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Democratas apressam processo para votar reforma do sistema de saúde e agora pressionam por aprovação final

postado em 22/12/2009 08:15
A corrida contra o relógio do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e dos democratas para aprovar a reforma de saúde ainda este ano recebeu um incentivo a mais na madrugada de ontem. Os senadores aprovaram, por 60 votos contra 40, o fim dos debates sobre o tema - o que representa não só um avanço para passar o texto, como também uma demonstração de que os democratas podem conseguir maioria absoluta para aprovar a proposta daqui em diante. Ainda restam duas votações no Senado - uma prevista para a manhã de hoje e a outra, que deve acontecer até a noite de Natal. Depois, ainda será preciso reunir a proposta do Senado com a aprovada na Câmara em novembro e submeter o novo texto às duas Casas - o que deve se estender até janeiro. Apesar do cronograma ainda apertado, Obama comemorou o resultado positivo na manhã de ontem. "Os Estados Unidos desmontaram uma intervenção que buscava bloquear a votação final para a reforma do sistema de saúde e marcaram uma grande vitória para o povo americano", disse o presidente. "O Senado nos aproximou de uma reforma que representa uma enorme diferença para famílias, idosos, empresas e o país em seu conjunto", completou. Dos 60 que aprovaram a proposta, 58 são democratas e dois, independentes. Nenhum republicano votou a favor do texto apresentado pelo líder da maioria, Harry Reid. A votação terminou por volta da 1h30 (4h30 de Brasília), após discursos inflamados feitos, principalmente, pela oposição. Enquanto o republicano do Tennessee Lamar Alexander chamou a reforma de um "erro histórico", o líder da minoria na Casa, Mitch McConnell, acusou os democratas de criarem "uma bagunça", que representa "um chamado cego para fazer história". "Isto não é sobre afinidades, isto é política. Então, estamos desapontados por causa disso", afirmou McConnell. Em entrevista ao programa da ABC Good Morning America, poucas horas depois da votação, o senador republicano John McCain, que perdeu a corrida presidencial para Obama em 2008, criticou a vitória democrata. "Eles têm 60% do Senado, mas 60% da população americana é contra essa proposta", disse. McCain ainda pediu aos parlamentares contrários à proposta que "lutem até o último voto" - esforço que pode comprometer o Natal de muitos parlamentares. Desânimo do lado republicano, euforia entre os democratas. "Essa lei é o produto de anos de trabalho duro, estudo e deliberação", afirmou o presidente do Comitê de Finanças do Senado, o democrata Max Baucus. "Essa é a reforma pela qual os americanos estão esperando", acrescentou. O "pai" da proposta no Senado, Harry Reid, por sua vez, destacou a responsabilidade dos legisladores em "cuidar de toda a população, não só dos mais afortunados". "Hoje, o Senado deu outro passo histórico em direção à nossa meta de oferecer acesso um serviço de saúde de qualidade a todos os americanos", declarou Reid. Estiveram presentes, até o fim da votação, a viúva do senador Ted Kennedy, Victoria, e a secretária (equivalente ao cargo de ministra) de Saúde, Kathleen Sebelius. Divisão Para o especialista J.D. Foster, da Fundação Heritage, a pressa de Obama para aprovar uma de suas propostas de campanha fez com que ele deixasse de lado uma outra: a busca pelo bipartidarismo. "Uma reforma de saúde global real só é possível em uma base bipartidária, mas Obama rapidamente descartou qualquer possibilidade de bipartidarismo, que ele prometeu durante a campanha. Infelizmente, a maioria optou por seguir uma estratégia de alto risco, com base em seus objetivos ideológicos", afirma Foster. O cientista político da Universidade de Brasília David Fleischer, no entanto, considera a pressão feita pelo presidente necessária. "Ele tem toda a razão de forçar a barra para aprovar isso este ano, até porque terá outros problemas para o Congresso deliberar em 2010". O próximo ano é de eleições legislativas nos EUA, e é grande a possibilidade de que os democratas percam muitos assentos no Congresso. Além disso, o sucesso do primeiro ano de Obama (1) depende da aprovação desta reforma. 