postado em 24/11/2009 08:59
A enorme comitiva de empresários acompanhando o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, em sua visita ao Brasil - a primeira de um líder iraniano em 50 anos -, dá bem o tom de expectativa que envolveu as negociações comerciais. Cerca de 200 pessoas faziam parte da comitiva iraniana - a maioria absoluta formada por empresários e executivos. No fim, os dois países assinaram três acordos e diversos memorandos de cooperação e entendimento. Os acordos foram para aumentar a cooperação comercial entre a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Câmara de Comércio e Indústria do Irã; para suprimir a exigência de visto para passaportes diplomáticos; e um último para estimular as trocas culturais entre as duas nações.
[SAIBAMAIS]A cooperação vai acontecer nas áreas de minas e energia, ciência e tecnologia, comércio exterior e agricultura, além de estreitar os laços entre os bancos centrais dos dois países. Na área agrícola, Irã e Brasil firmaram um convênio entre a Embrapa e a Organização para Pesquisa e Educação e Extensão Agrícola do Irã. De acordo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil vai firmar parceria com o Irã em projetos de energia elétrica, para quem pretende apresentar a experiência dos veículos movidos a gás e etanol.
As expectativas, contudo, são muito diferentes entre os dois países. Enquanto o ministro Norton de Andrade Mello Rapesta, do Departamento de Promoção Comercial do Ministério das Relações Exteriores, calcula que o fluxo de comércio entre os dois países deve alcançar, em três anos, o montante de US$ 3 bilhões, o chefe da delegação iraniana, K. F. Kermanshahi, acredita que possa chegar a US$ 10 bilhões em cinco anos, conforme matéria publicada no Blog do Planalto. No ano passado, o Brasil exportou US$ 1,1 bilhão ao Irã e importou US$ 78 milhões.
Parceria
"No Oriente Médio, existem atualmente dois parceiros importantes: Israel e Irã. E o Brasil precisa aumentar o fluxo de investimentos nestes países", analisou José Flávio Saraiva, professor da Universidade de Brasília (UnB). "O Irã tem apresentado crescimento econômico recorrente, e há oportunidades para as exportações de produtos e de serviços. Não podemos esquecer que Teerã é a maior metrópole do Oriente Médio, com quase 8 milhões de habitantes". O professor da UnB ressaltou que o Irã está precisando diversificar seus parceiros comerciais, hoje concentrados na Rússia, em países do Oriente Médio e na Europa.
O Brasil já percebeu esta oportunidade. No documento Estratégia Brasileira de Exportação 2008-2010, produzido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o país definiu como meta para 2010 ampliar a participação das exportações brasileiras para 1,25% das vendas mundiais - em 2007, representavam 1,17%. O governo também planeja aumentar em 10% o número de micro e pequenas empresas exportadoras, ampliando a base em pelo menos 1,1 mil pequenos empreendimentos.
Para isso, diz o documento, será necessário um "esforço do governo para a diversificação dos destinos das vendas brasileiras". O texto registra que o quadro é favorável, pois mercados mais tradicionais (União Europeia, Estados Unidos e Japão) vêm perdendo participação em benefício de mercados não tradicionais, como China, África, Oriente Médio, Europa Oriental e países da América Central. "O Brasil tem grandes possibilidades de diversificar ainda mais suas vendas, especialmente se reforçar suas iniciativas de promoção comercial nesses novos mercados e se evoluir na negociação de acordos comerciais que melhorem as condições de acesso dos produtos brasileiros".
Aliança consolidada
Confira os principais tópicos previstos nos documentos firmados pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Mahmud Ahmadinejad
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
- Intercâmbio de cientistas, professores e acadêmicos envolvidos em projetos conjuntos
- Realização de seminários conjuntos, conferências e oficinas educativas
- Intercâmbio de pesquisadores em programas de longo ou curto prazo, com a possibilidade de concessão de bolsas de estudo
- Desenvolvimento de projetos conjuntos de pesquisa e projetos de transferência de tecnologia nas áreas acordadas
Áreas de interesse
- Nanotecnologia
- Pesquisa agrícola e ciência e tecnologia de alimentos
- Tecnologias da informação e comunicação
- Biotecnologia
- Saúde e ciências médicas
- Neurociência e ciência cognitiva
- Tecnologia industrial
COMÉRCIO
- Áreas de interesse
- Produtos agrícolas
- Serviços de engenharia
- Logística
- Petróleo e gás
- Maquinário
- Têxteis e vestuário
- Produtos químicos
- Automóveis e partes automotivas
- Equipamentos de telecomunicação e dispositivos de automação de escritório
- Produtos eletrônicos
INFRAESTRUTURA
- Cooperação para a construção por empresas brasileiras de usinas hidrelétricas, usinas termelétricas convencionais, canais de drenagem, redes de transmissão e distribuição de energia elétrica, bem como de fornecimento de equipamentos para essas construções
- Produção conjunta de turbinas industriais, bem como intercâmbio de tecnologias e de prestação de suporte técnico e serviços de engenharia
CULTURA
- Organização de exibições representativas do patrimônio cultural de cada nação
- Intercâmbio de especialistas para compartilhar experiências na identificação, proteção e gestão do patrimônio cultural nacional
- Visita técnica de peritos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) à Organização Iraniana para o Patrimônio Cultural, Artesanato e Turismo (ICHHTO), para trocar experiências nos campos de conservação, arqueologia e turismo
- Encorajar a participação de artistas plásticos e fotógrafos em exibições a serem realizadas nos dois países
- Organização de cursos e oficinas em restauração fotográfica, artes visuais, filmes e design gráfico
- Participação de filmes brasileiros e iranianos em festivais e semanas de cinema nos dois países
- Encorajar a legendagem de filmes nos dois idiomas
- Fomentar e facilitar o intercâmbio de conteúdos entre as redes de televisão pública de ambos os países, particularmente entre a IRIB e a TV Brasil
- Visitas de músicos para concertos, cursos de música e oficinas (wokshops) a serem realizados nos dois países
- Intercâmbio de partituras e gravações audiovisuais
- Intercâmbio de obras de escritores renomados e visitas de autores aos dois países
- Intercâmbio de grupos de artes cênicas e dança folclórica, de expressão clássica, moderna ou contemporânea; e de peças teatrais