Agência France-Presse
postado em 25/11/2009 15:39
A decisão do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, prevista para a próxima terça-feira, de enviar novos reforços ao Afeganistão, representa um enorme custo humano e financeiro para o país em guerra em duas frentes há oito anos; O estresse nas forças armadas é uma realidade, alidado a um déficit orçamentário já vertiginoso.
Mais de 180.000 soldados americanos no total estão mobilizados no Iraque (115.000) e no Afeganistão.
[SAIBAMAIS]O envio provável de mais de 30.000 soldados extras, segundo dados que circulam pela imprensa americana, vai forçar o esgotamento das poucas brigadas ainda disponíveis, em caso de crise imprevista em um outro cenário, preveem os analistas.
O bom andamento do plano do presidente Obama depende da retirada gradual das tropas americanas do Iraque até o fim de 2011. Mas, se a situação se deteriorar em Bagdá, o envio de milhares de soldados ao Afeganistão pode ser contido.
Bem mais grave aos olhos da opinião pública, estão as baixas cada vez maiores entre os militares americanos, na luta contra os rebeldes que lançam bombas artesanais destruidoras.
Quase 800 já morreram no Afeganistão e o mês de outubro foi o mais sangrento desde o início do conflito no final de 2001, com 74 soldados americanos mortos.
Segundo Anthony Cordesman, especialista do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), "o presidente Obama deve preparar os EUA e o mundo para o fato de que o número de vítimas americanas, mas também de aliados, afegãos e paquistaneses, vai certamente dobrar ou triplicar antes da vitória".
Este novo reforço é, enfim, solicitado às forças armadas esgotadas pela violência dos combates freqüentes e pela longa duração de suas missões no Iraque e no Afeganistão.
O exército também sofre hoje com uma taxa alarmante de suicídios, de depressões e traumatismos. Desde o início deste ano, já foram registrados 140 suicídios em suas fileiras, ou seja, o mesmo que em 2008, e esse número deve bater um novo recorde em 2009.
Apesar de tudo, segundo o chefe do Estado-maior Mike Mullen, as forças armadas não foram alvo de nenhuma crítica entre a população americana.
No entanto, em plena crise econômica, o aspecto financeiro da guerra atiça a impaciência da opinião pública: a conta do comprometimento americano no Iraque e no Afeganistão deve chegar este ano a 1 trilhão de dólares, enquanto as duas guerras já custaram 768,8 bilhões ao contribuinte americano, segundo o Pentágono.
O custo médio das operações americanas no Afeganistão já passou dos três bilhões por mês e promete aumentar. Enviar soldados e material ao território afegão, particularmente difícil e pobre em infraestrutura, custa mais caro do que no Iraque.
Segundo o Pentágono, o envio de um soldado ao Afeganistão e sua manutenção custa 500.000 dólares. Já para especialistas da Casa Branca, esse preço é mais próximo de um milhão.
A conta dos custos da guerra pode contribuir para um aumento ainda maior do enorme déficit público americano, o que preocupa a bancada democrática do Congresso, voltada, atualmente, para fazer aprovar uma caríssima reforma da saúde.
Os partidários de um aumento do contingente americano no Afeganistão reconhecem que uma decisão desse tipo vai pesar nas costas de um exército cansado. Mas, segundo Steve Biddle, especialista do Centro de Relações Exteriores (CFR), uma derrota contra os talibãs, depois de uma retirada do Afeganistão, representariam um golpe ainda mais duro para os militares americanos.
"O exército dos Estados Unidos levou tempo para se recuperar dos efeitos de nosso fracasso no Vietnã. Estamos, portanto, confrontados a um verdadeiro dilema".