Agência France-Presse
postado em 20/12/2009 11:14
Teerã - O grande aiatolá Hossein Ali Montazeri, ex-braço direito do imã Khomeiny que passou a criticar duramente o regime islâmico, faleceu sábado em Qom, anunciaram diversas agências neste domingo.
Montazeri, que tinha 87 anos, morreu das consequências de várias doenças, segundo as mesmas fontes. "Ele era diabético e tomava insulina há anos. Também tinha asma e problemas pulmonares", revelou um de seus médicos à televisão estatal.
O funeral será realizado segunda-feira em Qom, informaram seus parentes. Segundo as mesmas fontes, ele deverá ser enterrado no mausoléu de Masumeh, irmã do imã Reza, o oitavo imã do Islã xiita.
Assim que a notícia foi anunciada, estudantes se reuniram na universidade de Teerã para ler versículos do Corão em memória de Montazeri, segundo o site da oposição Rahesabz.
"Milhares de pessoas de Ispahan, de Najafabad (a cidade onde nasceu Montazeri) e de Shiraz estão indo a Qom para assistir ao funeral", afirmou em seu site a minoria de oposição parlamentar.
O aiatolá Montazeri, um respeitado teológo, foi um dos idealizadores da revolução islâmica de 1979, e participou da elaboração da Constituição da República Islâmica.
Ex-aluno do imã Khomeiny, ele se firmou aos poucos como um dos líderes da revolução, até ser designado publicamente o sucessor do fundador do regime, em 1985.
No entanto, Montazeri, considerado da ala mais liberal e progressista do clérigo, começou então a criticar com cada vez mais veemência a atitude do regime contra a oposição.
Afastado do poder por Khomeiny em 1989, pouco antes da morte do fundador da República Islâmica, ele foi colocado em prisão domiciliar na cidade santa de Qom, onde permaneceu por quase 15 anos.
A prisão domiciliar de Montazeri foi revogada em 2003, o que lhe permitiu recuperar uma certa liberdade de palavra. Ele começou então a contestar a política do presidente Mahmud Ahmadinejad.
Sobre a polêmica reeleição de Ahmadinejad, em junho deste ano, Montazeri disse que "ninguém pode acreditar" que a votação foi justa, e denunciou a feroz repressão dos protestos que aconteceram logo em seguida.
Em 16 de dezembro, em sua última declaração pública, Montazeri denunciou em seu site a "morte de inocentes", a "detenção de militantes políticos pedindo liberdade" e os "processos ilegais" de opositores.
"Se as autoridades seguirem por este caminho, o povo vai se distanciar completamente do regime e a crise atual vai piorar", avisou então.
Neste domingo, ao noticiar a morte de Montazeri, as agências oficiais e semioficiais se limitaram ao chamá-lo de "senhor", sem mencionar sua qualidade de grande aiatolá. Em uma biografia sucinta, a agência Irna destacou que Montazeri era "uma personalidade religiosa ativa para os baderneiros" (os opositores que protestaram contra a reeleição de Ahmadinejad), criticando "suas declarações sem fundamentos elogiadas pela imprensa contrarrevolucionária".
As autoridades já avisaram à imprensa estrangeira que ela não será autorizada a viajar a Qom segunda-feira para cobrir o funeral.