postado em 26/11/2009 12:41
Depois das críticas aos Estados Unidos do assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, expondo o incômodo do governo brasileiro pelo tratamento dispensado pelo presidente norte-americano, Barack Obama, a temas considerados prioritários no cenário internacional, assessores do Palácio do Planalto e do Itamaraty atuam para minimizar os efeitos da tensão. Mas a ideia é consolidar a posição de crítica do governo e advertir Obama que é necessário rever algumas posições.
Internamente, o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou que a divergência entre os governos dos Brasil e dos Estados Unidos é normal e que não existem razões para temer estremecimentos. Em conversas informais, Amorim negou mal-estar ou eventuais retaliações econômicas, por exemplo.
Diplomatas que acompanham o processo político afirmam que o alerta de Garcia foi colocado no tom correto e no momento adequado. O objetivo, segundo eles, é advertir de forma adequada o governo norte-americano sobre eventuais equívocos na condução da política externa.
Paralelamente, a advertência serve também para mostrar que o Brasil não quer ocupar o papel de coadjuvante, mas de protagonista em negociações de política internacional. A exemplo disso o governo brasileiro abriga há dois meses o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, na embaixada do Brasil em Tegucigalpa, e resistiu às críticas internas e externas à vista do presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, na última segunda-feira, dia 23.
Assessores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmam que Garcia expôs a sensação comum que predomina em brasileiros e estrangeiros de que há dez meses de sua gestão Obama não atendeu às expectativas depositadas nele. O desconforto político aumentou com a carta enviada pelo norte-americano a Lula no último domingo, véspera da visita de Ahmadinejad, a Brasília.
No documento, Obama dá um tom crítico à recepção ao iraniano no Brasil e reitera a defesa norte-americana às eleições do dia 29 em Honduras, considerando-as legítimas, ao contrário do que afirma o governo brasileiro.
Diferentemente do Brasil, que apoia ações internacionais destinadas a reduzir a emissão de gases poluentes - assunto debatido na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15), em Copenhague, na Dinamarca -, os Estados Unidos evitam definir metas.
Outra divergência é com a Rodada de Doha na Organização Mundial do Comércio (OMC). Para os brasileiros, é fundamental a abertura dos mercados agrícolas com redução de subsídios nos Estados Unidos, mas os norte-americanos têm outra posição. As negociações estão paralisadas.
"Isso (o conjunto de situações) está provocando uma certa frustração", resumiu Garcia, ao analisar o papel de Obama no cenário internacional. As críticas ecoaram.