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Presidente da Colômbia promete caçar assassinos de governador de Caquetá

postado em 24/12/2009 09:23
Os 155 mil habitantes de Florencia, capital do departamento (estado) de Bogotá, ainda tentam entender mais uma crueldade de um conflito que parece longe do fim. O corpo degolado do governador Luis Francisco Cuéllar foi encontrado às 16h de terça-feira (19h em Brasília), na localidade de El Salado, a apenas 15km da cidade. Estava envolto em explosivos, jogado de bruços e abandonado em uma área minada por rebeldes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). A partir das 9h (12h em Brasília) de ontem, filas intermináveis começaram a se formar em frente ao prédio da Assembleia Departamental, entre a Rua 15 e a Avenida 13, onde ocorreu o velório. Era a última homenagem a um político que já havia caído nas mãos da guerrilha por quatro ocasiões. Na noite de segunda-feira, Cuéllar foi arrancado de casa por 15 homens armados que trocaram tiros com seguranças e explodiram uma granada. O quinto sequestro terminou da pior forma possível.

;Os terroristas não atiraram nele, mas o degolaram, para evitar produzir o som dos disparos;, declarou o presidente colombiano, Álvaro Uribe, em rede nacional de TV. ;Os terroristas incendiaram o veículo no qual teriam levado o senhor governador; mais adiante o assassinaram, o degolaram, miseravelmente o assassinaram;, lamentou. As autoridades de Bogotá não têm dúvidas do envolvimento da guerrilha esquerdista no sequestro e na execução de Cuéllar. Por meio de um comunicado, Uribe assinalou ainda que ;a morte violenta do governador faz parte de um plano das Farc posto em prática em épocas anteriores aos processos eleitorais, como o (do Legislativo) de março próximo;. O presidente também prometeu ;avançar até a derrota definitiva do terrorismo; e citou os suspeitos pelos apelidos ; Ovo, Cavalo, Guevara e Valência. ;Oxalá possamos capturar todos;, disse. Na tarde de terça-feira, ele havia ordenado que o Exército e a polícia resgatassem o governador e 24 militares em poder das Farc. A recompensa de 1 bilhão de pesos (cerca de R$ 870 mil) foi mantida, agora em troca de informações que levem à captura dos assassinos.

;O Departamento Administrativo de Segurança (DAS) nos informou ter certeza de que foi a coluna móvel Teófilo Forero(1);, afirmou Olga Patricia Vega, governadora interina de Caquetá, em entrevista ao Correio, por telefone. ;O assassinato foi um atentado contra todos os caquetenhos. Pelo que nos disseram, foi uma retaliação contra a ação das Forças Armadas contra a guerrilha;, acrescentou. A substituta de Cuéllar admitiu que ele estava sob ameaça constante. Segundo Olga, o Estado colombiano ;tomou todas as medidas necessárias para proteger a vida dos caquetenhos e perseguir os responsáveis por esse ato;. Ela garantiu que o Exército, a polícia e o DAS estão trabalhando ;arduamente; nesse sentido.

Repulsa
Por telefone, Jorge Fernando Ortíz, também morador de Florencia, contou ao Correio que conhecia pessoalmente Cuéllar. ;Era um senhor muito trabalhador, que viajava por toda Caquetá. Ele nunca comentou com amigos sobre o temor de ser sequestrado pela quinta vez;, relatou. O promotor de eventos destacou que o clima na cidade é de ;assombro;. ;As pessoas saíram às ruas para comprar alimentos e roupas, querem estocar os produtos em casa, com medo que algo ocorra. Vivo aqui há 30 anos e nunca vi um sequestro como esse;, relatou.

O crime bárbaro repercutiu em todo o mundo e atraiu a repulsa da comunidade internacional. O governo dos Estados Unidos, por meio de sua embaixada em Bogotá, declarou-se ;consternado; e ;profundamente angustiado;. ;Tais atos de violência são tão repulsivos quanto repugnantes;, afirmou o comunicado, referindo-se ainda à morte do policial Javier Simón García, que cuidava da segurança da família Cuellar.

