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Saída prematura dos americanos é arriscada para o Afeganistão e o Paquistão

Agência France-Presse
postado em 03/12/2009 15:55
Uma retirada muito rápida das tropas americanas do Afeganistão poderia desestabilizar não apenas este país mas, também, o Paquistão vizinho, "epicentro do terrorismo" islamita, segundo Washington, e toda a região, advertem especialistas. [SAIBAMAIS]O presidente Barack Obama, ao anunciar o envio de reforço, na terça-feira, fixou para o verão de 2011, no Hemisfério Norte, o início de uma retirada progressiva - uma decisão criticada não apenas pelos adversários conservadores nos Estados Unidos, mas que preocupa, também, a região. O anúncio de retirada "vai excitar o moral dos terroristas e lhes dará a esperança de retornarem ao poder. E esta situação será considerada ideal por fundamentalistas e militares paquistanesas para restabelecer seu poder no Afeganistão," estima Ahmad Behzad, pesquisador e deputado afegão oposto ao presidente Hamid Karzaï. O Paquistão é suspeito, no Afeganistão, de procurar preservar uma estratégia que consistiu, na década de 90, mas também após 2001, segundo Cabul, em apoiar os talibãs como forma de represar a influência crescente do vizinho e eterno rival indiano. Mas Islamabad também é um alvo de seus próprios fundamentalistas aliados à Al-Qaeda, com Osama Bin Laden na cabeça; assim, numerosos talibãs se refugiaram em zonas tribais paquistanesas, na fronteira, quando as forças internacionais os tiraram do poder em Cabul no final de 2001. E o Paquistão, pressionado por Washington a fazer mais contra os islamitas radicais, teme que o envio de reforços ao Afeganistão impulsione os talibãs a ultrapassar sua fronteira, desestabilizando muito uma região já em dificuldade. Islamabad, além disso, pediu "esclarecimentos" sobre a nova estratégia americana. Os talibãs paquistaneses, seguindo os traços de Bin Laden, decretaram em 2007 a jihad, a guerra santa, a Islamabad por seu apoio a Washington em sua "guerra contra o terrorismo". O país está, desde então, confrontado a uma onda sem precedente de atentados, essencialmente de camicazes, que fizeram 2.600 mortos. "O Afeganistão vai novamente se desestabilizar. E, naturalmente, isso afetará o Paquistão," estima em Islamabad Mahmood Shah, ex-comandante do exército nas zonas tribais paquistanesas. Além disso, a presença fundamentalista multiplica-se no país: Al-Qaeda, talibãs afegãos em busca de zonas de refúgio, talibãs paquistaneses combatendo o exército, grupos armados da Caxemira que se opõem à Índia... "O problema do Paquistão, é que não pode se bater contra quatro ou cinco frentes ao mesmo tempo e é isso que os Estados Unidos não querem compreender", explica Hasan Askari, professor da Universidade paquistanesa e especialista em segurança, invocando a impossibilidade de se deixar desguarnecida a fronteira com a Índia, num contexto de tensões entre as duas potências atômicas. Ainda mais que a obsessão de Islamabad é o "outro front", a fronteira oriental com a Índia, que o Paquistão enfrentou em três guerras desde a criação dos dois países em 1947. Obsessão reforçada pelo fato de a Índia movimentar desde o final de 2001 seus peões no Afeganistão, onde mantém ligações estreitas com o governo, multiplicando seus consulados. Nestas condições, "é claro que o Paquistão não quer renunciar ao trunfo estratégico no Afeganistão representado pelos talibãs", estima Haroun Mir, diretor do Centro de Pesquisas e Estudos Políticos de Cabul. Mas ele se mostra menos pessimista que outros e pensa que o anúncio de um calendário de retirada nada mais é do que destinado a tranquilizar uma opinião pública americana mais e mais reticente ao envio de seus "boys" ao lamaçal afegão. "Estou quase certo de que a comunidade internacional não pode abandonar o Afeganistão e deixar um Paquistão instável com a posse plena da arma nuclear e onde a Al-Qaeda se estende a cada dia", comenta ele.

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