Agência France-Presse
postado em 21/12/2009 13:17
BRUXELAS - O Congresso Judeu Mundial (CJM) considerou nesta segunda-feira (21/12) inoportuno e prematuro o projeto do Vaticano de beatificar Pio XII.
"Enquanto forem mantidos fechados os arquivos do Papa Pio XII datados do período crucial de 1939 a 1945 e não houver consenso sobre sua ação - ou falta de ação - ante a perseguição de milhões de judeus durante o Holocausto, uma beatificação é inoportuna e prematura", estima o presidente do CJM, Ronald Lauder, em um comunicado divulgado em Bruxelas.
Lauder aponta, além disso, que "apesar de ser competência única da Igreja católica decidir a quem são concedidas honras religiosas", existe uma "grande preocupação sobre o papel político do Papa Pio XII durante a II Guerra Mundial, que não deve ser ignorado".
O presidente do CJM solicita ao Vaticano abrir imediatamente todos os arquivos existentes da época de Pio XII para que investigadores internacionais possam dissipar as dúvidas, pedido igualmente feito no domingo pelo governo israelense.
No sábado, o Papa Bento XVI proclamou "veneráveis" seu antecessor João Paulo II e o questionado Papa Pio XII, passo-chave no caminho para a beatificação. O anúncio da proclamação de Pio XII - acusado de ter mantido silêncio durante o Holocausto dos judeus no regime nazistas - como "venerável" causou surpresa ao término da celebração dos 40 anos da criação da Congregação para a Causa dos Santos.
Bento XVI assinou os decretos que reconhecem "as virtudes heroicas do venerável Servo de Deus" Pio XII (1939-1958), e também de João Paulo II (1978-2005). Em um discurso pronunciado ante a Congregação para a Causa dos Santos, o Papa elogiou a "sabedoria pedagógica" com que a entidade seleciona e examina a história dos beatos e dos santos.
Bento XVI defendeu em várias ocasiões a figura de Pio XII e expressou seu desejo de que fosse beatificado, apesar das controvérsias sobre sua atitude passiva durante a Segunda Guerra Mundial frente ao extermínio dos judeus.
A causa da beatificação de Pio XII foi aberta nos anos 60. Os defensores do italiano Eugenio Pacelli (Pio XII) invocam, em compensação, diversas atitudes do Vaticano frente aos nazistas e atribuem a ele todas as ações realizadas por inúmeros religiosos para se opor às deportações para campos de concentração. A beatificação de Pio XII poderá abalar as relações entre Israel e o Vaticano.