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Piñera e Frei disputarão o segundo turno das eleições chilenas

postado em 14/12/2009 08:55
A segunda contagem oficial de 60% das urnas no Chile confirmaram as pesquisas de opinião. A votação para renovar o Congresso e escolher o novo presidente do país ocorreu em um clima tranquilidade nas ruas e a certeza de uma nova disputa marcada para 17 de janeiro. O candidato da direitista Coalizão para a Mudança, o empresário Sebastián Piñera, com 44,23%, vai disputar o segundo turno contra o representante da Concertação, Eduardo Frei, com 30,50%. Em terceiro lugar apareceu o candidato independente Marco Enríquez-Ominami, com 19,39% dos votos, seguido pelo esquerdista Jorge Arrate, com 5,86%. Apesar de ter quase 80% de apoio dos chilenos, a atual presidenta Michelle Bachelet não pôde concorrer a um segundo mandato, porque a Constituição chilena não permite. Nenhum dos quatro principais candidatos conseguiram garantir a maioria de metade dos votos mais um. "Todos sabemos que haverá um segundo turno, sendo assim, este primeiro turno será muito importante", disse Bachelet, minutos depois de depositar seu voto em Las Condes, rico distrito de Santiago. Já o senador Jorge Pizarro, também da Concertação, criticou as pesquisas de opinião que indicavam apenas entre 26% dos votos para Frei. "Ganharemos esta eleição no segundo turno, voto a voto...", afirmou. Ciente de seu fraco desempenho nestas eleições, Arrate pediu que todos os setores progressistas se unam para evitar um triunfo da direita no país no segundo turno. A proposta foi bem-vista por Frei e criticada por Piñera. "Quando alguém se une somente para que o outro não ganhe está mostrando muita pobreza e por isso espero que se eles querem fazer qualquer pacto, que o façam, estão em seu direito, mas façam um pacto para o futuro, um pacto positivo, construtivo, a favor de algo", protestou Piñera, que tem uma fortuna avaliada em US$ 1,2 bilhão. Frei, por outro lado, pediu uma chance para o bloco de partidos de centro-esquerda, que governa o Chile há 20 anos. "Quando votarem, pensem no futuro, pensem o que é o que vamos fazer adiante", pediu. Congresso O forte calor não impediu que cerca de 8,3 milhões de chilenos saíssem de casa ontem em direção aos colégios eleitorais, para renovar também a Câmara dos Deputados, composta por 120 membros, e 20 dos 38 assentos do Senado. A primeira contagem indicou que a Câmara dos Deputados ficará dividida entre os principais blocos de poder no Chile: Concertação e Juntos Podemos alcançou 44,63% e Coalizão para a Mudança, 43%. No Senado, Concertação e Juntos Podemos ganharam nas regiões do Atacama (46,35%), de Maule (54,36%) e Aysén (38,74%). Por outro lado, a Coalizão para a Mudança venceu em Arica e Parinacota (36,11%), Tarapacá (43,25%), Valparaíso (47,37%) e La Araucanía (45,06%). Morte na fila Os únicos incidentes registrados foram a morte de um homem de 79 anos, por parada cardiorrespiratória em um colégio eleitoral, e o assalto à sede do comitê de candidatura de um deputado. O idoso sofreu o ataque cardíaco na cidade de Concepción, a 515 quilômetros ao sul de Santiago, e chegou a ser levado de ambulância para um hospital próximo, onde faleceu. Entrevista // José Lara Consultado pelo Correio, o diretor da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso) no Chile, José Lara, avalia as principais questões do pleito chileno, que promete mudar o cenário político do país. Como podemos explicar a alta popularidade da presidenta Michelle Bachelet e a baixa popularidade da Concertação com Eduardo Frei? A presidenta da República representa muito mais do que a Concertação - os partidos que são base de seu governo, principalmente pelo bom manejo da crise econômica, com ênfase em políticas sociais. Além disso, ela tem uma liderança única de características pessoais muito diferente da de (Eduardo) Frei. Ele é o candidato da Concertação. Não obstante, a coalizão teve problemas, divisões, decisões erradas e complexas, o que repercutiu para que Frei não tenha conseguido representar a totalidade dos partidos e setores que historicamente a Concertação representou. A diretora do Latinobarômetro, Marta Lagos, afirmou recentemente que o país se encontra dividido em dois. Que divisão seria essa? A divisão está no modelo eleitoral. Com uma escassa renovação desde o plebiscito de 1988, continua vigente o eixo direita/esquerda, ditadura/democracia. Isso significa que Piñera, o candidato da direita, aglutina quase a totalidade dos eleitores históricos da direita. E os candidatos da centro-esquerda, de forma geral, reúnem os eleitores da centro-esquerda, além da histórica esquerda extraparlamentar. O senhor considera que o próximo presidente do Chile terá a intenção de convocar uma Constituinte? Se a direita ganhar as eleições, não haverá mudança alguma na Constituição, porque não está dentro de suas prioridades, e as forças conservadoras não estão aí para aprofundar a democracia. Se Frei vencer, efetivamente haverá uma mudança constitucional. Se isso aconteceria no congresso, por meio de representantes, ou por constituintes, isso ainda seria discutido %u2014apesar de que penso que via constituinte seria mais difícil. Seria o Congresso o melhor caminho para levar adiante uma mudança constitucional. O governo de Bachelet conseguiu encaminhar o Chile em uma política de integração com a América do Sul. Quais são as propostas dos principais candidatos para a região? O senhor considera que poderia haver uma mudança na política externa do Chile no próximo mandato? Frei sugere uma política externa que contribua para avançar o desenvolvimento, que crie uma liderança do país, articulado com distintos esquemas de integração, no qual a América Latina se transforme em um ator importante no sistema internacional. O ex-presidente quer reforçar o compromisso para fortalecer a União Sul-americana de Nações (Unasul), desativar os conflitos com a América do Sul e promover um espaço de coordenação política com nossos vizinhos, assim como entre Brasil e México. Já Marco Enríquez prioriza a relação com os países vizinhos e Piñera pensa como suas prioridades aprofundar os acordos comerciais, promover una aliança estratégica com os Estados Unidos e favorecer uma zona de livre-comércio na América. De forma geral, não considero que exista uma mudança na política externa do país. Haverá ênfases distintas, mas será no marco da inserção global do Chile a partir da América do Sul. (VV)

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