Agência France-Presse
postado em 14/01/2010 10:44
PORTO PRÍNCIPE - Eles perderam suas casas e uma parte de amigos e parentes em menos de um minuto e agora vagam pelo centro de Porto Príncipe, que virou um grande campo de refugiados, onde milhares de flagelados gritam ao mundo pedindo água, comida e medicamentos.
"O Haiti voltou a ser hoje um povo que não conhece os finais felizes", lamenta Milien Roudy, deitado num jardim destruído, e acompanhado de sua esposa e duas filhas, que não comem há 24 horas.
Milhares de pessoas sem teto se reuniram na noite de terça-feira na conhecia avenida dos Campos de Marte de Porto Príncipe, cujas praças e jardins se viram inundadas por uma enxurrada de famílias à espera de ajuda. Sujos, feridos e desesperados, os haitianos improvisaram toldos com pedaços de tecido coloridos para se proteger e olham insistentemente para o céu à espera de aviões que venham socorrê-los e ajudá-los a começar do zero.
Unidos pela desgraça, contam suas histórias que, no fundo, é apenas uma: a casa se afundou debaixo de seus pés, uma parte da família se salvou por milagre e alguns de seus entes queridos, não. Assim o tempo parece passar mais rápido.
"Se a comunidade internacional quiser ajudar o Haiti realmente, deveria nos dar dinheiro diretamente e não ao governo", afirma James, que tenta organizar um acampamento familiar de quase 50 pessoas, e sofre a falta da irmã de 6 anos, sepultada ainda nos escombros de sua casa. Com a ajuda de seus irmãos, este jovem estudante de 21 anos saqueou um supermercado para conseguir arroz e água e está racionando as porções com muito cuidado, ante o olhar desesperado de outras famílias, que, pela segunda noite consecutiva, não terão o que comer.
"Em mais de 24 horas, ninguém, nem a ONU, nem nenhuma autoridade veio nos dar um copo de água", protesta o funcionário público Clement.
A avenida tem um cheiro insuportável de pó e urina e, com as horas e o forte calor, a situação só piora. Algumas pessoas estão bebendo água poluída das fontes públicas.
"Temos um grande peso na alma. Não sabemos o que dizer a nossos filhos", explica Marie Denise, mãe de quatro crianças. "Estamos com medo de dormir nas casas semidestruídas. Se começar a chover, isso será terrível. Não temos onde nos refugiar", afirma Clarisse, enfermeira de 30 anos.
A comunidade internacional começou a ajudar o Haiti e os primeiros aviões com equipes de resgate, alimentos e medicamentos chegaram nesta quarta a Porto Príncipe.
Milhares de pessoas ainda estão sob os escombro, que bloqueiam inúmeras ruas do centro da cidade. "Não temos um Estado para nos ajudar", repete Laurent, um universitário de 22 anos, apontando na direção do Palácio Nacional e das sedes dos ministérios, todos eles desabados pelo terremoto.
Sentados em cadeiras resgatadas das ruínas de uma casa, um grupo de idosos sequer tem ânimo para conversar e mantém o olhar perdido na multidão, que cresce conforme passam as horas. "Quando se vê tantas crianças mortas, a gente pensa que o destino se equivocou muito. Era a nossa vez", comenta, por fim, Fortune Mynusse, de 75 anos.