Agência France-Presse
postado em 22/11/2009 12:41
CABUL - Oito anos depois da derrubada do regime fundamentalista talibã, e apesar dos bilhões de dólares de ajuda internacional, o Afeganistão ainda é um país pobre e devastado, onde os direitos das crianças são constantemente violados.Mortalidade infantil, trabalho das crianças, casamentos forçados, meninos soldados ou utilizados como camicases...todos os indicadores estão no vermelho no Afeganistão, onde metade da população tem menos de 15 anos.
"Segundo nossas informações, a taxa de mortalidade infantil é a maior do mundo, num país onde 70% da população não tem acesso a água potável. Cerca de 30% das crianças afegãs estão envolvidas em algum tipo de trabalho, e 43% das meninas são casadas antes de completar 15 anos", enumerou neste domingo Catherine Mbengue, representante no Afeganistão do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), durante uma entrevista coletiva em Cabul.
Vinte anos após a aprovação da Convenção dos Direitos das Crianças, ratificada pelo Afeganistão em 1994, a situação das crianças não para de se deteriorar.
"A violência contra as crianças é generalizada no Afeganistão. As crianças são vítimas da violência na rua, mas também em casa", denunciou Hamida Barmaki, da Comissão Independente Afegã dos Direitos Humanos (AIHRC).
"Hoje em dia, o Afeganistão é o pior lugar do mundo para as crianças", insistiu a deputada afegã Fawzia Kofi.
"As piores violências são as de natureza sexual, que cresceram muito nos últimos anos. As autoridades não processam os culpados por motivos políticos", criticou, referindo-se a ex-senhores de guerra e a oficiais da polícia e do exército frequentemente acusados de estuprar crianças mas quase nunca perseguidos.
"No total, 1.459 casos de abusos sexuais envolvendo crianças foram registrados em 2008. Este número é, porém, muito inferior à realidade", comentou o chefe da delegação da Comissão Europeia no Afeganistão, Hansj;rg Kretschmer.
"Existe uma grande diferença entre o que diz a lei e o que acontece nos fatos. É preciso uma mudança radical das mentalidades, para que todos os afegãos se conscientizem de que as crianças não são objetos para serem explorados", acrescentou.
Os números negativos se multiplicam no Afeganistão, o quinto país mais pobre do mundo. Terça-feira, a ONG Transparência Internacional colocou o país no segundo lugar da lista dos países mais corruptos do planeta em 2009, atrás apenas da Somália. O Afeganistão também produz mais de 90% de todo o ópio mundial.
"Houve alguns progressos, sobretudo em matéria de educação, com entre seis e sete milhões de crianças escolarizadas, e uma queda da mortalidade infantil", ponderou Kretschmer.
De acordo com a Unicef, 254 em cada 1.000 crianças morrem antes de completar cinco anos. Porém, segundo um estudo recente que ainda não foi validado, este número teria caído para 191 em cada 1.000 em 2008.