Agência France-Presse
postado em 09/01/2010 09:47
O agente duplo jordaniano Humam al Balawi afirmou que queria se vingar dos serviços de inteligência jordaniano e americano ao realizar o atentado que deixou oito mortos em uma base da CIA no Afeganistão no fim de dezembro, segundo um vídeo divulgado neste sábado pelo canal Al Jazeera.
Um membro da família do jordaniano, que não quis ser identificado, confirmou à AFP que efetivamente o homem que aparece no vídeo é Al-Balawi. "Diremos a nosso emir Baitullah Mehsud que jamais esqueceremos seu sangue. A nós corresponde vingá-lo nos Estados Unidos e fora dos Estados Unidos", declarou Balawi em seu vídeo-testamento.
"Não esqueceremos o que ele disse que o xeque Osama Bin Laden não se encontrava no Paquistão, mas, que se viesse, nós o protegeríamos. Ele cumpriu com sua palavra e pagou com sua vida", acrescentou Balawi, ainda se referindo a Baitullah Mehsud, líder talibã paquistanês morto pelos Estados Unidos.
"Essa é uma mensagem aos inimigos da nação (islâmica): os serviços de inteligência jordanianos e a CIA", declara um homem barbudo uniformizado apresentado pela Al-Jazeera como sendo Humam al-Balawi.
"Os combatentes de Deus jamais expõem sua religião à chantagem nem a renega mesmo que lhe ofereçam o Sol numa mão e a Lua na outra", acrescenta o homem no que aparentemente é uma alusão a sua condição de agente duplo.
No vídeo póstumo, Al-Balawi, que exibe uma arma e está sentado sob uma bandeira negra com a inscrição da profissão de fé dos muçulmano, aparece ao lado de um homem que, como ele, usa um chapéu afegã. Trata-se do novo chefe dos talibãs no Paquistão, Hakimullah Mehsud, que substituiu Baitullah Mehsud, indicou o centro de vigilância de site islamitas IntelCenter.
O vídeo foi feito pelo Movimento dos Talibãs do Paquistão (TTP), a principal força dos talibãs paquistaneses que pertence à Al-Qaeda, indicou ainda o IntelCenter. Segundo um comunicado da Al-Qaeda esta semana, o atentado executado por um espião infiltrado que matou sete membros da CIA e um oficial da inteligência jordaniano no Afeganistão foi uma vingança pelas vítimas dos aviões sem piloto americanos no Paquistão.
Al Balawi se explodiu em 30 de dezembro em uma base da CIA em Khost (leste), no ataque mais violento contra os serviços de inteligência americanos desde 1983. Balawi era um agente duplo que, além de trabalhar para a CIA como membro dos serviços secretos jordanianos, também pertencia à rede Al-Qaeda. Balawi era considerado pela inteligência americana uma das melhores fontes sobre a Al-Qaeda, segundo o jornal New York Times, que ouviu funcionários da CIA.
Segundo o diário, ele possuía informações vitais sobre os altos comandos da Al-Qaeda, inclusive sobre onde estaria Ayman al-Zawahiri, o número dois da rede. "Era um dos elementos mais promissores da agência", declarou um alto funcionário da inteligência americana ao jornal, que pediu para não ter o nome revelado.
Em seu testamento, o agente duplo afirma que o atentado suicida vingava os "mártires" da causa, entre eles uma série de combatentes talibãs mortos em ataques de mísseis lançados por aviões sem piloto americanos.
Entre as vítimas dos ataques, figura o líder talibã paquistanês Baitullah Mehsud, acusado de uma onda de atentados. O principal deles matou a primeira-ministra paquistanesa Benazir Bhutto, em dezembro de 2007. Baitullah Mehsud morreu em um ataque de míssil em agosto de 2009.
Outro chefe talibã, Abu Saleh al Somali, considerado membro do quartel-general da Al-Qaeda e suspeito de ser responsável por atentados na Europa e nos Estados Unidos, morreu em outro ataque cometido em dezembro, no Waziristão do Norte, uma zona tribal instável e na fronteira com o Afeganistão.
Os americanos intensificaram recentemente os bombardeios contra o Waziristão do Norte e pressionam cada vez mais para que o Paquistão acabe com os grupos armados que ameaçam as tropas americanas e as da Aliança Atlântica (Otan) no Afeganistão.
Aviões não tripulados Predator são utilizados para obter informações e executar ataques contra militantes talibãs e da Al-Qaeda nas regiões de fronteira entre Afeganistão e Paquistão, onde se encontram as bases dos líderes destes grupos.