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Brasil - EUA: Seis meses sem embaixadores

Crise hondurenha e bloqueio a Cuba adiam nomeação do representante americano no Brasil

postado em 29/11/2009 08:00
A mudança de posição dos Estados Unidos sobre o conflito em Honduras, com a decisão de reconhecer o vencedor da eleição presidencial de hoje, bastou para convencer os senadores republicanos a retirarem o veto à nomeação de Arturo Valenzuela como subsecretário de Estado para assuntos interamericanos. Contudo, a indicação de Thomas Shannon ; antecessor de Valenzuela e objeto das mesmas restrições ; à embaixada dos EUA no Brasil foi mais uma vez embargada. Agora, é um senador da Flórida que questiona a atitude de Shannon em relação a Cuba, no período em que respondeu pela política externa para a América Latina. O impasse, que já dura seis meses desde a indicação do diplomata por Barack Obama, provavelmente fará com que o Brasil inicie 2010 sem embaixador americano.

Do lado oposto, está tudo pronto para que o atual embaixador do Brasil na Argentina, Mauro Vieira, assuma a representação em Washington. O diplomata recebeu o agreement do governo Obama e seu nome foi aprovado, no último dia 12, pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado brasileiro. Segundo fontes do Itamaraty, Vieira deve apresentar suas credenciais nos EUA na primeira quinzena de janeiro.

A embaixada americana está sem titular desde o fim de agosto, quando Clifford Sobel deixou o posto. Nos últimos três meses, quem respondeu pela representação foi a encarregada de negócios, Lisa Kubiske. Em Washington, o ;vácuo; aberto pelo embaixador Antônio Patriota, que assumiu em 20 de outubro como secretário-geral do Itamaraty, já dura um mês. Para especialistas, a presença dos embaixadores seria imprescindível neste momento, quando Brasília e Washington discordam em assuntos como a crise de Honduras e o programa nuclear do Irã.

O cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB), cita a recente ;troca de correspondências; entre Obama e o colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, como exemplo de uma situação que poderia ter sido resolvida de forma mais ;pessoal;. ;Se o Shannon estivesse aqui, talvez tivesse sido diferente. Isso porque, em vez de uma carta do Obama para o Lula, a mensagem teria sido entregue diretamente pelo embaixador;, arrisca Fleischer. O professor acredita que tanto no impasse hondurenho como na polêmica sobre as bases militares cedidas aos EUA pela Colômbia, a presença de um embaixador poderia ajudar a ;baixar um pouco a tensão;.

Lobby cubano

O responsável pelo novo bloqueio à confirmação de Tom Shannon como embaixador no Brasil é o senador republicano pela Flórida George LeMieux. Recém-chegado ao Congresso ; ele foi apontado pelo governador do estado há três meses, para substituir o aposentado Mel Martinez ;, LeMieux contestou a postura ;não muito dura; de Shannon em relação ao governo cubano, enquanto era subsecretário para as Américas. ;Sinto que tenho um papel e uma responsabilidade maiores que os outros senadores em tudo que diz relação à América Latina;, disse o congressita ao jornal Miami Herald. A Flórida tem expressiva população de origem cubana, historicamente republicana.

Conseguir prestígio entre os cubanos é a real intenção de LeMieux, segundo os especialistas. ;Ele quer abocanhar os votos. Está mirando em Obama, mas atira em Shannon;, afirma Fleischer. O pesquisador Philip Levy, do American Enterprise Institute, destaca que, na Flórida, as políticas local e internacional se misturam quando o assunto é Cuba. ;Shannon é apenas um peão neste tabuleiro mais amplo. O pano de fundo é a desconfiança sobre um afrouxamento da política para Cuba sob a administração de Obama e o Congresso democrata;, explica Levy.

Para ele, é ;profundamente lamentável; que mais um senador use a indicação de Shannon como objeto de barganha. ;Esta não é a maneira certa de tratar um dos nossos diplomatas mais distintos, nem um país tão importante como o Brasil. Há muitos negócios importantes entre os Estados Unidos e o Brasil para permitir um período tão longo sem um embaixador;, argumenta. Nove ex-subsecretários de Estado enviaram uma carta para pressionar LeMieux, argumentado que o atraso prejudica os interesses dos EUA na região. Fleischer acredita, porém, que o presidente terá de intervir. ;A pressão até aqui mobilizou gente que trabalhou em governos democratas e republicanos, como os de Bush e Bush pai. Mas talvez seja preciso, como foi nos outros dois casos (de restrições), de uma ação pessoal e individual do Obama.;

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