postado em 26/11/2009 17:17
O chefe do Estado-Maior do Exército da Alemanha e um secretário de Estado à Defesa apresentaram sua renúncia nesta quinta-feira, nas primeiras consequências de um sangrento bombardeio perpetrado em setembro passado no Afeganistão.
[SAIBAMAIS]"Vou demitir, a pedido dele, o chefe de Estado-Maior, Wolfgang Schneiderhan, e o secretário de Estado à Defesa Peter Wichert também assumiu sua responsabilidade", anunciou diante dos deputados Karl-Theodor zu Guttenberg, ministro da Defesa desde o fim de outubro.
Wichert era um dos secretários de Estado que servia de interface entre o Exército e o ministério da Defesa.
O jornal Bild revelou na manhã desta quinta-feira que várias informações foram dissimuladas pelo ministério da Defesa anterior à opinião pública e ao Ministério Público (MP) federal, que está investigando este bombardeio que deixou, segundo a Otan, 142 mortos, muitos deles civis.
Estas retenções de informações, confirmadas por Guttenberg, provocaram críticas da oposição, mas também de alguns representantes da maioria.
O escândalo estourou no dia em que os deputados iniciaram um debate sobre a prorrogação do mandato da muita impopular mobilização militar alemã no Afeganistão.
Naquele dia, o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, estava em Berlim para conversar com a chanceler alemã Angela Merkel.
No dia 4 de setembro, em plena campanha eleitoral na Alemanha, a Otan bombardeou, a pedido do oficial alemão responsável pela região, o coronel Georg Klein, dois caminhões-tanque roubados pelos talibãs perto de Kunduz. O oficial temia que os veículos fossem utilizados como bombas contra suas forças.
Apoiando-se num relatório do Exército e em vídeos, o Bild afirmou que o coronel Klein ordenou o ataque sem poder descartar claramente a presença de civis, o que é contrário ao regulamento da Otan e às diretrizes do general Stanley McChrystal, comandante das forças internacionais no Afeganistão.
Segundo uma fonte militar da Otan, os caças americanos sugeriram duas vezes fazer uma "demonstração de força" com fins de intimidação, mas o comandante alemão exigiu o uso imediato da força.
O Bild ainda afirmou que o ex-ministro da Defesa, Franz Josef Jung, ficou sabendo de possíveis vítimas civis muito antes de anunciá-lo publicamente.
Jung, que ocupa desde outubro o cargo de ministro do Trabalho, se negou nesta quinta-feira a renunciar, garantindo ter colaborado plenamente com todas as investigações efetuadas sobre o caso.
Assadullah Omar Khil, um chefe tribal da região bombardeada, elogiou nesta quinta-feira a demissão do chefe de Estado-Maior alemão.
"Estamos satisfeitos com a demissão do chefe de Estado-Maior alemão, que tomou a decisão certa. Ele reconheceu a morte involuntária de muitos civis afegãos", declarou à AFP o líder da tribo dos Omar Khil na província de Kunduz, no norte do Afeganistão.
Em 6 de novembro, Guttenberg admitiu que erros foram cometidos na forma como a operação foi conduzida, mas considerou a ação justificada.