postado em 27/12/2009 10:05
A Coordenação Nacional contra o Terrorismo (NCTB), da Holanda, revelou ontem que o nigeriano Abdul Farouk Abdulmutallab, suspeito de tentar explodir o voo 253 da Northwest Airlines, na sexta-feira, havia sido submetido a um procedimento de segurança no Aeroporto Schiphol, em Amsterdã. ;Ele passou por uma revista em Schiphol, realizada como deveria;, afirmou um porta-voz. ;O homem chegou de Lagos e pegou uma conexão para Detroit com um visto norte-americano válido.; Ainda segundo a NCTB, antes da decolagem para os Estados Unidos, a Northwest Airlines transmitiu a lista de passageiros às autoridades norte-americanas, que autorizaram a viagem. A apenas 20 minutos da aterrissagem, em Detroit (Estados Unidos), Abdulmutallab acionou o dispositivo explosivo e foi dominado por outro passageiro. Além de ter provocado operações antiterror na Europa e na África, o incidente chamou a atenção de especialistas em relação ao modus operandi e à origem do suspeito. As autoridades do Reino Unido, França, Itália, Espanha e Holanda colocaram seus aeroportos em alerta.O FBI ; a polícia federal norte-americana ; informou que Abdulmutallab cursou engenharia mecânica na University College of London (UCL), entre setembro de 2005 e junho de 2008. Na manhã de ontem, ele teria confirmado ao FBI que atuou sob ordens da rede terrorista Al-Qaeda, de Osama bin Laden. No depoimento, Abdulmutallab disse que teve acesso ao explosivo e recebeu instruções sobre como utilizá-lo, durante viagem ao Iêmen. Até o fechamento desta edição, o FBI afirmava acreditar que o nigeriano tenha agido sozinho, sem vínculos com organizações terroristas. O próprio Abdulmutallab teria recuado na parte do interrogatório em que fez menção à Al-Qaeda. De viagem ao Havaí, o presidente norte-americano, Barack Obama, manteve contato permanente com autoridades de Washington e determinou o fortalecimento das medidas de segurança nos aeroportos do país.
Por sua vez, o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, revelou que o Reino Unido trabalha em ;estreita colaboração; com os EUA. ;A segurança das pessoas sempre tem que ser nossa principal preocupação. (;) Com a ameaça potencialmente elevada que este incidente representa, conversei com o chefe de polícia de Londres, cujos oficiais estão revistando imóveis;, declarou. As buscas se concentram em um flat de mansões na região central da capital. Já o vice-presidente da Nigéria, Goodluck Ebele Jonathan, ordenou às agências de segurança do país uma ;investigação completa;.
Fumaça
Por volta das 11h25 de sexta-feira (hora local), o nigeriano Abdulmutallab, 23 anos, escondeu-se sob um cobertor, na fileira 16 do Airbus A-330, e usou uma seringa para injetar um líquido no pó acondicionado dentro de um saco plástico colado à perna. Alguns dos 277 passageiros e 11 tripulantes do voo 253 da Northwest Airlines, que fazia a rota Amsterdã-Detroit, não demoraram a perceber que havia algo errado. O cheiro de fumaça e os estampidos semelhantes a fogos de artifício denunciaram Abdulmutallab. ;O que você está fazendo? O que você está fazendo?;, gritou uma passageira à beira da histeria. ;Há fogo! Tragam água!”, diziam outros ocupantes do A-330. Um homem da fileira 19 jogou-se sobre o nigeriano. O avião pousou às 11h53 e, conduzido até o fim da pista, foi cercado por viaturas da polícia e dos bombeiros, além de um robô detector de bombas. Segundo as autoridades, o dispositivo falhou ao ser detonado. Abdulmutallab foi internado no Hospital da Universidade de Michigan, em Ann Arbor, com queimaduras de segundo e terceiro graus nas coxas. O conhecido ex-banqueiro nigeriano Umaru Mutallab afirmou ontem que o suspeito é filho seu. ;Estou realmente transtornado;, disse.
Por telefone, de Cingapura, o cingalês Rohan Kumar Gunaratna ; autor de Inside Al-Qaeda: Global network of terror (Por dentro da Al-Qaeda: rede global de terror) ; disse ao Correio acreditar que Abdulmutallab se inspirou na organização de Bin Laden. ;O modus operandi usado pelo nigeriano era idêntico a ataques planejados pela Al-Qaeda;, explicou. De acordo com ele, a Al-Qaeda representa dupla ameaça ao mundo: ela supre treinamento de militantes e motiva extremistas. ;O suspeito usou técnicas de explosão de aeronaves no ar clássicas da Al-Qaeda.; Gunaratna destacou o ineditismo da procedência da ameaça. ;É a primeira vez que vemos um extremista da África realizando ataques dentro dos EUA, e isso mostra a extensão do perigo;, concluiu o estudioso, que já entrevistou vários militantes da Al-Qaeda.
Para Magnus Ranstorp, da Universidade de Defesa Nacional Sueca, o caráter semiamador do complô impediu uma tragédia. ;Não há razão para ele ter esperado tanto tempo para detonar os explosivos ou para não ter misturado o líquido e o material no banheiro;, afirmou. ;O interessante é saber porque ele teve autorização para embarcar quando estava numa lista de suspeitos e porque portava um visto norte-americano, se fazia parte de um banco de dados sobre terroristas.;