficção James Bond, ;Agente 007;, com permissão para ;matar quem quiser, aonde quiser;;, insinuou na sexta-feira.
Preocupado com a vizinhança, o governo peruano de Alan Garcia vai propor a redução nos gastos com armamento no próximo encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Lima, 11 de dezembro. Em visita a Brasília e São Paulo, o ministro de Transportes e Comunicações do Peru, Enrique Cornejo, adiantou na semana passada o projeto por escrito a Lula, ao chanceler, Celso Amorim, e a representantes do Congresso. A ideia é que todos os países da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) assinem um Protocolo de Paz, Segurança e Cooperação.
;Garcia fez um cálculo de que se reduzisse em 3% os gastos que já existem na América do Sul em armamento nos próximos cinco anos e em 15% os gastos em novas armas, permitiria liberar recursos para que 10 milhões de sul-americanos saiam da pobreza;, disse Cornejo ao Correio. ;Gastamos em 2008 US$ 24 bilhões (em armas), 50% mais do que gastávamos os mesmos países 10 anos atrás;. O Instituto de Estudos para a Paz de Estocolmo (Sipri, pela sigla em inglês) estima que o investimento militar total foi de US$ 47 bilhões no ano passado.
Intervenção
O ministro peruano revela que o protocolo incluiria a criação de uma força sul-americana de intervenção, uma ;espécie de capacetes azuis;. Para Cornejo, se houvesse tal instrumento, talvez a Colômbia não tivesse sentido a necessidade de buscar apoio das tropas norte-americanas. ;Se existisse uma força de intervenção sul-americana, com temas vinculados ao narcotráfico e ações subversivas, teríamos um instrumento muito concreto para intervir no marco regional dos interesses sul-americanos, com o desejo de cooperação e integração;, completou.
Cornejo admite que algumas despesas são necessárias para renovar o equipamento e garantir a vigilância das fronteiras contra atividade ilegais. ;O que fica claro é que os inimigos não são os países da América do Sul entre si. Se algum esforço de equipamento está sendo feito tem a ver com elementos de segurança, que vão justamente a inimigos como o narcotráfico, o crime organizado e o terrorismo;, diz Cornejo.
Com apenas US$ 71,8 milhões em gastos militares, o presidente paraguaio, Fernando Lugo já manifestou interesse na proposta peruana. Já o presidente da Bolívia, Evo Morales, quer organizar uma reunião de emergência da Aliança Bolivariana para os Povos da América (Alba). A intenção do encontro é analisar a crise entre Venezuela e Colômbia e definir uma doutrina militar ;nacionalista e revolucionária; para a região. Ele repudiou o acordo Colômbia-EUA e o classificou como ;uma aberta provocação à América Latina;. ;Posso chegar à conclusão de que os Estados Unidos fomentam o terrorismo e o narcotráfico na Colômbia para justificar que esse país seja a base para agredir nossos povos;, disse o presidente boliviano.
Os presidentes Chávez e Uribe terão duas chances para conversar frente a frente antes do fim do mês. O colega Luiz Inácio Lula da Silva espera que os dois líderes compareçam à reunião de países amazônicos, em 26 de novembro, em Manaus. O objetivo do encontro é definir posições conjuntas para a Conferência do Clima no fim do ano, em Copenhague, que deve anunciar um pacto pós-Kyoto. No entanto, o mandatário brasileiro espera que os vizinhos aproveitem a oportunidade para resolver suas diferenças. Chávez e Uribe também devem participar da próxima Cúpula Iberoamericana, marcada para o próximo dia 29, em Estoril (Portugal).