Agência France-Presse
postado em 10/01/2010 14:09
DUBAI - As dificuldades econômicas do Iêmen criam um ambiente favorável ao extremismo, o separatismo no sul e a rebelião xiita no norte, avaliaram analistas.O desabamento da economia de um dos países mais pobres do mundo foi agravado pela queda dos preços do petróleo, que representa 70% dos recursos do Estado, por uma corrupção em grande escala e por fortes desigualdades sociais, afirmaram. "A deterioração econômica é a principal causa dos recentes acontecimentos no Iêmen, inclusive do crescimento da Al-Qaeda", declarou à AFP Mohammad al-Maithami, professor na Universidade de Sanaa.
Na opinião de Maithami, "o terrorismo e o extremismo" estão crescendo no Iêmen, onde a Al-Qaeda vem tendo sucesso no recrutamento de "desempregados jovens e pobres".
Com níveis de pobreza e desemprego elevados num país onde "65% dos jovens não têm trabalho, os grupos extremistas se aproveitam da situação dando dinheiro aos mais necessitados", destacou.
De acordo com estatísticas oficiais, a taxa de desemprego chega a 34%, e a renda per capita é uma das mais baixas do mundo com pouco mais de 1.000 dólares, contra 70.000 dólares no Qatar e 40.000 no Kuwait.
Mais de 45% dos 24 milhões de habitantes vivem abaixo da linha de pobreza, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do governo iemenita.
"O desabamento econômico contribui ao fortalecimento da Al-Qaeda e dos movimentos rebeldes. A corrupção é outro fator que desestimula a ajuda e os investimentos internacionais", observou o analista saudita Anwar Eshki.
[SAIBAMAIS]"A injustiça e as guerras tribais também favorecem a consolidação da Al-Qaeda no Iêmen, num momento em que a rede terrorista está sob pressão no Afeganistão e no Paquistão", acrescentou Eshki, chefe do Centro do Oriente Médio para os Estudos Estratégicos.
Para Ali Mohammad al-Anissi, presidente do conselho de segurança nacional e chefe de gabinete do presidente do Iêmen, Ali Abdallah Saleh, o declínio das receitas petrolíferas "teve um impacto em todos os aspectos da vida econômica e financeira e da segurança". "Isso cria um ambiente favorável ao desenvolvimento das ideias extremistas e ao aumento dos atos criminosos e terroristas", considerou.
A produção de petróleo do Iêmen despencou, passando de 500.000 a menos de 300.000 barris por dia entre 2000 e 2009.
As reservas de bruto podem acabar dentro de 10 ou 12 anos se não forem descobertos novos campos de exploração, advertiu recentemente o FMI, destacando que as exportações de gás natural líquido iniciadas no ano passado, que devem permitir arrecadar entre 30 e 40 bilhões de dólares em 25 anos, não serão suficientes para compensar a queda dos recursos petrolíferos.
Além disso, o país, que tem uma dívida externa de seis bilhões de dólares, enfrenta atualmente uma inflação de 10% e déficits orçamentários crônicos, apesar das reformas promovidas pelo governo.
Estima-se que o déficit atual do Iêmen seja equivalente a 7% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, que é de 28 bilhões de dólares.
Em um país onde metade da população tem menos de 15 anos e onde 50% (70% das mulheres) são analfabetos, fundos são enviados à Al-Qaeda do exterior para atrair novos recrutas, segundo Maithami.
Para o analista Anwar Eshki, a Al-Qaeda na Península Arábica, radicada no Iêmen, pode se tornar "mais perigosa do que a Al-Qaeda no Afeganistão, devido à proximidade dos recursos petrolíferos e das vias marítimas no Golfo".