O texto reforça o comprometimento dos EUA em ;ajudar os colombianos a defender sua democracia dos narcoterroristas;. Bernard Valera, porta-voz da chancelaria da França, disse que Paris ;condena com a maior firmeza esse crime odioso e chama mais uma vez os grupos armados ilegais a liberar todos os reféns;. O secretário geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, pediu a prisão dos assassinos. ;Este ato de atrocidade e barbárie merece a rejeição da comunidade internacional, que apoia a Colômbia em seus esforços para conseguir a paz.;


1 - Célula sanguinária
Considerada um reduto de elite das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), é composta por seis companhias que operam nos departamentos de Huila e Caquetá. O chefe da coluna, Hernán Darío Velásquez, é acusado pelas autoridades de ser o mentor do assassinato de Luis Francisco Cuéllar. Hernán ; também conhecido como El Paisa e Óscar Montero ; tem influência sobre o norte de Caquetá e exibe um currículo de ações ousadas, incluindo o sequestro do senador Jorge Gechem Tubay; a captura de reféns no Edifício Miraflores, de Neiva; e o massacre de oito deputados em Rivera (Huila), em 27 de fevereiro de 2006.

Ouça entrevista com a governadora interina de Caquetá, Olga Patricia Vega


Década perdida
O assassinato do governador de Caquetá só fez aumentar a dor e o desespero dos familiares de reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Por telefone, o Correio conversou com duas mães que, há mais de uma década, estão privadas de qualquer contato com os filhos.

Magdalena Rivas, 61 anos, já suportou 4.329 dias sem ver ou escutar a voz do tenente-coronel Elkin Hernández Rivas ; capturado pela Frente 15 da guerrilha, em 14 de outubro de 1998. O sequestro também ocorreu em Florencia. ;Só peço ao senhor presidente (Álvaro Uribe) que não realize um resgate militar. Desejamos que o senhor presidente dialogue com a guerrilha, a fim de que nossos filhos sejam libertados;, afirmou. ;A morte do governador nos machucou muito, nos entristece muito, mas necessitamos que os militares reféns das Farc sejam soltos o mais rápido possível, pois já se vão muitos anos de sofrimento e de horror.;

Ela acusa Uribe de abandonar os parentes dos sequestrados. ;Sei que meu filho está vivo, mas se sente muito triste, principalmente com a chegada do Natal. Já são 12 Natais que ele não se encontra em casa;, lembra. Para a noite de hoje, Magdalena não cria expectativas. ;Apenas por causa dos netos pequenos, rezaremos uma novena, entregaremos os presentes e cearemos, para nos recolher. Não temos ânimo para nada e estamos totalmente desesperados;, comentou a moradora de Bogotá, que recebeu a última prova de vida do filho em 30 de agosto deste ano. Na carta, Elkin pedia ao presidente que fizesse algo, pois os reféns estavam muito tristes e esgotados.

Desesperança
;Nada, absolutamente nada.; Foi assim que Amália Días de Márquez, 74 anos, respondeu ao ser questionada se havia alguma notícia do filho. O advogado Enrique (Kike) Márquez, hoje com 40 anos, foi forçado a trocar a liberdade de sua casa pela opressão da selva há 10 anos e 10 meses. ;Recebi a informação com uma dor imensa, com o sofrimento da família do governador, pois padecemos desse mesmo drama;, disse. A mãe de Kike também esboçou falta de esperança com a situação da Colômbia. ;Temos um país lindo, mas não podemos viver com tranquilidade;, lamentou. Ela destacou que há ;inúmeros; de civis em poder das Farc. ;Mas só se escuta falar nos políticos e nos militares sequestrados.;

O sofrimento acumulado ao longo dos anos removeu de Amália qualquer aposta no governo colombiano, em relação ao gerenciamento do conflito. ;O que posso dizer a Uribe? Que faça o quê? Se há 10 anos e 10 meses não tenho meu filho;, criticou. ;O que se passa é que Deus me deu muita força, é Ele quem me dá o remédio, caso contrário eu não poderia suportar;, acrescentou. Enrique foi sequestrado às 6h30 de 11 de fevereiro de 1999, quando chegava ao escritório, em pleno centro da capital colombiana. (RC)

"Desejamos que o senhor presidente dialogue com a guerrilha, a fim de que nossos filhos sejam libertados"
Magdalena Rivas, mãe de Elkin Hernández
Ouça entrevista com Magdalena Rivas e Amália Días (em espanhol)

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