postado em 18/12/2009 09:05
O "número dois" da Organização das Nações Unidas (ONU) no Afeganistão buscou a ajuda do governo norte-americano para tirar o presidente Hamid Karzai do poder pouco antes das eleições que lhe deram novo mandato. A revelação foi feita por dois funcionários da ONU, que denunciaram ao jornal The New York Times o esquema proposto pelo americano Peter Galbraith, ex-chefe adjunto do organismo em Cabul. A ideia era forçar Karzai a renunciar e colocar em seu lugar um presidente mais "pró-Ocidente", como os ex-ministros Ashraf Ghani, das Finanças, e Ali Jalali, do Interior. No entanto, o plano de Galbraith - conhecido pelo gabinete do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon - foi abortado com a demissão do funcionário, em setembro.
Galbraith teria usado as evidências de fraude generalizada no primeiro turno das eleições, em 20 de agosto, para justificar o esquema. O funcionário, colocado no posto com um forte apoio do enviado americano para o Afeganistão, Richard Holbrooke, chegou a tentar marcar um encontro com o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, mas foi demitido antes. Segundo o NYT, Karzai ficou "irritado" quando soube do plano do protegido de Holbrooke.
Consultado pelo jornal norte-americano, Galbraith afirmou que apenas discutiu, mas nunca levou adiante a ideia de convencer Karzai a deixar o cargo. "Houve discussões internas. Tenho certeza de que discuti a crise (sobre as fraudes) e tenho certeza de que discuti uma saída. Mas isso é completamente diferente de agir", ressaltou. A porta-voz da embaixada americana em Cabul, Hayden Caitli, confirmou que o ex-funcionário debateu o plano com o vice-embaixador, Frank Ricciardone - que o rejeitou na mesma hora. "A embaixada norte-americana desencorajou alternativas teóricas para as eleições, sempre que foram levantadas por qualquer parte, mesmo reconhecendo as falhas no processo", afirmou.
O ex-funcionário da ONU também manteve contato com Tony Blinken, membro da equipe de Biden, enquanto ainda era chefe adjunto. "Galbraith disse a Blinken que ele tinha ideias sobre o Afeganistão e que desejava falar sobre elas. Blinken disse que ficaria feliz em discuti-las. No entanto, o encontro nunca ocorreu", garantiu James Carney, porta-voz de Biden, ao NYT. O enviado dos EUA ao Afeganistão, porém, disse que não sabia da intenção de tirar Karzai do poder. "Isso não reflete de modo algum qualquer ideia da secretária (Hillary) Clinton ou de qualquer outro no Departamento de Estado."
Para o ex-funcionário das Nações Unidas, a demissão não está ligada ao projeto de renúncia de Karzai, mas aos desentendimentos constantes com seu chefe direto, o norueguês Kai Eide. Segundo ele, Eide tentava amenizar as fraudes que beneficiaram Hamid Karzai no primeiro turno. Vijay Nambiar, chefe de gabinete de Ban Ki-moon, entretanto, admitiu que o "plano" foi "um entre muitos fatores".
Paquistão
No país vizinho, líderes da oposição também querem a renúncia do presidente Asif Ali Zardari, depois que a Suprema Corte do país declarou ilegal a anistia concedida pelo ex-presidente Pervez Musharraf, relativa a crimes de corrupção. Segundo Siddiqul Farooq, porta-voz da Liga Muçulmana do Paquistão Nawaz, a renúncia de Zardari é uma "obrigação moral". "Todos os membros do gabinete devem entregar seus cargos", defendeu. O atual presidente é acusado de desviar US$ 1,5 bilhão em recursos públicos e, atualmente, enfrenta forte oposição da população por sua dificuldade em conter a insurgência (1) e a crise econômica.
1- Mísseis matam 12
Dois ataques com mísseis norte-americanos contra áreas tribais próximas à fronteira com o Afeganistão deixaram, pelo menos, 12 mortos em território paquistanês. Segundo autoridades locais, cinco aviões não tripulados dispararam ao menos sete mísseis em "várias casas na zona de Ambarshaga", no Waziristão do Norte, matando mais de 10 milicianos. Outros dois insurgentes morreram horas antes, em um ataque similar contra uma casa em Dattakhel, vilarejo a 30km de Miranshah, no Waziristão do Sul. "O avião sem piloto disparou dois mísseis que mataram dois milicianos", disse um representante de segurança de Miranshah. Os EUA realizaram mais de 40 ataques com mísseis em 2009, matando dezenas de supostos militantes da Al-Qaeda e do Talibã.