postado em 04/12/2009 08:00
O jornalista Mohammad Olad Hassan esteve a apenas cerca de um metro da morte. Por telefone, de MogadÃscio, ele contou ao Correio que não se lembra de quase nada do exato momento da explosão no Shamo, um confortável hotel situado a 10 minutos do centro da capital da Somália, em um setor ainda controlado pelas forças de segurança locais. Às 11h30 (6h30 em BrasÃlia), um extremista disfarçado de mulher detonou os explosivos atados ao corpo durante uma formatura da Universidade Banadir. Apesar de nenhum grupo ter reivindicado a autoria, as suspeitas recaem sobre a facção Al-Shabab (1), que luta pela criação de um Estado regido pela sharia (lei islâmica).
O ataque - um dos mais ousados da história do paÃs - matou 22 pessoas, incluindo três altas autoridades do Governo Federal de Transição (TFG, pela sigla em inglês): a ministra da Saúde, Qamar Aden Ali, e os ministros Ibrahim Hassan Adow (do Ensino Superior) e Abdullah Wayel (da Educação). Até o fechamento desta edição, o ministro dos Esportes, Suleyman Olad Roble, lutava pela vida, hospitalizado em situação crÃtica. Dois jornalistas e dois professores também não resistiram aos ferimentos.
"A imensa explosão ocorreu no meio da cerimônia, quando três estudantes recebiam os canudos após concluÃrem os cursos medicina, ciência da computação e engenharia. Foi na primeira fileira, onde os ministros estavam sentados", relatou Hassan à reportagem. O repórter - que trabalha como correspondente da emissora britânica BBC - monitorava a tradução dos discursos e aguardava o instante em que os ministros sairiam de seus lugares e saudariam os presentes. "No momento do ataque, houve o caos. Eu acho que tive sorte, pois todas as pessoas que estavam à minha frente ficaram feridas ou estão mortas", afirmou o jornalista, que escapou ileso. Hassan descreveu o cenário imediatamente após o atentado. "Eu não me lembro como aconteceu, mas tudo o que eu podia ver eram pessoas no chão, em meio a muito sangue, algumas gritavam e outras choravam por ajuda."
O também jornalista Mohammed Omar Hussein, da Rádio Somaliweyn, também testemunhou a explosão. "É difÃcil descrever. Foi algo horroroso. Vi os ministros estirados no chão e os médicos ao redor", relatou ao Correio, também por telefone. "Não vi o terrorista. Mas sei que foi alguém que já estava no hotel antes mesmo do inÃcio da cerimônia da colação de grau." Imediatamente após a explosão, ele se recorda de ter visto muita fumaça. "Meus olhos ardiam. Vi que o ministro dos Esportes parecia morto, estava coberto por sangue, mas eu não sabia se o sangue era dele ou se havia sido jorrado de outra pessoa durante a explosão", acrescentou. Questionado sobre o envolvimento do Al-Shabab, Hussein disse que um porta-voz do grupo islâmico foi entrevistado por uma emissora de rádio, na noite de ontem, quando negou a participação no ataque.
Vestimentas
Um vÃdeo divulgado pelo TGF mostrou o ex-ministro da Saúde Osman Dufle discursando, quando a câmera começou a sacudir. Dufle contou aos jornalistas ter visto uma pessoa vestida de negro se movendo pelo auditório segundos antes da explosão. Em uma coletiva de imprensa, o presidente Sheikh Sharif Sharif culpou o Al-Shabab e exibiu o corpo do terrorista, que usava barba. Um repórter da Rádio MogadÃscio que presenciou a cena relatou à rede de TV CNN que Sharif mostrou os restos do cinturão-bomba e partes de um hijab - vestuário usado por mulheres muçulmanas para refletir modéstia.
O ministro da Informação, Dahir Mohamud Gelle, classificou o incidente de "desastre nacional". Por sua vez, a Força da União Africana na Somália (Amisom) reagiu ao atentado com perplexidade. "A Amison expressa sua mais firme condenação a este atentado suicida cometido por grupos da oposição armada, no qual morreram ministros do TFG e cidadãos comuns", anunciou a entidade, por meio de um comunicado oficial.
Ouça entrevista do jornalista Mohammad Olad, sobrevivente do atentado (em inglês)