postado em 06/12/2009 10:05
Cerca de 5 milhões de bolivianos saem para votar hoje não apenas para decidir sobre um novo mandato de cinco anos para Evo Morales, mas para definir a configuração do Estado boliviano. Todas as pesquisas eleitorais preveem uma vitória disparada para o atual presidente, que deve alcançar 55% dos votos, contra 18% para o opositor e ex-governador de Cochabamba, Manfred Reyes Villa, e apenas 10% para o empresário do ramo de cimentos e fast-food, Samuel Doria Medina. Com esse cenário, o que está realmente em jogo não é a presidência, mas o controle da Assembleia Legislativa Plurinacional (novo nome do Congresso Nacional), aprovada em janeiro deste ano.O partido de Morales, Movimento ao Socialismo (MAS), já garantiu a maioria na Câmara dos Deputados e luta agora para ganhar ao menos dois terços do Senado, o que lhe permitirá desenhar um novo país sob medida. Morales busca o ;senador de ouro; ; ele precisa apenas de mais um parlamentar para garantir a maioria que lhe permitiria reformar a Constituição. ;Em nossas pesquisas, faltaria um senador para conseguirmos os dois terços. Estamos lutando por este senador de ouro;, disse o vice-presidente Álvaro García Linera nesta semana.
Para o analista político Fernando Mayorga, os bolivianos terão que decidir sobre o pluralismo da democracia boliviana. ;Morales parece ter o caminho facilitado com uma nova Constituição que ainda deve ser implementada e, possivelmente, um Legislativo dominado pelo MAS. Em suas últimas aparições públicas dobrou a aposta de que conseguirá os dois terços da votação;, disse.
Reformas
Com a maioria nas duas casas ; que totalizam 130 deputados e 36 senadores ;, o Executivo conseguiria convencer o Legislativo a fazer suas reformas, entre elas, a permissão para novas reeleições. Morales pretende ocupar o vazio nas instituições democráticas que deixaram de existir ou estão incompletas, como o Tribunal Constitucional, o Tribunal Supremo de Justiça, a Promotoria Pública e o Banco Central.
Os observadores da União Europeia estão preocupados com vários processos penais contra Reyes, que aparece em segundo lugar nas pesquisas. Ele é acusado de corrupção para manipular votos. Por sua vez, o colega de chapa, o ex-governador de Pando, Leopoldo Fernández, sofre um processo pela morte de 13 camponeses em um conflito em seu departamento (estado), em 2007.
Assim, Morales não tem fortes candidatos na oposição, que se manifesta por meio de empresários, intelectuais e líderes departamentais ; principalmente da rica Santa Cruz ;, ávidos pela renovação da projeção nacional. ;A oposição que fracassou em 2008 na sua tentativa de desestabilizar não democraticamente Morales, viu-se encurralada pela identificação emocional da maioria com o presidente e seu partido. A oposição respira um ar derrotista;, afirma o ex-presidente Carlos Mesa.
Ao finalizar sua campanha, na quinta-feira, com um comício perto de La Paz, Morales disse que a oposição das oligarquias e da imprensa que anunciam fraudes eleitorais ;já foi derrotada;. Por outro lado, Linera alerta que a oposição está ;sem projeto político, mas com poder econômico, e isso lhe permite tentar articular outro projeto;.
Ontem, Evo Morales recebeu delegados da Organização dos Estados Americanos (OEA), que estão no país acompanhando o processo eleitoral. Chefe da missão de observadores, o colombiano Horacio Serpa destacou que o clima de tranquilidade prevalece, a despeito de atos de violência isolados. ;Estamos confiantes de que o processo de amanhã (hoje) vai ocorrer de maneira transparente e democrática;, afirmou. Serpa destacou que ;há menos tensões que em outras épocas, e que ainda que todo episódio violento seja condenável (...), de maneira geral este é um processo eleitoral pacífico;.
Os adversários do presidente
Manfred Reyes Villa
(Plano Progresso para Bolívia - PPB)
Ex-governador de Cochabamba e militar com longa carreira na política, focou sua campanha em conquistar os votos anti-Morales, com promessas de acabar com o que chama de ;totalitarismo; imposto pelo presidente e devolver o Estado de direito ao país. Manfred diz que o eleitor tem apenas duas opções hoje: o ;enfrentamento, a divisão, a ameaça e os presos políticos; do governo Morales ou ;o progresso, a unidade, a paz, a liberdade e o fortalecimento do Estado de direito; de sua chapa. Escolheu o ex-governador de Pando, Leopoldo Fernández, como vice. Leopoldo foi preso por desrespeitar o estado de sítio decretado em seu departamento após o massacre de camponeses pró-Morales em setembro de 2008. O ex-governador acabou destituído do cargo e ainda aguarda o julgamento.
Samuel Doria Medina
(Partido Unidade Nacional)
Um político milionário que, aos 51 anos, tenta pela segunda vez se eleger presidente da Bolívia, com a proposta de realizar uma revolução produtiva ; baseada em sua experiência como próspero empresário, dono de uma indústria de cimento e da franquia da Burger King no país. ;Muitas vezes rezei achando que seria a última oração, mas, graças a Deus, sobrevivi;, disse, depois que saiu ileso de um acidente aéreo em 2005 e foi vítima de um sequestro que durou 45 dias nas mãos do grupo rebelde peruano Tupac Amaru em 1995. Medina entrou para a política em 1984 e, cinco anos depois, foi eleito ministro do Planejamento e Coordenação, seguindo uma ampla privatização de empresas públicas na década de 1990. Faz oposição moderada a Morales.