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China se compromete com redução de emissão de gases

Pequim pretende reduzir em até 45% a emissão de dióxido de carbono e anuncia envio de premiê a Copenhague. Decisão pode salvar reunião e levar a acordo

postado em 27/11/2009 08:35
Os dois países que, até pouco mais de 10 dias atrás, colocavam em risco o sucesso da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15), em Copenhague, agora são apontados como os potenciais "salvadores" do encontro. Um dia depois de os Estados Unidos anunciarem uma meta de redução de 17% nas emissões de gases causadores do efeito estufa - com base em 2005 - até 2020, a China afirmou que pretende baixar entre 40% e 45% a intensidade energética (emissão de dióxido de carbono por unidade de Produto Interno Bruto), também tendo por base 2005, até o mesmo ano. Foi a primeira vez que Pequim estabeleceu uma meta desse tipo. A China mantinha a postura de delegar a responsabilidade de reduzir as emissões aos países ricos. A decisão foi comemorada por organizações e líderes internacionais, mas as nações desenvolvidas já sabem que serão mais cobradas pela comunidade internacional diante desse ousado movimento chinês. "É importante lembrar que os países em desenvolvimento não têm obrigação de apresentar metas. O fato de a China exibir esses números expressivos é um sinal muito positivo, ainda mais por ser um país em desenvolvimento a se juntar a Brasil, Indonésia e Coreia do Sul, mostrando que existe vontade política para se ter um acordo em Copenhague", avalia a chefe do escritório da ONG Oxfam Internacional no Brasil, Katia Maia. O otimismo pode ser visto entre os organizadores da COP-15, que começa no dia 7. "O compromisso dos EUA com objetivos específicos de redução, a médio prazo, e o compromisso da China com uma ação específica de eficiência energética podem desbloquear as duas últimas portas para alcançar um acordo amplo", afirmou o secretário-executivo da convenção, Yvo de Boer, por meio de uma nota. Em Copenhague, o premiê dinamarquês, Lars Rasmussen, comemorou não só a decisão de Pequim como a confirmação de que o colega chinês, Wen Jiabao, chefiará a delegação de seu país no encontro. "Interpreto isso como uma clara demonstração de sua vontade em alcançar um acordo climático ambicioso", disse Rasmussen. A notícia foi bem recebida pelas organizações WWF e Greenpeace. A especialista Katia Maia ressalta que ainda não se sabe como Pequim pretende implementar essa meta. "É preciso saber se vai ser uma questão mais de mexer nas fábricas e infraestruturas para ser mais eficiente na utilização de combustível, ou se vai ser um corte de redução da emissão", explica. Por ser um conceito mais vago do que a redução real das emissões de gases, a diminuição da "intensidade energética" pode permitir ao governo chinês maior margem de manobra. A escolha de 2005 por ano-base, ao invés de 1990, como propunha o Protocolo de Kyoto, não é mero acaso. Assim como os EUA, a China escolheu esse ano por ter sido um dos registraram mais emissões. Mais longe Apesar de aparentemente comemorar as decisões dos dois países, a União Europeia (UE) destacou que elas poderiam ser mais ambiciosas. "As propostas chinesa e americana representam apenas um primeiro passo", afirma uma nota assinada pelo presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso. A UE continuará pedindo aos dois países que "cheguem até os limites extremos possíveis para obter um acordo em Copenhague". Há ainda quem duvide que a China alcançará as metas. "Eles abrem uma termelétrica a carvão vegetal toda semana e, considerando o aumento no número de carros na China, não há opção a não ser aumentar as emissões", prevê o professor da Chapman University (Califórnia) Don Booth. Jay Lehr, diretor do Instituto Heartland, também vê com ceticismo o anúncio de Pequim. "Não é possível que eles atinjam essas metas em 2020, quando estarão usando mais energia do que hoje. Eles não vão fazer mais do que tentar utilizar uma energia mais eficiente, o que só vai reduzir ligeiramente as emissões nas próximas