Agência France-Presse
postado em 24/11/2009 19:41
Os democratas do Congresso americano, pouco entusiasmados com a ideia de enviar reforços ao Afeganistão, consideravam a possibilidade de criar um imposto, para financiar um novo deslocamento de tropas limitar, assim, o impacto sobre o déficit abissal dos Estados Unidos.
[SAIBAMAIS]Segundo cifras do Congressional Research Service (CRS), a guerra no Afeganistão custa a Washington 3,6 bilhões de dólares por mês desde 2001, ou seja, mais de 43 bilhões de dólares por ano.
O presidente Barack Obama afirmou nesta terça-feira à imprensa que anunciaria em breve a decisão estratégica mais importante de sua presidência até agora.
Os parlamentares democratas, mais reticentes ante esta guerra que começou em 2001, não bloquearão o caminho para a liberação de reforços, que poderiam representar até 40.000 soldados suplementares.
Mas, num contexto de déficit orçamentário recorde (1,417 trilhão de dólares em 2008-2009, 10% do PIB), e fustigados diariamente pela oposição republicana, vários líderes democratas consideram necessário encontrar novos recursos.
Na Câmara de Representantes, eles apresentaram semana passada um projeto de lei criando uma taxa suplementar para financiar as despesas futuras no Afeganistão, sob o nome de "Lei de Partilha do Sacrifício".
Entre eles, John Murtha, que preside a comissão de controle das finanças do Pentágono, e Dave Obey, na liderança da comissão encarregada de distribuir as despesas federais, estimaram que "se esta guerra deve acontecer, cada um deve partilhar seu peso".
O texto prevê, no entanto, um prazo de um ano para sua aplicação, se o presidente julgar a economia ainda muito frágil.
Os ex-combatentes que serviram no Iraque e no Afeganistão desde o 11 de Setembro ficariam isentos, assim como as famílias dos soldados mortos em combate.
O imposto, gradual, seria dividido em três parcelas: as famílias com renda de até 150.000 dólares por ano suportariam uma taxa de 1%; as com rendimento entre 150.000 e 250.000 e as que ganhassem mais de 250.000 dólares arcariam com uma alíquota variável, em função do custo da guerra no ano precedente.
Com o aumento do poderio americano no Afeganistão, a média anual das despesas também aumenta, podendo se aproximar dos 68 bilhões de dólares por ano, segundo uma fonte da Câmara de Representantes.
A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, mostrou-se prudente nesta terça-feira durante uma videoconferência com economistas, afirmando que não "sabe o que o presidente vai anunciar". "Mas deixe-me dizer a vocês que há um grande mal-estar em nosso grupo (democrata) sobre a seguinte questão: teremos os meios para sustentar esta guerra?"
Do lado do Senado, o presidente da comissão de Defesa, Carl Levin, mostrou-se favorável à cobrança de um imposto suplementar. Numa entrevista à televisão Bloomberg, na sexta-feira, ele afirmou: "acho que devemos encontrar uma solução, particularmente entre os que têm rendimentos mais elevados". Levin tem como alvo as famílias com rendimentos de mais de 200.000 ou 250.000 dólares.
O lado republicano é menos receptivo à ideia de uma nova taxa. "O senador McCain se opõe categoricamente aos aumentos de impostos e faz um apelo aos responsáveis pelas finanças no Congresso a eliminar despesas inúteis", informou-se no escritório do Senador, que atua na comissão de Defesa.