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Mujica e Lacalle disputam segundo turno num Uruguai afetado por inundações

Agência France-Presse
postado em 28/11/2009 15:34

MONTEVIDÉU - Os uruguaios escolhem neste domingo (29) entre dar continuidade à esquerda com o ex-guerrilheiro José Mujica ou tornar realidade a chamada "revolução silenciosa" do ex-presidente liberal Luis Lacalle no segundo turno de eleições presidenciais complicadas por inundações e prognósticos de mais chuvas no país.

As pesquisas indicam a chapa Mujica-Danilo Astori, da coalizão de esquerda Frente Amplia (FA), como favorita com uma vantagem de entre seis e oito pontos percentuais em relação a Lacalle-Jorge Larrañaga, do Partido Nacional (centro-direita).

A projeção dos resultados realizada pela empresa Factum com base em sua pesquisa estima que a fórmula Mujica-Astori terá entre 51% e 52% dos votos, contra 44%-45% para Lacalle-Larrañaga, enquanto situa entre 3% e 5% de votos em branco ou nulos.

O grupo Cifra, por seu lado, atribui 51% à chapa do FA, 45,4% à da PN, com 3,6% de votos em branco ou nulos. A consulta da Equipos Mori indica 50,9%, 43,8%, e 5,3%, respectivamente, enquanto que a Interconsult projeta entre 51% e 52%, 44%-45% e 4%.

Favorito nas pesquisas e convicto de que derrotará Lacalle, Mujica já pensa na composição de seu governo e em fechar acordos com a oposição, apesar de seu partido ter toda chance de alcançar a maioria parlamentar.

Além de garantir que seu companheiro de chapa, Danilo Astori, se encarregue da gestão econômica, Mujica mostrou-se disposto a negociar acordos com a oposição sobre alguns temas - educação, segurança, energia e meio ambiente -, e a oferecer alguns ministérios.

A coalizão governista de esquerda Frente Ampla, pela qual Mujica é candidato, deve conseguir também a maioria parlamentar de 16 senadores (em 30) e 50 deputados (em 99).

[SAIBAMAIS]O Partido Nacional (PN, centro-direita) de Lacalle, por sua vez, terá nove senadores e 30 deputados; o Partido Colorado (PC, centro-direita), cinco senadores e 17 deputados; e o Partido Independente (PI, centro-esquerda), dois deputados.

Os dirigentes do PN sabem que suas chances de conseguir uma vitória no domingo são mais do que escassas, uma vez que todas as pesquisas dão significativa vantagem a Mujica em relação a Lacalle, que oscila entre os seis e oito pontos percentuais nas intenções de voto.

Apesar de já estarem se preparando para o dia seguinte à eleição, preferem lidar com a situação sem pressa.

"O que cabe é, primeiro, votar no domingo e esperar o resultado", disse à AFP Javier García, deputado e integrante do comando de campanha do PN.

"Primeiro precisamos ver quem vai ganhar, e depois ver por qual diferença", concordou Jaime Trobo, outro deputado do PN, para quem a oferta de Mujica à oposição busca um "impacto eleitoral".

"Um governo da FA terá ministros frentistas", insistiu.

Lacalle, porém, tem uma máxima: "deixar lugares vazios na política é um grave erro", porque "o poder é como o gás, odeia o vácuo".

Isso não implica, necessariamente, em aceitar ministérios, mas talvez preencher os espaços correspondentes à oposição nas diretorias das instituições autônomas e de empresas públicas, movimento que não fizeram na última administração, apesar de se tratar de um mandato constitucional.

No PC, por outro lado, "há disposição para ouvir e ver o que acontece" na FA, indicaram à AFP fontes do partido que pediram o anonimato.

Pablo Mieres, dirigente do PI, afirmou que "depois de domingo estamos totalmente dispostos a dialogar, porque já não será a proposta de um candidato, e sim do presidente eleito".

Integrar o gabinete "não é um fim em si mesmo", mas "a priori não podemos descartar nada", sobretudo "se forem alcançados acordos de conteúdo", estimou.

Para o analista Juan Carlos Doyenart, tanto PN quanto PC não devem aceitar integrar o gabinete.

"A estratégia opositora será desgastar o governo", disse à AFP.

Lacalle, por sua vez, diz apostar numa "revolução silenciosa", apesar de estar consciente de sua desvantagem: "Somos velhos amigos da derrota", afirmou, conformado.

As eleições terão como fator de complicação - principalmente nas áreas rurais - as inundações que são registradas em várias zonas do país, especialmente no norte e no litoral do rio Uruguai (limítrofe com a Argentina), que até o momento obrigaram a evacuar, segundo o Sistema Nacional de Emergência, 6.111 pessoas.

Nesse sentido, o Tribunal Eleitoral coordena com as Forças Armadas a distribuição do material eleitoral, segundo o ministro Edgardo Martínez Zimarioff falando à AFP.

A Direção Nacional de Meteorologia prognostica para o domingo precipitações e tempestades durante a tarde.

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