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Suspeito de tentar explodir avião em Detroit se cala diante do juiz e diz compreender acusações

Especialista prevê cooperação com a Justiça

postado em 09/01/2010 09:00

Umar Farouk Abdulmutallab permaneceu praticamente mudo. Dessa vez, não era um silêncio ameaçador, típico de quem se prepara para uma missão suicida. Sob a orientação de seus advogados, o nigeriano de 23 anos confirmou sua identidade ao juiz Mark A. Randon e ouviu a leitura dos termos do indiciamento. O nigeriano que tentou explodir o voo 253 da Northwest Airlines, entre Amsterdã e Detroit, no último dia 25, estava com o cabelo raspado, vestia uma camiseta branca e calça bege e tinha as pernas acorrentadas em sua primeira audiência diante de uma corte federal, em Detroit (Michigan). Segundo o jornal The Detroit News, Abdulmutallab foi direto e quase monossilábico. O suspeito respondeu "Sim, senhor", quando questionado por Randon se compreendia os procedimentos e acusações contra ele. Também afirmou ter tomado analgésicos nas últimas 24 horas e assegurou que isso não afetava o discernimento do teor das acusações. Calado, ouviu a leitura do documento de sete páginas com detalhes sobre as seis acusações a ele imputadas (leia ao lado).

Miriam Siefer, advogada de defesa do governo federal, representou Abdulmutallab e avisou a Randon que seu cliente permaneceria mudo quando questionado sobre se considerava a si mesmo culpado ou inocente. Se for condenado, Abdulmutallab provavelmente enfrentará a prisão perpétua. Para tentar suavizar sua pena, o nigeriano terá de cooperar com as autoridades norte-americanas. A opinião é de Lawrence A. Dubin, professor de direito da University of Detroit Mercy. Por telefone, ele explicou ao Correio que, tecnicamente, o fato de Abdulmutallab se calar ante o tribunal não significa presunção de inocência. "Na verdade, com essa atitude, o réu transmite ao governo federal o ônus da prova de culpabilidade", disse.

De acordo com Dubin, a audiência de ontem foi apenas o primeiro procedimento judicial, em que o réu é avisado dos crimes aos quais terá de responder. "A corte procura se inteirar se o réu compreende o teor das acusações e, então, quando ele permanece mudo, o juiz entra automaticamente com a declaração de inocência", afirmou. O professor acredita ser prematuro analisar se o comportamento de Abdulmutallab poderá prejudicá-lo durante o julgamento. "O governo terá facilidade em comprovar os atos que ele cometeu dentro do Airbus A-330, pois havia muitas testemunhas e ele sofreu várias lesões, em decorrência de sua ação", prevê.

Colaboração
Dubin acha que Siefer buscará convencer o nigeriano a assumir a culpa perante o tribunal, para se ver livre do julgamento. "Abdulmutallab parece ter vindo de uma família muito responsável, que provavelmente o estimulará a colaborar com Washington", declarou. "Ao mesmo tempo, os advogados protegerão os direitos de seu cliente e o impedirão de falar às autoridades federais, a menos que receba algum tipo de benefício." Após a audiência, o suspeito de terrorismo retornou à prisão federal de Milan, no estado de Michigan. A própria advogada consentiu que Abdulmutallab ficasse detido até o julgamento.

Na saída do tribunal, Siefer disse ao The Detroit News que não chegou a manter diálogo com os advogados contratados pela família do nigeriano, filho de um conhecido banqueiro da cidade de Lagos. "Esperamos continuar a representá-lo. Não vou fazer comentários sobre o caso. Ainda é muito prematuro, e este é o primeiro passo de um longo processo", declarou.

Horas antes da audiência, a polícia isolou a rua próxima ao prédio federal e limitou o número de pessoas na corte a 80 testemunhas e repórteres. Segundo o jornal The Washington Post, três cães farejadores estavam postados na entrada, checando as pessoas. Do lado de fora, dezenas de muçulmanos aproveitaram para realizar um protesto contra o terrorismo. Eles carregavam faixas e cartazes com os dizeres "Não em nome do islã" e "O islã é contra o terrorismo".



; As provas do complô

Explosivo PETN
Pacote com o explosivo em pó tetranitrato de pentaeritritol (PETN). Muito instável e bastante sensível ao calor, explode sob a temperatura de 175 graus Celsius e possui um forte poder detonador. Pode ser usado sozinho ou misturado com combustíveis

Seringa
O nigeriano usou um líquido contido em uma seringa para misturá-lo com o pó e produzir fogo, ativando o triperóxido de triacetona (TATP), outro explosivo potente que tem a função de detonar o PETN. Por sorte, a ativação do TATP não funcionou

Roupas íntimas
O pacote com o explosivo PETN estava escondido na cueca de Abdulmutallab. Na parte da frente, o início de incêndio criou um buraco de cerca de 12cm de diâmetro. Um pequeno bolso de 15cm de comprimento foi costurado na peça para esconder os cerca de 80g de PETN

O indiciamento
Em 25 de dezembro de 2009, o réu Umar Farouk Abdulmutallab embarcou no voo 253, em Amsterdã (Holanda), carregando uma bomba escondida. A " consistia em um dispositivo contendo tetranitrato de pentaeritritol (também conhecido como PETN). A Bomba estava escondida dentro da roupa do réu. A Bomba foi desenhada para permitir que o réu Umar Farouk Abdulmutallab a detonasse na hora que escolhesse, e provocasse uma explosão a bordo do voo 253

Acusação 1
Tentativa de uso de arma de destruição em massa

Acusação 2
Tentativa de assassinato em aeronave sob jurisdição especial dos Estados Unidos

Acusação 3
Tentativa proposital de destruir e derrubar uma aeronave sob jurisdição especial dos Estados Unidos

Acusação 4
Colocação proposital de dispositivo destrutivo dentro, sobre e próximo a aeronave com jurisdição especial dos Estados Unidos

Acusação 5
Posse de arma de fogo/destrutiva, em crime de violência

Acusação 6
Posse de arma de fogo/destrutiva, em crime de violência

; Prisão em Nova York
Integrantes da Força Tarefa Conjunta de Terrorismo do FBI, a polícia federal norte-americana, prenderam ontem dois homens suspeitos de envolvimento em uma suposta tentativa de atentado planejado por um motorista de ônibus afegão, em 11 de setembro do ano passado, em Nova York. Segundo o FBI, Adis Medunjanin, de 25 anos, e Zarein Ahmedzay, de 24, teriam se associado a Najibullah Zazi, também de 24 anos, acusado de ter comprado produtos químicos para cometer o crime justamente na data do oitavo aniversário do ataque contra as torres do World Trade Center.

De acordo com a emissora de televisão NBC, Medunjanin e Ahmedzay estavam sob vigilância desde a prisão de Zazi, em setembro do ano passado. Motorista de ônibus em Denver (Colorado), Zazi teria admitido em interrogatório que recebeu treinamento de um grupo ligado à Al-Qaeda no Paquistão, mas se declarado inocente das acusações de conspiração. Ele foi indiciado por complô.

Zazi nasceu no Afeganistão, foi criado no Paquistão e viveu no Queens por 10 anos antes de se mudar para Denver, em janeiro do ano passado. Foi no Queens que ele conheceu Medunjanin e Ahmedzay. Os três estudaram juntos. Na quinta-feira, o passaporte de Medunjanin, imigrante bósnio, havia sido apreendido pelas autoridades.

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