Mundo

Só falta votar

Oposicionista suspende veto e Senado dos EUA já pode aprovar novo embaixador para o Brasil

postado em 19/12/2009 07:00
A decisão do senador republicano George LeMieux, da Flórida, de retirar o veto à confirmação de Thomas Shannon como próximo embaixador dos Estados Unidos no Brasil abriu a possibilidade de que o diplomata chegue a Brasília ainda este ano. Se nenhum outro congressita se opuser ao nome de Shannon, o Senado americano ; que neste ano faz serão para debater a reforma de saúde proposta por Barack Obama ; pode aprovar a vinda do embaixador nas próximas duas semanas. Especialistas veem essa como uma possibilidade remota. De todo modo, o governo brasileiro e a Embaixada dos EUA saudaram a suspensão do bloqueio, que, somada a outros vetos, ocasionou uma espera de quase sete meses desde que Obama anunciou o nome.

Fontes do Itamaraty afirmaram ao Correio que a remoção do veto foi visto como algo ;muito positivo;. A chegada do embaixador permitirá agilizar o cronograma das visitas da secretária de Estado, Hillary Clinton, e do próprio Obama, além de ajudar a retomar o diálogo em fóruns bilaterais sobre diversos temas, como a cooperação para promover os biocombustíveis. ;Ficamos gratos em saber que foi retirada a suspensão do processo de aprovação, no Senado dos EUA, de Thomas Shannon como embaixador dos EUA no Brasil;, comemorou a representação americana, em nota, dizendo ;aguardar mais informações sobre o desenrolar desse processo;.

Para a especialista em América Latina Shannon O;Neil, do Conselho de Relações Exteriores (CFR, em inglês), importante think thank de Washington, mesmo ;partindo do princípio que ninguém mais freará o processo;, é quase impossível que a confirmação se complete ainda este ano. ;Não espere uma sessão especial no Senado só para confirmar Shannon;, aconselha O;Neil.

Previsão
O pesquisador Ray Walser, da Fundação Heritage, também não acredita em solução antes dos feriados de fim de ano. ;Meu palpite é que a confirmação ocorra após as férias, porque requer o voto do Comitê de Relações Exteriores e do plenário;, afirma. ;É possível que nesse período o Senado avance com as nomeações, mas parece improvável. Isso deve ser empurrado para o próximo ano;, concorda Philip Levy, do American Enterprise Institute.
[SAIBAMAIS]
A representação brasileira em Washington também segue sem embaixador desde outubro, mas a chegada a Washington de Mauro Vieira, que já teve o nome aprovado no Senado brasileiro e recebeu o agrément dos EUA, está prevista para a semana de janeiro. O governo brasileiro descarta que a demora para Vieira assumir ; já se passou mais de um mês desde sua aprovação pelo Senado ; seja uma forma de ;pressionar; o Congresso americano.

A especialista do CFR acredita que uma ação desse tipo não teria efeito sobre a aprovação do diplomata americano pelos congressistas. ;Mesmo que o governo brasileiro tenha, de fato, atrasado o envio de seu embaixador para os EUA como forma de pressão, não vai fazer diferença. A demora está mais relacionada com a política interna dos EUA, e o Brasil pouco pode fazer para acelerar o processo;, afirma O;Neil.

Thomas Shannon foi indicado por Obama no fim de maio e sabatinado pelo Senado em 8 de julho. Uma resposta do diplomata sobre as tarifas de importação do etanol brasileiro desagradou ao republicano Chuck Grassley, de Iowa, que foi o primeiro a bloquear a nomeação. Depois, o também republicano Jim DeMint, da Carolina do Sul, questionou a posição do governo Obama sobre a crise em Honduras. ;Recebi compromissos suficientes da secretária Clinton de que a política para a América Latina, especialmente para Honduras e Cuba, promoverá ideias e metas democráticas;, disse LeMieux em comunicado sobre sua decisão.



"Temos de insistir nos direitos humanos e outras instituições democráticas, incluindo o Estado de Direito. Por isso bloqueei a nomeação de Tom Shannon"

"O bloqueio me deu mais tempo para avaliar o histórico de Shannon e fazer perguntas específicas a ele"
George LeMieux, senador republicano pela Flórida



Desarme avança
Um dia depois de a diplomacia russa acusar o governo norte-americano de atrasar as negociações para a conclusão de um novo acordo de redução de armas nucleares, o presidente Barack Obama afirmou ontem que os EUA e a Rússia estão ;muito perto; de consegui-lo. O pacto é encarado como elemento essencial para o relançamento das relações entre Washington e Moscou e deve substituir o Tratado de Redução de Armas Estratégicas (Start-1, na sigla em inglês), um complexo acordo de desarmamento nuclear que marcou o início do fim da Guerra Fria, assinado em 1991 pelo então presidente dos EUA, George Bush pai, e pelo último presidente da União Soviética, Mikhail Gorbachov.

A declaração foi feita após encontro de Obama com o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, em Copenhague, onde os dois assistiram à Cúpula sobre Mudança Climática. Medvedev afirmou que todas as questões divergentes foram resolvidas, mas falta acertar ;detalhes técnicos;. Os dois presidentes fizeram apenas breves declarações aos jornalistas e não responderam sobre uma possível data para a assinatura do acordo. Medvedev agradeceu a Obama por ser ;um parceiro efetivo;. O líder americano fez coro com o otimismo do colega e disse que as posições dos dois países ;estão muito próximas;.

;Acertamos as cláusulas de um novo acordo Start, e um anúncio oficial será feito no futuro próximo;, disse uma fonte diplomática à agência de notícias russa Interfax. Uma das questões que colocaram mais dificuldades para os negociadores foi a definição dos cortes a serem feitos pelas duas potências em seus arsenais atômicos. A Rússia quer processos de verificação mais simplificados, mas os Estados Unidos ainda não decidiram se aceitam ou não a fórmula proposta por Moscou.

Em julho, Obama e Medvedev haviam assumido o compromisso de assinar um acordo de controle e redução dos arsenais estratégicos antes que expirasse o tratado em vigor. Enquanto um novo documento não é concluído, o Start-1 foi prorrogado ;indefinidamente;. O futuro acordo deverá definir metas de redução dos arsenais nucleares ainda mais ousadas que as previstas no tratado original. O número máximo de ogivas operacionais que cada uma potência poderá manter ficará entre 1,5 mil e 1,6 mil, e o de plataformas de lançamento de mísseis, entre 500 e 1,1 mil ; o que representa um corte de um terço sobre os níveis atuais.


O número
1,6 mil
Total de ogivas nucleares operacionais que EUA e Rússia poderão manter nos termos do novo acordo de desarmamento negociado por Barack Obama e Dmitri Medvedev

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação