Agência France-Presse
postado em 19/11/2009 09:25
CABUL - O presidente afegão Hamid Karzai se comprometeu a combater a corrupção e convidou o principal rival a integrar o governo, ao tomar posse nesta quinta-feira (19/11) para o segundo mandato sob a pressão ocidental para recuperar a desgastada legitimidade, no momento em que a guerra contra os talibãs entra em seu nono ano.
Karzai assumiu para um novo mandato de cinco anos, após eleições manchadas por muitas fraudes, no momento em que a insurgência islamita é responsável por um número recorde de mortes de soldados ocidentais e civis afegão, além de limitar o controle do governo em uma parte cada vez maior do país.
"A corrupção é um problema perigoso", afirmou o presidente no discurso de posse, diante de uma plateia de 800 convidados, incluindo chanceleres estrangeiros, entre eles a secretária de Estado americana Hillary Clinton, em um palácio presidencial sob fortes medidas de segurança. "Em breve convocaremos uma conferência em Cabul para organizar novos e mais eficazes meios de combater este problema", acrescentou.
Karzai também aproveitou a oportunidade para convidar o grande rival, o ex-ministro das Relações Exteriores Abdullah Abdullah, a integrar um governo de unidade nacional, ao mesmo tempo em que prometeu intensificar a luta contra a produção e o tráfico de ópio, além de criar novos empregos. "Temos que aprender com nossos erros a as deficiências dos últimos oito anos", afirmou o presidente, de 51 anos, que estava com um chapéu tradicional e uma capa colorida.
Promessas e cobranças
Após oito anos de guerra e instabilidade, os países ocidentais pressionam Karzai para que se comprometa com reformas concretas, a limpeza do governo e a restauração da confiança.
No discurso de posse, transmitido ao vivo pela televisão, Karzai afirmou que acabará com a "cultura da impunidade" no Afeganistão. O presidente também disse que as tropas afegãs poderão assumir no prazo de cinco anos a segurança do país, que estão desde o fim de 2001 sob o comando das tropas internacionais lideradas pelos Estados Unidos.
O próprio Karzai deve dar posse aos dois vice-presidentes, dois ex-senhores da guerra de reputação controversa, Karim Jalili e, sobretudo, o "marechal vitalício" Mohammed Qasim Fahim, acusado de violações dos direitos humanos e de tráfico de drogas.
Hamid Karzai foi reeleito em um processo eleitoral marcado por muitas fraudes no primeiro turno, em 20 de agosto, e pela desistência de Abdullah Abdullah antes do segundo turno, que aconteceria no início de novembro. Em Bruxelas, a Otan felicitou Karzai, mas recordou a urgência do combate à corrupção.
Hillary Clinton afirmou, na véspera, que o Afeganistão está em um momento crítico e deve aproveitar a oportunidade para um "contrato entre o governo e o povo". Washington manifesta uma crescente preocupação com a confiabilidade de Karzai como aliado dos Estados Unidos e como chefe de Estado. A Casa Branca exige o fim da corrupção para combater a insurgência talibã. Hillary ressaltou a questão ao condicionar diretamente as ajudas militar e financeira ao país aos progressos na luta contra a corrupção oficial.
No entanto, os Estados Unidos e a Otan - que mantêm 100 mil soldados no país e estudam a possibilidade de enviar dezenas de milhares a mais - não têm outra opção a não ser trabalhar com Karzai. O presidente Barack Obama deve anunciar nas próximas semanas a nova estratégia para o Afeganistão.
Para as ONGs de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional e Human Rights Watch, Karzai deve romper os laços com os senhores da guerra.
Cabul estava em alerta máximo nesta quinta-feira para a possibilidade de atentados dos talibãs na posse de Karzai. Os funcionários estrangeiros das embaixadas, da ONU e dos grupos humanitários receberam a recomendação de permanecer em casa. A cidade foi cenário de uma série de atentados suicidas com carros-bomba que mataram quase 100 pessoas nos últimos três meses.