postado em 05/12/2009 09:31
O Palácio do Planalto e o Itamaraty ainda não afinaram o discurso quando o assunto é Honduras. Ontem, foi a vez de a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, declarar que as eleições presidenciais no país centro-americano devem ser levadas em consideração pelo governo brasileiro. %u201CHouve uma eleição. Há uma nova situação. Esse processo vai ser considerado%u201D, disse Dilma na Alemanha, onde acompanha o presidente em visita oficial. %u201CNão podemos desconsiderar o golpe, mas também não podemos desconsiderar as eleições.%u201D
A ministra reconheceu que a situação ainda é %u201Cbastante turbulenta%u201D em Honduras. %u201CContinuamos divergindo (de outros governos) em chamar o governo do (presidente interino Roberto) Micheletti de algo que não seja um golpe de Estado. Vamos ter que levar isso agora em consideração%u201D, destacou. As declarações coincidem com um momento em que Dilma, como pré-candidata à sucessão de Lula, precisa demonstrar conhecimento não apenas de assuntos domésticos, mas também de temas internacionais. Em entrevista à BBC Brasil, ela citou as recentes viagens ao exterior em companhia do presidente como uma vantagem em política externa.
No mesmo dia, na capital alemã, o assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, defendeu outro discurso: o de que o Brasil vai manter a decisão de desconsiderar as eleições hondurenhas, acrescentando que as negociações sobre o futuro do país devem ser retomadas pela Organização dos Estados Americanos (OEA). No início da semana, Lula e o chanceler Celso Amorim haviam reiterado a posição brasileira de não reconhecer as eleições em Honduras, uma vez que o presidente deposto Manuel Zelaya ainda não foi reconduzido ao poder. O Itamaraty confirmou ao Correio que não houve mudanças na orientação da política externa em relação a Honduras.
Os representantes da OEA se reuniram ontem em Washington para buscar um consenso sobre a crise, mas o encontro fracassou. Os países se dividiram em dois grupos: um, liderado pelos Estados Unidos, defende a legitimidade do pleito; o outro, composto pelos países do Mercosul e pelos da Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), insiste em não reconhecer a eleição de Porfírio Lobo. O secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, admitiu que a instituição não tem muitas opções e que depende de cada país tomar, em relação a Honduras, as medidas bilaterais que julgar pertinentes. Por outro lado, o Parlamento Latino-Americano (Parlatino) suspendeu o Congresso hondurenho de participar do órgão conjunto, depois da votação contrária à volta de Zelaya ao poder. Entre 123 parlamentares de 12 países, 103 aprovaram a punição, sete votaram contra e três se abstiveram.
Apesar de vários governos da região ainda lutarem pela volta de Zelaya à presidência, a Frente de Resistência contra o Golpe de Estado em Honduras desistiu da bandeira. %u201CVamos seguir a luta, agora apenas pela Constituinte, não pela restituição de Zelaya%u201D, declarou Juan Barahona, coordenador geral do movimento, integrado por or ganizações sociais. %u201CNem ele (Zelaya) mesmo quer mais a restituição, depois da votação do Congresso%u201D, resignou-se Barahona.