Agência France-Presse
postado em 17/11/2009 15:44
O deposto presidente hondurenho Manuel Zelaya denunciou nesta terça-feira que os Estados Unidos estão de concluiu com o presidente da fato, Roberto Micheletti, para tentar "fazer a lavagem" do golpe de Estado de 28 de junho.
Zelaya disse à AFP que a manobra tramada pelos Estados Unidos consiste que Micheletti renuncie à presidência ante o Congresso em troca de que este aceite formar um gabinete de transição.
[SAIBAMAIS]"Isso vai acontecer na sexta-feira, no Congresso. Se eu aceito integrar esse gabinete de transição, ele renuncia e legitima o golpe de Estado. É uma manobra na qual eu não vou cair", alertou Zelaya, refugiado na embaixada brasileira em Tegucigalpa desde 21 de setembro.
"'Me propuseram que, se integrássemos um gabinete com os golpistas, Micheletti renunciaria e eu assumiria o gabinete através do ministro do Governo; inclusive me propuseram que eu nomeasse esse ministro", explicou.
"Mas o governo de fato", acrescentou, "teria 'direito de veto' e, caso não aceitassem o ministro do Governo que eu propusesse, me dariam direito de propor outro, mas eu não vou cair nessa armadilha".
O presidente deposto esclareceu que, por essa razão, enviou no sábado uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, na qual assegurava que "a partir desta data, qualquer que seja o caso, EU NÃO ACEITO nenhum acordo de retorno à presidência para encobrir o golpe de Estado".
Na extensa carta de cinco páginas dirigida a Obama, Zelaya explicou que o acordo assinado em 20 de outubro e que deixa nas mãos do Congresso Nacional sua restituição, "ficam sem valor nem efeito por não cumprimento unilateral do governo de fato".
O Acordo Tegucigalpa/San José, alcançado com a pressão dos Estados Unidos, "foi concebido para ser implementado de forma integral e simultânea, pois não foram contemplados 12 acordos separados, foi um só acordo com doze pontos", disse Zelaya, que está refugiado na embaixada do Brasil desde 21 de setembro após entrar clandestinamente no país.
O Acordo Tegucigalpa/San José Diálogo de Guaymuras visava à formação de um governo de união e reconciliação nacional e deixava nas mãos do Congresso Nacional a restituição de Zelaya à presidência, de onde foi expulso em 28 de junho por um golpe de Estado. Este documento, lembrou Zelaya, "tinha um único propósito, restaurar a ordem democrática e a paz social e, com isto, reverter o golpe de estado, o que implica o retorno seguro do presidente eleito legitimamente por voto popular".
No entanto, Zelaya culpou, em parte, do fracasso do acordo, os mesmos funcionários do Departamento de Estado americano que conseguiram que as duas partes no conflito assinassem o documento, com o então responsável da diplomacia para a América Latina, Thomas Shannon, à frente.
"Estes funcionários modificaram sua posição e interpretam o acordo unilateralmente", lamentou Zelaya.
Para Zelaya, os Estados Unidos admitiram que as eleições gerais previstas para 29 de novembro seriam reconhecidas pelos EUA com ou sem restituição, pelo que o regime de fato celebrou esta mudança e utilizou estas declarações para seus objetivos e, imediatamente, terminou por não cumprir e violou o acordo.
"Nestas condições, este processo e, portanto seus resultados, serão sujeitos de impugnação e não reconhecimento, o que coloca em grave risco a estabilidade futura das relações entre Honduras e as demais nações que reconhecerem seus resultados, acrescentou na carta.