Agência France-Presse
postado em 15/01/2010 12:30
ANCARA - Depois de 30 anos atrás das grades, Mehmet Ali Agca, o turco que tentou matar o Papa João Paulo II em maio de 1981, deixará a prisão de Ancara na próxima segunda-feira com projetos ambiciosos de escrever um livro e fazer um filme sobre os fatos. Mas, antes, pretende sair de férias, segundo informou seu advogado.
"Ele ficará por dois dias em um hotel de Ancara e depois vai descansar durante duas semanas em um lugar de veraneio", informou em um comunicado o advogado Achi Ali Ozhan.
Agca, de 52 anos, talvez diga algumas palavras de agradecimento quando deixar a prisão, mas fora isso, não deverá conceder uma entrevista coletiva à imprensa, por estar negociando com editoras e produtoras de cinema a divulgação de suas memórias. Agca recebeu mais de 50 ofertas para livros, filmes e documentários e as negociações estão em andamento, disse Ozhan.
Segundo Ozhan, Agca também pretende viajar para a Cidade do Vaticano para prestar reverência ao túmulo do papa João Paulo II, falecido em 2005, e se reunir com o papa Bento XVI. Até o momento, não foi estabelecida uma data para a visita ao Estado pontificial.
Mehmet Ali Agca foi preso na Turquia depois de sua extradição da Itália em 2000 por vários crimes que havia cometido antes de tentar assassinar o Papa João Paulo II, em 13 de maio de 1981, na Praça São Pedro, no Vaticano. Na ocasião, o Papa ficou gravemente ferido.
As motivações do ataque e a identidade daqueles que estariam por trás de Agca continuam sendo um mistério. Longe de convencer, suas contraditórias explicações sobre o atentado alimentaram inúmeras teorias de complô. A pista de participação dos serviços secretos búlgaros e soviéticos foi constantemente evocada. Imediatamente depois de ser preso, Agca afirmou ter agido sozinho. Mas a polícia acha que ele recebeu alguma ajuda externa, principalmente financeira.
O papa João Paulo II, que se reuniu com Agca em sua cela em 1983, o havia perdoado antes de o turco ser indultado pelo presidente italiano.
Na Turquia, o ex-militante de extrema direita foi condenado pelo assassinato de um conhecido jornalista turco, Abdi Ipekci, e por dois assaltos praticados nos anos setenta. Durante sua estada na prisão por quase três décadas, Agca fez declarações surpreendentes, inclusive sem o menor sentido, o que levou a muitos questionamentos sobre seu estado de saúde mental.
Entre as várias coisas que andou dizendo, Agca afirmou ser o "Messias esperado pelos cristãos, judeus e muçulmanos" e que queria adotar a nacionalidade polonesa do Papa que quis matar. Numa carta divulgada esta semana, ele pede a fundação de "novo império norte-americano, que deve virar o centro da paz, da democracia e das liberdades internacionais".