décadas", afirma. Os dois "vilões" Estados Unidos - Propuseram uma redução de 17% nas emissões de dióxido de carbono até 2020, em comparação aos níveis de 2005, que foram de 7,25 bilhões de toneladas de equivalentes de CO2. Isso significa que, em 10 anos, as emissões não devem ultrapassar 6 bilhões de toneladas por ano. - Se seguisse os padrões do Protocolo de Kyoto, que previa reduzir as emissões de CO2 a níveis pelo menos 5% menores que os de 1990, quando os EUA emitiram 6,08 bilhões de toneladas, o país teria de cumprir até 2012 uma meta bem mais difícil: reduzir as emissões para 5,77 bilhões de toneladas nos próximos quatro anos. China - Afirmou que pretende baixar entre 40% e 45% a intensidade energética (emissão de dióxido de carbono por unidade de PIB), também tendo por base 2005, até 2020. Por ser um conceito mais vago do que a redução real das emissões de gases, a diminuição da "intensidade energética" permite ao governo chinês maior margem de manobra. Para Lula, "Brasil fala menos e faz mais" O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se reuniu ontem em Manaus com representantes das nações amazônicas para discutir mudança climática, disse que a proposta dos Estados Unidos para reduzir suas emissões de gases causadores do efeito estufa está muito aquém da responsabilidade da maior economia do planeta. No entanto, Lula deu um voto de confiança ao colega Barack Obama. "Acho que a proposta do presidente Obama talvez seja o máximo que ele pode fazer, em função das circunstâncias políticas internas", ponderou Lula. "Mas está muito abaixo daquilo que é a responsabilidade histórica e o papel dos EUA neste mundo globalizado, assim como está muito abaixo a proposta dos países desenvolvidos da Europa", constatou, em entrevista à agência EFE. O presidente brasileiro fez o comentário durante discurso na inauguração do gasoduto Urucu-Coari-Manaus. Ele acrescentou que levará ao encontro em Copenhague, na Dinamarca, um "compromisso voluntário" de reduzir as emissões brasileiras 36,1% a 38,9% até 2020. A base para essa meta é a curva das emissões feitas pelo país desde 2005. "Queremos mostrar para nossos amigos americanos e europeus que, aqui no Brasil, a gente fala menos e faz mais. Aqui, a gente mata a cobra e mostra a bichinha morta. Não mostra o pau, não", provocou. A meta estabelecida pelo governo, após o Ministério da Ciência e Tecnologia divulgar que as emissões brasileiras cresceram 62% nos últimos 15 anos, foi aprovada na quarta-feira pelo Senado. A reunião de Lula com líderes dos países que integram a região amazônica e com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, visa definir propostas conjuntas para a conferência promovida pelas Nações Unidas na capital dinamarquesa, em dezembro. Tanto o Brasil quanto a França tentam convencer os líderes das nações amazônicas a apoiar o acordo bilateral assinado em 14 de novembro, em Paris, sobre as intenções que os dois países pretendem levar a Copenhague. Lula e Sarkozy também querem que todos os países latino-americanos participem da criação da Organização Mundial do Meio Ambiente (OMMA). "Essa organização seria o meio mais fácil de nos certificarmos da aplicação dos futuros acordos de Copenhague, além de reorganizar a governança mundial de questões climáticas", argumentou um representante do governo francês. Resposta para Obama O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, revelou ontem em Manaus que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já respondeu a carta enviada no último domingo pelo colega norte-americano, Barack Obama. A mensagem de Lula acrescentou os temas do conflito Israel-Palestina e da cooperação entre Brasil e Estados Unidos no Haiti ao diálogo "amistoso" feito por correspondências. Em sua carta, Obama abordou a questão das mudanças climáticas, a Rodada de Doha e dois assuntos em que a divergência entre os dois governos é notável: a crise política em Honduras e a questão nuclear iraniana. Amorim negou que a troca de cartas reflita algum mal-estar entre Washington e Brasília.

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