postado em 09/01/2010 09:15
Quando chegou ao Brasil pela primeira vez, o diplomata americano Thomas A. Shannon tinha 30 anos e trazia na bagagem a experiência de pouco mais de quatro anos em postos não tão expressivos no exterior: Guatemala, Camarões, Gabão e São Tomé e Príncipe. Em sua passagem por Brasília, no entanto, Shannon travou contato com o país que marcaria de vez sua trajetória voltada para a América Latina. "O impacto que este país vibrante e ambicioso causou em mim nunca desvaneceu", afirmou o diplomata, diante de senadores americanos, em 8 de julho de 2009, após ser indicado por Barack Obama para ser o embaixador americano no Brasil.Aos 51 anos, Shannon retorna a Brasília, após ter representado seu país na Organização dos Estados Americanos (OEA) e exercido o cargo mais importante da diplomacia americana para o continente - o de subsecretário de Estado para o Hemisfério Ocidental. Ele desembarcou na manhã de ontem na capital, para apresentar as credenciais ao Ministério das Relações Exteriores. Na chegada, prometeu que começaria a trabalhar imediatamente para construir uma "parceria do século 21". "É um grande prazer para mim estar de volta aqui ao Brasil. É um país muito importante para nós", disse, ainda no aeroporto, em bom português - herança dos quatro anos de serviço em Brasília.
Entretanto, ele terá de aguardar a convocação do Planalto para apresentar oficialmente as credenciais ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A expectativa é de que isso ocorra apenas em fevereiro, estendendo um pouco mais a demora (que já passa de sete meses) desde a nomeação de Shannon, em maio passado. Recebido de última hora pelo ministro Celso Amorim, o diplomata americano ressaltou que a secretária de Estado, Hillary Clinton, aguarda a posse do novo embaixador para marcar sua vinda ao Brasil - possivelmente, em março. Já que não pode assumir as funções antes de ser recebido por Lula, Shannon retorna neste fim de semana aos EUA, aonde chega na segunda-feira o novo representante brasileiro (1).
Potência-chave
Mesmo antes de ter o nome anunciado por Obama, em maio de 2009, Shannon não conseguia esconder o entusiasmo com o possível retorno. Em fevereiro, ele afirmou ao Correio, em Washington, que seria uma "grande honra" representar novamente os EUA no país, desta vez na posição de embaixador. No dia de sua sabatina na Comissão de Relações Exteriores do Senado americano, o diplomata também não poupou elogios ao Brasil, que classificou como uma "potência regional chave" e um "ator internacional cada vez mais relevante". "Eu já percebi, no seu compromisso (do Brasil) com o multilateralismo e as organizações internacionais, a vocação para a liderança mundial que poderia torná-lo um parceiro dos EUA", disse, fazendo referência ao período em que trabalhou aqui, entre 1989 e 1992.
Hoje, Shannon vê o Brasil como um país com o qual os EUA têm uma "ampla e sofisticada gama de interesses em comum". "Esses interesses vão além das nossas fronteiras, incluindo o desenvolvimento social e econômico e a estabilidade democrática em todo o Hemisfério Ocidental", declarou o diplomata no Senado americano. A cooperação energética, um dos principais temas - principalmente do lado americano -, é vista com "enorme potencial" por Shannon. "Em 2007, o Brasil anunciou descobertas de petróleo na costa sudeste, o que pode transformá-lo em grande exportador. (;) Isso é importante para os mercados mundiais, pois poderia criar estabilidade, diversidade e uma importante fonte de energia fora do Oriente Médio e de zonas de conflito."
À parte as convergências de interesses e a empatia entre Obama e Lula, Shannon terá a difícil tarefa de aproximar o diálogo em questões nas quais os dois países divergem, como Honduras e as bases cedidas aos EUA na Colômbia. A seu favor, contarão o conhecimento da região, a alta performance como diplomata e a já tão declarada paixão pelo Brasil.
