postado em 18/11/2009 07:00
Assim como fez ao falar sobre direitos humanos para estudantes de Xangai, há dois dias, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, surpreendeu novamente pela ousadia ao defender a retomada do diálogo entre a China e o dalai-lama ; tema extremamente delicado para o governo anfitrião. O norte-americano, que não recebeu o líder espiritual em Washington em outubro para evitar polêmicas antes de sua viagem a Pequim, disse reconhecer que ;o Tibete faz parte da República Popular da China;, mas pediu que o governo e representantes do dalai-lama voltem a conversar. Em entrevista coletiva após um encontro oficial, Obama e o colega, Hu Jintao, prometeram cooperação em temas como o aquecimento global(1), o terrorismo e as ambições nucleares da Coreia do Norte e do Irã. Mas o líder chinês quebrou o clima de total sintonia ao afirmar que os dois países devem evitar as barreiras protecionistas, uma crítica endereçada a Washington. ;Nossos dois países devem opor-se ao protecionismo e rejeitá-lo;, receitou Hu. Ele, no entanto, afirmou que os dois governos teriam concordado em ;trabalhar juntos para resolver as divergências econômicas e comerciais;.
Segundo a agência oficial de notícias Xinhua, a iniciativa de Obama de falar com o anfitrião sobre o Tibete encontrou resistência. Hu disse esperar que o governo americano trate ;adequadamente; a questão de Taiwan e do Tibete, e destacou que ;a premissa da confiança estratégica entre a China e os EUA é o respeito pelos interesses de cada um;. ;Esperamos que os EUA compreendam e apoiem as posições e preocupações do governo chinês e não permitam que as forças pela independência do Tibete e do Turquestão Oriental (região de maioria muçulmana na província chinesa de Xinjiang) utilizem o solo americano para atividades separatistas;, resumiu.
Após um alto representante da comitiva de Obama revelar à imprensa o pedido feito pelo presidente pela retomada das negociações com o dalai-lama, o escritório do líder espiritual tibetano afirmou que ele está pronto para reiniciar o diálogo. ;Nós estamos sempre querendo conversar com a China e esperamos que os dois lados sejam verdadeiros em suas intenções;, afirmou o porta-voz do dalai-lama, Chime Chhoekyapa. Ele ainda negou que o líder pratique atividades ;separatistas;.
Os ;conselhos; polêmicos dados pelo mandatário norte-americano ao governo chinês, contudo, não têm ;pretensões utópicas;, segundo a Casa Branca. O porta-voz Robert Gibbs disse, em Washington, que Obama não espera ;que as águas se separem e que tudo mude com uma viagem de dois dias e meio;. Segundo ele, o presidente reconhece que há ;muito trabalho a ser feito; para reduzir as diferenças.
Recepção quente
Apesar de Obama já ter sido recebido na segunda-feira pelo presidente chinês para um jantar oficial, a cerimônia para uma recepção formal foi realizada ontem, no Palácio do Povo, na Praça da Paz Celestial. ;Esta é sua primeira visita, permita-me oferecer uma recepção calorosa;, disse Hu, em um dia em que a temperatura em Pequim esteve abaixo de zero. ;O senhor tem trabalhado muito em prol das relações China-EUA;, acrescentou. Obama também fez um tour pela Cidade Proibida, a residência das antigas dinastias imperiais.
Horas depois, os dois presidentes anunciaram o compromisso com uma desnuclearização da Península Coreana e com o reinício das negociações multilaterais, abandonadas em abril pela Coreia do Norte. Em um comunicado conjunto, os governantes também destacaram sua preocupação com os últimos acontecimentos relacionados ao programa nuclear iraniano. ;Concordamos que a República Islâmica do Irã deve dar garantias à comunidade internacional de que seu programa nuclear é pacífico e transparente;, declarou o visitante. Da China, Obama segue para Seul, onde encerrará a viagem pela Ásia.
Efeito imediato
Os presidentes Barack Obama e Hu Jintao agora desejam que a conferência internacional sobre o clima, em dezembro, resulte em um acordo com ;efeito imediato;. No fim de semana, durante a Cúpula do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), os dois governantes propuseram que fosse adiada para 2010 a assinatura de um acordo legal para substituir o Protocolo de Kyoto a partir de 2012. ;Nosso objetivo não é um acordo parcial, nem uma declaração política, mas um acordo que cubra todas as questões;, disse Obama, que garantiu que os dois países trabalharão juntos ;para alcançar um êxito na conferência de Copenhague;. Em comunicado conjunto, os dois países reiteram que o acordo deverá prever metas de redução de emissões por parte dos países desenvolvidos e ações para atenuar as emissões nos países em desenvolvimento.