TEGUCIGALPA - Honduras, há cinco meses dividida pelo golpe de Estado que afastou do poder do presidente Manuel Zelaya, foi às urnas neste domingo em eleições presidenciais cujo vencedor terá, além do desafio de conciliar o país, que obter a legitimidade ante uma comunidade internacional em dúvida quanto a reconhecer ou não o resultado eleitoral.
A participação dos eleitores é um dos fatores que vai ter um papel fundamental no reconhecimento da votação e, conscientes disso, as autoridades de fato passaram o dia todo incentivando a população a ir às urnas.
Os dois principais favoritos, Porfirio Lobo, do Partido Nacional (PN), e Elvin Santos, do Partido Liberal (PL) - ambos de direita - acreditam que essas eleições são a única saída para a crise desatada pela destituição de Zelaya, do PL, mas que se voltou para a esquerda durante sua gestão.
O centro de apuração do Supremo Tribunal Eleitoral, instalado num hotel da capital, começava a receber os resultados de todo o país, mas será preciso esperar até 01h00 desta segunda-feira para que os meios de comunicação possam torná-los públicos.
Zelaya, que permanece refugiado na embaixada do Brasil, pediu que a população se abstivesse de votar, já que considera ilegítima a votação organizada pelo regime de Roberto Micheletti, que o sucedeu no poder.
Zelaya inclusive pediu a seus seguidores que registrassem com fotos a movimentação junto às urnas porque, segundo ele, o regime de fato vai tentar fraudar as atas para dizer que a votação foi maciça.
A participação, que segundo Tribunal Eleitoral foi maciça e, segundo a imprensa local, ronda os 40%, pode influenciar na legalidade da votação.
Micheletti, que se afastou temporariamente da presidência para não perturbar o processo eleitoral, exortou os hondurenhos a votar para demonstrar ao mundo que Honduras é uma democracia.
"Esperamos que os governos do mundo entendam que somos homens e mulheres que queremos viver em democracia e que não há dinheiro ou petróleo no mundo que possa dobrar o espírito e a responsabilidade que este povo tem com a democracia", disse.
Até agora, apenas Costa Rica, Panamá e Peru anunciaram que reconhecerão as eleições, enquanto que a maioria dos países latinos, como Argentina, Brasil, Venezuela, Nicarágua, Guatemala e Uruguai já disseram que não vão reconhecer o resultado.
O reconhecimento dos Estados Unidos dependerá da transparência das eleições, enquanto que a União Europeia (UE) ainda não se pronunciou a respeito.
O secretário-geral da Organização de Estados Americanos, José Miguel Insulza, informou que no próximo dia 4 o Conselho Permanente da OEA analisará em Washington as eleições hondurenhas deste domingo.
Indagado sobre o apoio ao reconhecimento dos resultados das eleições expressado pela Costa Rica, Panamá e Peru, Insulza respondeu: "Entendo que ninguém está sugerindo reconhecer o governo de fato; o que os governos estão falando é de depois de 27 de janeiro" (data da posse do novo governo eleito hoje).
A tranquilidade que marcou o dia foi ofuscada quando várias pessoas ficaram feridas na repressão da polícia contra uma manifestação dos seguidores de Zelaya, na localidade hondurenha de San Pedro Sula (norte).
Entre os feridos se encontra um cinegrafista da agência Reuters, que levou vários pontos na cabeça em um hospital da capital econômica de Honduras.
As forças de segurança reprimiram com bombas de gás lacrimogêneo neste domingo uma manifestação de cerca de 2.000 pessoas pertencentes à Frente da Resistência contra o Golpe de Estado, que protestavam de forma pacífica para reclamar a liberdade e a volta de Zelaya.
A Frente da Resistência convocou na sexta-feira um "toque de recolher popular" para que os hondurenhos não votassem nas eleições e evitassem sofrer a repressão por parte das forças sob comando do governo de fato.
Cerca de 30.000 militares e policiais foram mobilizados pelo regime de Micheletti para distribuir o material eleitoral e garantir a segurança nos locais da eleição.
Segundo o ativista de direitos humanos americano, Tom Loudon, pelo menos 28 pessoas foram presas e muitas delas agredidas.