1 - Vieira em Washington
Se Thomas Shannon terá de esperar o encontro com Lula para entregar oficialmente as credenciais e iniciar as atividades em Brasília, o novo embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Mauro Vieira, assume o posto já na próxima segunda-feira, assim que chegar a Washington. Ele ocupará o cargo deixado por Antonio Patriota em outubro, quando foi nomeado secretário-geral do Itamaraty. Vieira saiu ontem da embaixada em Buenos Aires, onde o novo representante brasileiro, Enio Cordeiro, deve assumir também na segunda-feira. Na Embaixada dos EUA em Brasília, o posto está vago desde o fim de agosto, quando saiu Clifford Sobel.
; Sete meses de espera
Confira a trajetória da indicação e confirmação dos embaixadores nos dois lados:
O processo no lado americano
27 de maio
O presidente Obama indica oficialmente o então subsecretário de Estado Thomas Shannon para ser o novo embaixador no Brasil.
8 de julho
Shannon é sabatinado no Comitê de Relações Exteriores do Senado dos EUA. Perguntado sobre a possibilidade de remover as tarifas sobre o etanol brasileiro, o diplomata disse achar "benéfico" para os dois países. A resposta não agrada o senador republicano Chuck Grassley, de Iowa, estado produtor de milho (principal fonte do etanol americano), que vetou a confirmação de Shannon ao cargo.
30 de julho
Grassley resolve retirar sua objeção à nomeação de Shannon após receber uma carta do representante do Comércio, Ron Kirk, e da secretária de Estado, Hillary Clinton, assegurando a posição do governo de manter as tarifas sobre o etanol importado. O senador Jim DeMint (Carolina do Sul), contudo, segue com a sua alegação de impedimento a Shannon e Arturo Valenzuela, seu sucessor, como forma de contestar a política do governo americano para Honduras.
Fim de agosto
O embaixador Clifford Sobel devolve suas credenciais de 53; embaixador norte-americano no Brasil. Desde então, está à frente a embaixada a encarregada de negócios, Lisa Kubiske.
22 de outubro
Os líderes do Senado recebem uma carta de nove ex-subsecretários de Estado para o Hemisfério lembrando a urgência de confirmar os nomes de Shannon e Valenzuela.
6 de novembro
O Senado americano aprova a indicação do nome de Valenzuela para o cargo de subsecretário para o continente americano horas depois de DeMint suspender de seu veto. Shannon, no entanto, recebe uma nova objeção, desta vez do senador republicano da Flórida George LeMieux, que defende que ele não teria sido duro o suficiente em relação ao governo cubano, enquanto esteve no cargo de subsecretário.
17 de dezembro
LeMieux retira o veto a Shannon, alegando que a secretária de Estado, Hillary Clinton, assumiu "compromissos suficientes" de que as políticas dos Estados Unidos para a América Latina, em especial, Honduras e Cuba, enfocará em "metas e ideias democráticas".
24 de dezembro
O nome de Shannon é aprovado pelo Senado.
8 de janeiro
O diplomata chega a Brasília para se apresentar ao Itamaraty. Ainda resta apresentar oficialmente suas credenciais ao presidente Lula. Isso pode ocorrer em fevereiro.
O processo no lado brasileiro
Terceira semana de outubro
O embaixador em Washington, Antônio Patriota, deixa os Estados Unidos para assumir como secretário-geral do Itamaraty. Há especulações de que seu substituto será o atual embaixador em Buenos Aires, Mauro Vieira.
6 de novembro
O Executivo envia ao Senado o nome de Vieira para apreciação.
12 de novembro
Os senadores da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado aprovam, com 18 votos, a indicação de Mauro Vieira para o cargo. Já recebeu o agreement do governo americano.
8 de janeiro
Vieira deixa a embaixada de Buenos Aires rumo a Washington, onde deve assumir na próxima segunda-feira.