postado em 09/12/2009 08:03
Fatema Abdul Mahdy, 22 anos, ouviu três imensas explosões por volta das 10h25 (5h25 em BrasÃlia) de ontem. A estudante do quarto ano de medicina cumpria mais um dia de residência no Hospital Madena Al-Tib (Cidade Médica, em Ãrabe), localizado no distrito de Bab Al-Mua%u2019dam (leste de Bagdá), e foi forçada a conviver com a face mais cruel de sua profissão. Pela internet, ela contou ao Correio que mortos e feridos começaram a chegar ao pronto socorro cerca de 15 minutos depois. "Foi um momento muito emotivo quando vimos todas aquelas vÃtimas. Os parentes estavam chorando. Todos ficamos chocados com o imenso número de feridos", afirmou. "Vi muita gente chegando sem vida, com ferimentos graves na cabeça e com o corpo despedaçado", acrescentou.
Não muito longe do hospital, pertencente à Universidade de Bagdá, quatro carros-bomba explodiram quase simultaneamente. Meia hora antes, no distrito de Doura, mais ao sul, um terrorista havia lançado seu carro lotado de explosivos contra uma patrulha da polÃcia, diante do Instituto de Tecnologia, matando três policiais e 12 estudantes. Até o fechamento desta edição, o saldo dos cinco atentados terroristas era de 130 mortos e 448 feridos.
"Toda a Bagdá escutou o barulho das explosões", afirmou à reportagem Mustafa Jabar Fahad, um técnico em telecomunicações de 23 anos, apenas duas horas depois dos atentados. "Eu estava no trabalho e soube que alguns restaurantes de grelhados, perto daqui, sofreram com o impacto da segunda explosão", disse. Segundo Mustafa, um amigo entrou em choque porque estava muito próximo ao local. "Ele me disse que nunca tinha visto uma explosão daquele porte e presenciou tropas norte-americanas descendo até a rua atingida."
Os quatro atentados na região central de Bagdá tiveram alvos especÃficos: a Corte Civil de Karkh, o Ministério do Trabalho e dos Assuntos Sociais, o Ministério das Finanças e o Mercado Rafasi, próximo ao Ministério da Saúde. Segundo o jornal The New York Times, o mais sangrento ocorreu diante da Corte Civil de Karkh, no distrito Al-Mansour. Um suicida colidiu seu carro contra um posto de controle, deflagrando uma violenta explosão e matando dezenas de pessoas, incluindo vários juÃzes. A força da detonação espalhou destroços por uma grande área, atingindo escolas e o prédio do Instituto de Artes. Segundo a rede de TV Al-Arabyia, fontes do governo confirmaram que os extremistas usaram explosivos plásticos C-4, para fazer o maior número possÃvel de vÃtimas.
O terceiro atentado em série mais sangrento do ano ocorreu menos de 24 horas depois de o Conselho Presidencial marcar as eleições gerais para 6 de março de 2010. O porta-voz da Presidência do Iraque, Nasser Al-Ani, anunciou que o pleito seria adiado em apenas um dia. Para o iraquiano Louay Bahry, cientista polÃtico da Universidade do Tennessee e ex-professor da Universidade de Bagdá, os ataques tiveram o claro propósito de estremecer o governo do premiê Nuri Al-Maliki. "O objetivo é mostrar a incapacidade do governo de garantir a segurança nas cidades e, por isso, dependerá sempre das tropas norte-americanas", explicou ao Correio, por telefone, de Washington. "Também é um aviso dos extremistas de que Bagdá não tem inteligência suficiente para se antecipar aos ataques e desmantelar os complôs."
Bahry não descarta que a intensificação dos atentados possa levar a uma guerra civil entre sunitas e xiitas e admite que os alvos de ontem se encaixam em uma conspiração contra Al-Maliki. "Os ataques de agosto, de dezembro e de ontem atingiram ministérios e paralisaram o trabalho do governo, além de provocarem medo entre os cidadãos", disse. Al-Maliki acusou terroristas da rede Al-Qaeda e simpatizantes do ex-ditador.
Saddam Hussein. "Bandos criminosos da Al-Qaeda e do Partido Baath cometeram esses ataques, respaldados por pessoas no exterior. Eles têm o objetivo de atrapalhar o processo polÃtico", declarou o premiê.
REPÚDIO BRASILEIRO
No fim da tarde de ontem, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro divulgou nota sobre os ataques. %u201CO governo brasileiro recebeu, com profunda consternação, a notÃcia dos atentados terroristas ocorridos no Iraque (%u2026), que deixaram grande número de mortos e feridos%u201D, afirma o comunicado. No texto, o Itamaraty lembra que um dos ataques, perpetrado contra a Corte Civil de Karkh, atingiu as instalações onde funcionará, no futuro, a Embaixada do Brasil em Bagdá, provocando danos materiais. %u201CAo reiterar seu repúdio a todas as formas de terrorismo, o governo brasileiro manifesta suas mais sinceras condolências e oferece sua solidariedade aos familiares das vÃtimas, ao povo e ao governo do Iraque%u201D, conclui a nota de número 655.