MÉXICO - Uma quadrilha que sequestrou e escravizou pelo menos 102 pessoas foi desarticulada na Cidade do México, e algumas das vítimas, que têm entre 14 e 70 anos, relataram nesta sexta que foram submetidas a trabalhos forçados e explorados sexualmente, sob a fachada de um centro de recuperação de toxicômanos.
Segundo as autoridades, a quadrilha usava o centro de desintoxicação ;Os eleitos de Deus;, localizado em um bairro popular da capital mexicana, para escravizar as pessoas, com jornadas de trabalho de até 16 horas sem receber qualquer pagamento.
A subprocuradora de Atenção a Vítimas de Crime, Dilcya García, disse à AFP que este é um caso sem precedentes no México.
A maioria dos ocupantes do centro era de origem indígena, oriundos da capital e de outros 12 estados do país. Vários deles sequer falam espanhol.
No centro, eram obrigados a trabalhar na fabricação de sacolas e pregadores de roupa, recebiam comida estragada e dormiam acorrentados, muitos no chão, segundo relatos das próprias vítimas.
Elas afirmam ter sido sequestradas nas imediações da Central de Abastecimento, principal centro de distribuição de alimentos da superpovoada capital mexicana.
Pilar Armas, do estado de Oaxaca (sul) disse ter ido ao centro enganado por homens vestidos de policiais.
"Me falaram que iam fazer um exame de sangue em mim e eu fui satisfeito (...). Depois me mantiveram como escravo. Foram quase 90 dias preso, sem comunicação com a minha família", contou Armas.
Segundo o procurador da capital Miguel Ángel Mancera, "presume-se que tenha havido mais pessoas" exploradas no esquema, já que algumas testemunhas relataram ter visto pelo menos 300 pessoas.
"No grupo dos adolescentes, temos depoimentos que indicam a prática de exploração sexual de vários deles", declarou Mancera, sem dar mais detalhes.
De acordo com o procurador, mais duas pessoas foram presas nas últimas horas, suspeitas de pertencerem à quadrilha. Com elas, já são 25 os suspeitos detidos neste caso desde quinta-feira passada, quando começou a operação de resgate das vítimas.
O suposto líder do bando também foi preso pela polícia.