postado em 23/12/2009 08:30
O presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, acusou os Estados Unidos de falsificarem um memorando que indicaria os esforços de Teerã para obter um componente necessário para a fabricação de uma bomba nuclear. Ao ser questionado pela rede de TV norte-americana ABC sobre a veracidade dos documentos, publicados pelo jornal britânico The Times, Ahmadinejad garantiu que tais informações foram forjadas pelo governo dos EUA. O memorando contém um suposto plano do governo iraniano para testar um iniciador de nêutrons, componente de ogivas essencial para desencadear uma explosão nuclear. "É um conjunto de documentos falsificados que são continuamente forjados e disseminados pelo governo norte-americano", afirmou. "Eles fundamentalmente não são verdadeiros."
Durante a entrevista, Ahmadinejad disse que os comentários dos governos ocidentais sobre o programa nuclear iraniano se tornaram uma "piada repetitiva e sem graça". "Certas alegações que estão sendo feitas quanto a esse assunto são de muito mau gosto", reclamou. Ele ainda desafiou a comunidade internacional a aplicar novas sanções contra seu país por causa do programa de enriquecimento de urânio. "Nós não desejamos confrontos, mas não vamos nos intimidar por provocações. Se vocês querem conversar conosco sob condições justas, nós receberemos bem as negociações. Se vocês disserem que irão impor sanções, então vão e façam", avisou.
Apesar de o Irã - quinto maior exportador mundial de petróleo - assegurar que seu programa nuclear tem a finalidade de gerar energia elétrica, aumentando a exportação de gás e petróleo, o Ocidente acredita que o país pretende construir armamentos atômicos. Irritado com essas acusações, Ahmadinejad afirmou, ontem, que os arsenais nucleares de Israel (1) e dos EUA deveriam ser desmontados. "Eles precisam saber que o Irã e as nações do mundo vão continuar a resistir até o desarmamento (nuclear) completo da América e de todas as potências arrogantes", ressaltou o presidente iraniano, diante de uma multidão em um estádio na cidade de Shiraz.
Ahmadinejad declarou que rejeita a data-limite para aceitar um acordo estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) para trocar urânio enriquecido por combustível nuclear com outras nações. O governo americano havia dado um prazo até o fim do ano para que Teerã aceitasse o plano. A proposta era reduzir a quantidade de urânio enriquecido no país e, assim, diminuir o temor ocidental de o país usar o material para fabricar armamentos nucleares. Ahmadinejad explicou que "se o Irã desejasse construir uma bomba, seria suficientemente valente para consegui-lo" e disse não se importar com prazos do Ocidente.
Acusações
Em 14 de dezembro, o jornal The Times divulgou o que seria um documento de 2007 no idioma farsi (falado no Irã) e sua tradução em inglês, sob o título "Perspectivas de atividades especiais ligadas a nêutrons nos próximos quatro anos". O memorando descrevia medidas para criar e testar um iniciador de nêutrons, parte do acionador da bomba nuclear. Após a publicação, Ramin Mehmanparast, porta-voz do Ministério do Exterior iraniano, classificou-a como "infundada, indigna de atenção, tendo como objetivo exercer pressão política e psicológica sobre o Irã".
1- De mãos atadas
O governo israelense ficará diplomaticamente marginalizado e militarmente atado enquanto os Estados Unidos buscarem um acordo nuclear com o Irã em 2010. A constatação partiu de um exercício tático sigiloso realizado, em 1º de novembro passado, pelo Instituto para Estudos sobre Segurança Nacional (INSS) da Universidade de Telavive, a principal instituição de pesquisas estratégicas de Israel. A simulação contou com uma incursão militar contra a usina iraniana de água pesada em Arak. Segundo o jogo de guerra, nem mesmo um tiro de advertência do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, abalaria a insistência do presidente dos EUA, Barack Obama, no diálogo.