Agência France-Presse
postado em 18/12/2009 18:05
O Irã entrará em 2010 profundamente dividido pela questionada reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, que provocou violentas manifestações, e sob a ameaça de novas sanções internacionais em represália à insistência do governo de levar adiante seu programa nuclear.
[SAIBAMAIS]Trinta anos depois da revolução islâmica, as manifestações que tomaram várias cidades iranianas depois do pleito de 12 de junho e sua violenta repressão afundaram o país em uma das piores crises de sua história.
Várias personalidades do regime denunciaram fraudes e obrigaram o Guia Supremo, o aiatolá Ali Khamenei, a tomar partido abertamente a favor de Ahmadinejad, com a esperança de calar os protestos. Em vão.
Centenas de milhares de manifestantes tomaram as ruas, e foram duramente reprimidos - segundo o governo, 36 pessoas foram mortas, mas a oposição fala em 72 vítimas mortas em virtude da violência policial. Esta atitude do governo só reforçou as críticas contra Ahmadinejad.
Seis meses depois das eleições, a oposição aproveita atos oficiais para também sair em manifestações, apesar das várias prisões e das dezenas de condenações expedidas pela justiça.
O ex-primeiro-ministro Mir Hosein Musavi, respeitada figura do regime que governou durante os oito anos da guerra contra o Iraque, foi derrotado por Ahmadinejad nas urnas, mas se tornou uma das principais figuras de referência da oposição.
Outras influentes personalidades, como os ex-presidentes Akbar Hachemi Rafsanyani e Mohammad Khatami, além do ex-presidente do Parlamento Mehdi Karubi, são acusados agora de instigar os distúrbios e de servir aos "inimigos do regime", por terem ousado criticar o poder.
O governo tenta controlar a informação, proibindo a mídia estrangeira de cobrir as manifestações e prendendo jornalistas - entre eles um repórter da AFP que permaneceu detenido durante quatro dias em novembro.
O executivo também luta uma verdadeira guerra de guerrilha eletrônica contra seus opositores, cortando conexões à internet e redes de telefonia móvel para tentar impedir o acesso à rede. Outra medida em vão, já que as fotos e informações continuam chegando ao exterior.
A esta crise política soma-se uma situação econômica difícil, fruto das sanções internacionais que impedem o Irã de modernizar sua economia, e de uma inflação galopante.
A crise que se instalou recentemente entre Teerã e as grandes potências nas negociações do programa nuclear iraniano pode agravar ainda mais a situação do país.
O Irã está sob ameaça de novas sanções econômicas por parte da OU, depois de ter sido condenado em novembro pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), entre outras coisas, por ter escondido a construção de um segundo centro de enriquecimento de urânio no centro do país.
Ahmadinejad reagiu anunciando a construção de dez outros centros de enriquecimento de urânio, e afirmou que é "impossível isolar o Irã" através de sanções.