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EUA e Reino Unido fecham ao público representações diplomáticas no Iêmen temendo ataque da Al-Qaeda

Governo americano diz que imã muçulmano está por trás de tentativa de explosão de avião e tiroteio na base de Fort Hood

postado em 04/01/2010 07:00
Em Sanaa, capital do Iêmen, as embaixadas dos Estados Unidos e do Reino Unido fecharam ontem suas portas temporariamente ao público. A explicação veio depois, em Washington. John Brennan, assessor adjunto de Segurança Nacional do presidente americano, Barack Obama, informou que "existem indícios" de que a organização terrorista Al-Qaeda planeja um atentado na cidade. O Iêmen, país árabe que controla a margem direita da entrada para o Mar Morto e já abrigou o célebre Reino de Sabá no século 12, é hoje conhecido por ser mais uma frente de resistência e treinamento da organização terrorista liderada por Osama Bin Laden. Brennan se referiu aos vínculos das organização com o estudante nigeriano Umar Farouk Abdulmutallab, que tentou explodir um avião que partia da Holanda rumo a Detroit, nos EUA, na noite de Natal. %u201CSabemos que a Al-Qaeda está aí fora. Sabemos que devemos cuidar dos nossos passos", disse o assessor. Para garantir a segurança, a representação diplomática americana pediu, em sua página na internet, que seus cidadãos "mantenham um alto nível de alerta". A chancelaria britânica seguiu os colegas americanos e informou que o fechamento de sua embaixada se dava por "motivos de segurança". Em Londres, o primeiro-ministro Gordon Brown ordenou a instalação de scanners corporais nos aeroportos como uma forma de melhorar a revista sobre os passageiros. "Sabemos que a Al-Qaeda utiliza novos tipos de armamento e temos de responder de forma adequada", disse Brown, destacando que "há novos explosivos não identificáveis pelas máquinas comuns". Hoje o Ministério de Negócios Estrangeiros britânico decidirá se reabre ou não a representação diplomática. Já o Ministério de Assuntos Exteriores da Espanha também cogitou fechar sua embaixada ontem, mas decidiu mantê-la "aberta e operativa", com acesso restrito. Tropas Brennan declarou ontem à rede americana CNN que o imã muçulmano Anwar Al-Aulaqi seria a fonte do atentado frustrado contra o voo entre Amsterdã e Detroit e do tiroteio na base americana de Fort Hood, em novembro passado, que deixou 13 mortos e 42 feridos. Anwar al-Aulaqi nasceu nos Estados Unidos, mas hoje vive no Iêmen. "Al-Aulaqi manteve contato direto com Abdulmutallab", disse o assessor de contraterrorismo. O imã teria também levado o psiquiatra militar Nidal Hassan a cometer o tiroteio na base americana, quando consultou Al-Aulaqi em 2008. "Minha opinião é que o major Hassan cometeu o ataque por conta própria, mas foi inspirado pelo discurso de pessoas como Aulaqi", indicou Brennan. O assessor destacou ainda que o governo americano está determinado "a destruir a Al-Qaeda, não importa se no Paquistão, no Afeganistão ou no Iêmen". Apesar de o governo americano ainda não ter enviado um grande contingente de tropas ao Iêmen, a Casa Branca marca a presença de forma pontual, com o envio de agentes de inteligência e treinamento de autoridades iemenitas. No sábado, o chefe do Comando Conjunto Central do Exército americano, general David Petraeus, chegou à nação árabe para se reunir com autoridades e anunciar sua intenção de reforçar a assistência militar ao governo. John Brennan disse que "ainda" não é a hora de enviar mais soldados para o país. No ano passado, os EUA investiram US$ 67 milhões em treinamento no Iêmen. Ontem, oficiais iemenitas prometeram enviar mais tropas para lutar contra militantes da Al-Qaeda nas províncias de Abyan, Baida e Shabwa. A agência de notícias iemenita Saba anunciou que o chanceler do país, Abu al Bakr-Kurbi, se reuniu com o embaixador americano Stephen Seche para preparar sua visita oficial aos EUA. O diplomata iemenita pretende chegar a Washington em 20 de janeiro para "assegurar a promoção da cooperação entre os dois países". » Filha de Bin Laden quer deixar Irã Tatiana Sabadini Enquanto especulações de um novo ataque da rede terrorista Al-Qaeda circulam pelo mundo, no Irã, a filha do líder do grupo, Iman Bin Laden, 17 anos, luta para deixar o país enquanto permanece refugiada na embaixada da Arábia Saudita. Segundo o governo saudita, ela teria conseguido escapar, em novembro do ano passado, de uma suposta prisão domiciliar imposta por Teerã, à qual estariam sujeitos também uma esposa e outros cinco filhos de Osama Bin Laden. O ministro das Relações Exteriores saudita, o príncipe Saud al-Faisal, defendeu ontem, em entrevista à imprensa, a liberdade da jovem e pediu ao governo iraniano que libere sua saída do país. As relações diplomáticas entre a Arábia Saudita e o Irã nunca foram amenas, por causa do conflito entre xiitas e sunitas. Ultimamente, a tensão aumentou devido aos planos nucleares do presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad. A situação dos parentes de Osama Bin Laden e as alegações sauditas de que eles estejam aprisionados devem piorar o mal-estar entre os dois países. Um jornal da Arábia Saudita, pertencente a um primo do príncipe Saud, alega que Iman e os outros membros da família do líder terrorista teriam sido presos logo depois da entrada do exército americano no Afeganistão, em 2001. Depois de fugir, a adolescente teria procurado refúgio na embaixada. O jornal também relata que o governo saudita se esforça para retirar Iman do Irã. Documentos O governo de Ahmadinejad preferiu não fazer nenhuma declaração oficial sobre o caso. Na semana passada, o ministro das Relações Exteriores iraniano, Manouchehr Mottaki, disse apenas que foi informado que a filha de Osama Bin Laden estava em Teerã, mas como ela havia chegado até lá "não estava claro". De acordo com Mottaki, Iman pode deixar o país se estiver com todos os documentos de viagem em dia. Para o chanceler da Arábia Saudita, essa é uma "questão humanitária". "Estamos conversando com o governo iraniano neste momento para resolver a situação", disse o príncipe Saud, durante a entrevista coletiva. Nenhuma informação adicional foi divulgada, para não atrapalhar as negociações. Osama Bin Laden pertence a uma família rica da Arábia Saudita, mas foi expulso do país em 1991 por causa de suas ações contra o governo. Segundo um de seus filhos, Omar Bin Laden, a família não tem de pagar pelas "acusações de terrorismo" do pai e, se realmente estiver em poder do governo do Irã, deve ser libertada imediatamente. Fim das operações O príncipe Khaled bin Sultan Bin Abdul Aziz, ministro-assistente da Defesa e Aviação da Arábia Saudita, visita suas tropas em Jizan, na fronteira com o Iêmen. Khaled (no centro na foto) anunciou que "todas as grandes operações militares na fronteira estavam terminadas". Na quarta-feira, ele ameaçou destruir a vila de Al-Jaberi se rebeldes de grupos iemenitas não retornassem a seu país. Ele ressaltou que 73 sauditas foram mortos e 26 estavam desaparecidos desde que começaram as hostilidades em novembro. Sem acrescentar mais detalhes, Khaled revelou que havia sauditas e iemenitas entre os rebeldes. Ontem, o príncipe Muhammad Bin Naser Bin Abdul Aziz, emir da região de Jizan, entregou cópias do Corão aos soldados e disse que o livro sagrado era o melhor presente "para quem estava defendendo o islã, o rei e a terra natal".

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