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Exército do Iêmen amplia operações contra aliados de Osama bin Laden

Analistas alertam para os riscos de envolvimento dos EUA na ofensiva

postado em 06/01/2010 08:53
Os números mostram a disparidade do combate e a determinação do governo de Ali Abdullah Saleh em esmagar a organização terrorista Al-Qaeda na Península Arábica (AQAP). No último domingo, o presidente do Iêmen deslocou 10 mil soldados para as províncias de Shabwah e Abyan (sul) e de Maarib (centro). O objetivo das tropas é fazer frente a uma força inimiga estimada em pouco mais de 100 militantes islâmicos. ;O governo tenta manter as ações da AQAP restritas a áreas específicas de Shabwah, onde o grupo poderia erguer uma nova fortaleza;, afirmou ao Correio, por telefone, de Sanaa, Hakim Al-Masmari, editor-chefe do jornal Yemen Post. As autoridades iemenitas afirmaram ter matado dois extremistas da AQAP, em uma ação lançada na região montanhosa de Arbah, a 80km de Sanaa, na última segunda-feira. Também anunciaram ontem a prisão de cinco militantes islâmicos entrincheirados em um prédio. Por meio do porta-voz Robert Gibbs, a Casa Branca reafirmou o apoio ao Iêmen no combate aos terroristas. ;Nós fortemente incentivamos os esforços do governo iemenita em extirpar os membros da Al-Qaeda da Península Arábica;, comentou ele.

O poder das armas divide espaço com o trabalho de setores da inteligência. ;As tribos não cooperam com a Al-Qaeda em regiões governadas por elas. Todos os soldados receberam a ordem de cortar qualquer apoio aos militantes;, afirmou Al-Masmari. De acordo com o norueguês Stig Jarle Hansen, especialista em Somália e Iêmen e autor de The borders of Islam (As fronteiras do islã), o Iêmen está pagando o preço por ter utilizado extremistas para fins políticos. ;Em outras palavras, a Al-Qaeda tem contatos dentro do establishment iemenita;, admitiu. Ele alerta que os Estados Unidos devem evitar atacar o país, já que os sentimentos antiamericanistas estão incrustados na sociedade local. ;O governo mantém a tradição de usar a Al-Qaeda para combater os rebeldes Houthis no norte;, acrescentou.

Por e-mail, o também jornalista Ahmed Al-Gorashi, ex-fotógrafo da rede de TV Al-Jazira e atual diretor da Seyaj (ONG que combate o recrutamento de crianças no Iêmen), disse concordar que a luta contra a Al-Qaeda deve ser multifacetada, jamais confinada à guerra armada. ;Um conflito com armamentos e aviação aumentaria a ira de muitos muçulmanos. Por sua vez, a Al-Qaeda apregoaria que os americanos estão ocupando um país islâmico e convocaria uma jihad (guerra santa) nos moldes da que ocorre no Paquistão e no Afeganistão;, explicou. Segundo Al-Gorashi, os Estados Unidos deveriam se focar mais no desenvolvimento das capacidades do Exército iemenita e no apoio aos esforços das instituições religiosas. ;É preciso focar nos adolescentes, por meio de programas culturais e educativos que os mantenham longe das ideias da Al-Qaeda;, opinou o repórter.

Diplomacia

Al-Gorashi acredita que o governo de Saleh precisa estabelecer relações amigáveis com os xeques tribais, seguindo o exemplo de Edmund Hall, ex-embaixador dos EUA no Iêmen e adverte: ;Os Estados Unidos entrarão em um túnel escuro se criarem uma nova frente de batalha no Iêmen;. Washington decidiu ontem reabrir sua embaixada em Sanaa, apesar de admitir que ;as ameaças de ataques terroristas contra alvos norte-americanos continuam importantes;. Por meio de um comunicado, a representação diplomática pediu aos americanos que permaneçam vigilantes e adotem medidas de segurança. A Embaixada do Reino Unido reintegrou seu pessoal, mas continua fechada ao público. A representação da França também não abriu suas portas.

