postado em 08/01/2010 07:01
Diante das câmeras que transmitiram seu discurso aos norte-americanos e a todo o mundo, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, chamou para si a responsabilidade diante do atentado frustrado do dia de Natal, que colocou a vida de centenas de pessoas em risco. "A responsabilidade termina em mim. Como presidente, eu tenho a solene responsabilidade de proteger nossa nação e nosso povo e, quando o sistema falha, é minha a responsabilidade", admitiu o mandatário. Em resposta às cobranças que vem sofrendo sobre sua tentativa de conversar com o mundo muçulmano, Obama assegurou que os EUA "estão em guerra contra a rede terrorista Al-Qaeda; e que fará o ;possível para derrotá-la". No entanto, ele lembrou que é preciso continuar o diálogo.[SAIBAMAIS]Segundo o presidente, os relatórios sobre o que ocorreu dentro do voo da Northwest Airlines, que saiu de Amsterdã com destino a Detroit no dia de Natal, ;agora estão completos;. Ficou a cargo do assessor para segurança interna e contraterrorismo (1), John Brennan, detalhar como o governo falhou em "ligar os pontos" anteriores à tentativa de atentado, e da secretária de Segurança Interna, Janet Napolitano, rever a segurança da aviação (2). Em seu discurso, Obama especificou os três principais pontos nos quais a inteligência americana falhou: ao não perceber que a organização Al-Qaeda na Península Arábica (AQAP), sediada no Iêmen, pretendia atacar os EUA; ao não integrar informações de forma a perceber que um ataque estava sendo planejado; e ao não incluir o nigeriano Omar Farouk Abdulmutallab na lista das pessoas proibidas de voar para o país.
O presidente reafirmou que a inteligência americana tinha todas as informações necessárias para impedir tal exposição a um atentado, mas que as agências falharam ao "conectar e entender" os dados em mãos. "Neste mundo em permanente mudança, a primeira linha de defesa dos EUA é uma inteligência oportuna e exata, que é compartilhada, integrada, analisada e colocada em prática de forma rápida e eficaz", declarou Obama. "Infelizmente, não foi isso que aconteceu;, completou.
Para tentar evitar que erros como o do último dia 25 ocorram novamente, o mandatário anunciou "quatro passos" para reformar o sistema de inteligência. Entre eles estão a atribuição de responsabilidades específicas para o acompanhamento da informação, um reforço da análise de dados, e uma distribuição mais rápida e ampla dos relatórios de inteligência. "Não podemos sentar sobre informações que podem proteger o povo americano", disse.
O governo americano também reforçará os critérios para adicionar nomes de supostos terroristas nas listas de proibição de voo (no-fly lists). "Devemos fazer o melhor que pudermos para manter pessoas perigosas longe dos aviões, enquanto ainda facilitamos as viagens aéreas", destacou. Ele garantiu que ampliará o uso dos polêmicos scanners corporais, e investirá US$ 1 bilhão na aquisição e desenvolvimento de equipamentos e sistemas de segurança. "Expandiremos o uso de sistemas de detecção, inclusive da tecnologia com imagens", anunciou.
Fragmentos
Após o pronunciamento de Obama, Brennan e Napolitano concederam uma coletiva de imprensa, na qual detalharam o que já havia sido falado no discurso de 12 minutos do presidente. Segundo Brennan, cada agência cooperou com a elaboração do relatório - um sinal de que "vários componentes da nossa inteligência tinham fragmentos de informação" sobre possíveis atentados contra os EUA. Já Napolitano afirmou que seu departamento está "avaliando o processo de como os nomes são inseridos na lista de proibição de voar" e construindo uma parceria com o Departamento de Energia para criar mecanismos de scanner que antecipem as novas maneiras que podem ser usadas pelos terroristas".
Horas antes do pronunciamento de Obama, a Casa Branca negou que o governo tinha detalhes sobre Abdulmutallab enquanto a aeronave estava no ar. A denúncia foi publicada pelo jornal Los Angeles Times na quarta-feira, com base em um relatório da segurança de fronteira. Segundo o documento, o nigeriano havia sido identificado no embarque, em Amsterdã, e seria interrogado assim que avião pousasse em Detroit. "Eles podiam ter tomado a decisão de não permitir que ele embarcasse no avião", disse um agente ao jornal. Um funcionário do governo rebateu: "Como afirmamos antes, havia uma ou outra informação sobre Abdulmutallab, em diversas áreas do sistema e antes mesmo de 25 de dezembro. Não houve uma nova informação durante o voo".
1 - Puxão de orelha
O diretor do Centro Nacional de Contraterrorismo, Michael Leiter, tem sido questionado por sair de férias no dia seguinte à tentativa de atentado em um voo da Northwest Airlines rumo a Detroit. Segundo o New York Daily News, Leiter - nomeado para o posto por George W. Bush em 2007 - não retornou ao trabalho até "alguns dias depois do Natal". O chefe de gabinete do Conselho, Denis McDonough, no entanto, defendeu o diretor, alegando que, após o incidente de 25 de dezembro, Leiter se envolveu em ;discussões regulares e constantes" com a presidência e outras autoridades responsáveis pelo caso. "Ele tirou seus seis dias de folga só depois de consultas explícitas à Casa Branca e ao diretor de inteligência nacional", afirmou McDonough.
2 - Tensão no ar
Dois episódios levaram o pânico a diferentes aeroportos dos Estados Unidos ontem. Na Flórida, um homem de 43 anos foi detido em um avião da Northwest Airlines que ia para Detroit, após gritar que queria "matar todos os judeus". O piloto da aeronave, que se preparava para decolar do aeroporto internacional de Miami, resolveu dar meia volta depois que Mansor Mohammad Asad, natural de Ohio (norte dos EUA), se descontrolou. A polícia deteve o passageiro, que deve ser indiciado por ameaça e resistência à prisão. Tanto a companhia como o destino eram os mesmos do nigeriano Umar Farouk Abdulmutallab, que tentou, sem sucesso, detonar um explosivo em um voo no dia de Natal. Em New Jersey, um beijo de adeus fez soar o alerta de segurança que fechou o aeroporto de Newark por horas e atrasou dezenas de voos. Segundo um jornal local, o homem - que não iria embarcar - passou sem revista para a área de segurança para se despedir da namorada.