1- "Aluno negro" O presidente boliviano, Evo Morales, mais uma vez comparou o líder norte-americano Barack Obama a seu antecessor George W. Bush, inclusive repetindo a menção à diferença da cor da pele. "Acho que o negro está sendo o melhor aluno do branco: Bush. Chego a essa conclusão depois dos meses que Obama tem como presidente", disse Morales, em entrevista ao jornal espanhol El Mundo. "É lamentável que um irmão negro, com seus pais discriminados, como o movimento indígena, faça essa poliObamatica", completou, referindo-se às declarações da secretária de Estado, Hillary Clinton, sobre a aproximação do país com o Irã. No início do mês, Morales já havia dito que "com o senhor Obama, se algo mudou, foi apenas a cor". Morre Lincoln Gordon O diplomata norte-americano Lincoln Gordon, que atuou como embaixador no Brasil entre 1961 e 1966, morreu no último sábado, aos 96 anos, nos Estados Unidos. Pela sua proximidade com autoridades brasileiras no período em que esteve no Brasil, Gordon foi acusado de ajudar a promover o golpe militar de 1964, que derrubou o então presidente João Goulart. Apesar de negar qualquer participação no episódio, o diplomata admitiu, em 1976, que o presidente Lyndon Johnson chegou a se preparar para uma intervenção militar com o objetivo de impedir que um governo de esquerda assumisse o poder no Brasil. Economista com doutorado na Universidade de Oxford, Gordon foi professor na Universidade de Harvard por muitos anos. Personagens do debate Harry Reid, líder democrata no Senado Foi o responsável por reunir as propostas aprovadas nos Comitês de Saúde e de Finanças do Senado e apresentar a nova versão no dia 18. Desde então, seu papel é tentar convencer os 58 democratas moderados e os dois independentes aliados dos governistas a votarem a favor de sua proposta. O seu mais recente desafio foi convencer o democrata Ben Nelson. Nancy Pelosi, líder democrata na Câmara Liderou a junção das versões aprovadas em três comitês da Câmara e conseguiu uma vitória apertada para sua proposta (220 a 215), em 7 de novembro. Seu principal desafio será convencer os deputados mais liberais a aceitarem, numa proposta conjunta, os termos da versão do Senado %u2014 como a não cobertura do aborto com verbas federais. Ben Nelson, senador democrata pelo Nebraska Feroz opositor do aborto, anunciou recentemente que não votaria com os democratas se a proposta de Reid não fosse alterada. Na última sexta-feira, um grupo democrata se reuniu por mais de 12 horas com Nelson e Reid se comprometeu a alterar o texto, garantindo que verbas federais não serão usadas para interrupção de gravidez. Olympia Snowe, senadora republicana por Maine A republicana moderada surpreendeu seu partido ao votar a favor da proposta democrata no Comitê de Finanças do Senado, em 13 de outubro. Desde então, tem sofrido forte lobby do governo. Na madrugada de ontem, votou contra a proposta de Reid. No domingo, ela disse se opor ao prazo "arbitrário" para aprovar a reforma às pressas. Mitch McConnell, líder republicano no Senado Uma das principais vozes de oposição à reforma de saúde de Obama, principalmente pelo maior controle da saúde pelo Estado. Segundo ele, a proposta dos democratas é "um erro legislativo de proporções históricas", que vai "dar uma nova forma à nação, apesar de os americanos já terem afirmado que não querem isso". John Cornyn, senador republicano pelo Texas O republicano já criticou publicamente o valor da proposta de Reid e a chamada "opção pública". Agora, ele se concentra em convencer os moderados democratas a se opor ao texto da reforma e em manter as tentativas de atrasar a votação o maior tempo possível. Será um calo no pé dos democratas até a completa aprovação da reforma.

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