Stig Jarle Hansen reconhece que o extremismo é um problema antigo no Iêmen. ;O país está no mesmo estágio que a Somália (1) se encontrava em 1989;, explicou. Para ele, uma aliança entre Sanaa e Riad, capital da Arábia Saudita, pode ser vantajosa para combater a AQAP. ;Os dois regimes compartilham de problemas similares, relacionados à segurança e às instituições policiais. Ambos deveriam se engajar em encontros com o Islah, o maior partido da oposição do Iêmen;, acrescentou.

O primeiro passo parece ter sido dado. Na segunda-feira, o reino saudita enviou ao país vizinho dois emissários, incluindo o príncipe Mohammed ben Nayef ben Abdel Aziz, chefe da luta antiterrorista. Eles teriam declarado que a segurança do Iêmen fazia parte da segurança da Arábia Saudita. Hoje, Sanaa sedia a partida de futebol entre a seleção local e a do Japão, válida pelas eliminatórias da Copa da Ásia 2011. Será um teste de peso para as autoridades iemenitas, que ergueram vários postos de controle da polícia na capital e empreenderam uma caçada aos militantes.

1 -
Ameaça vizinha
Na sexta-feira passada, o xeque Mukhtar Robow Abu Mansour, autoridade do grupo extremista somali Al-Shabab, prometeu enviar mujahedin (guerrilheiros islâmicos) ao Iêmen. ;Nós dizemos aos nossos irmãos muçulmanos no Iêmen que cruzaremos as águas entre nós e alcançaremos seu local para ajudá-los a combater os inimigos de Alá;, afirmou, referindo-se ao Golfo do Áden, durante cerimônia no norte de Mogadíscio, capital da Somália. No fim da década de 1980, o país enfrentou uma sangrenta guerra civil que derrubou o presidente Siad Barre. Em 1993, extremistas e soldados das forças de paz da ONU travaram uma batalha que matou 31 militares norte-americanos e 24 paquistaneses. O episódio foi reproduzido no filme Falcão negro em perigo (2001).

"Nós fortemente incentivamos os esforços do governo iemenita em extirpar os membros da Al-Qaeda da Península Arábica"
Robert Gibbs, porta-voz da Casa Branca

O número
10 mil - Total de soldados deslocados de Sanaa para as províncias de Shabwah, Abyan e Maarib, com o objetivo de combater a organização Al-Qaeda na Península Arábica (AQAP)

Críticas no Afeganistão


Os serviços de inteligência dos Estados Unidos têm uma relevância apenas ;marginal; na estratégia conjunta do país no Afeganistão. A informação foi revelada por um relatório assinado pelo major general Michael Flynn, funcionário graduado da inteligência para as forças internacionais. A divulgação do documento ocorre menos de uma semana após sete funcionários da Agência Central de Inteligência (CIA, pela sigla em inglês) terem sido mortos por um homem-bomba ; na verdade, um agente duplo jordaniano recrutado pelos serviços secretos de seu país e que também trabalhava para a rede Al-Qaeda.

;Os oficiais e analistas da inteligência americana podem fazer pouco, além de encolher os ombos em resposta aos pedidos por informações, análises e conhecimentos, feitos pelos tomadores de decisões e necessários para travar uma luta de sucesso contra a insurgência;, escreveu Flynn no texto de 26 páginas. O documento recomenda às autoridades dos EUA a impulsionarem as mudanças para ter o foco concentrado mais na comunidade de inteligência e no povo afegão, e menos no inimigo.

Jordaniano

A identidade do autor do atentado suicida contra a CIA, ocorrido em 30 de dezembro no Afeganistão, causou grande mal-estar em Amã. Segundo a rede de TV NBC News, Humam Khalil Abu Mulal Al-Balawi havia sido enviado ao Afeganistão com a missão de se encontrar com o egípcio Ayman Al-Zawahiri, número dois da Al-Qaeda. O contato de Al-Balawi foi o oitavo morto no ataque, um jordaniano identificado pela agência de notícias Petra como Ali bin Zeid, oficial dos serviços secretos da Jordânia. Al-Balawi teria ligado para o contato, na semana passada, para dizer que devia se encontrar com a equipe da CIA baseada em Khost (leste do Afeganistão), pois tinha informações urgentes sobre Al-Zawahiri. O terrorista teria sido enviado pelo próprio vice de Osama bin Laden para se explodir.

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